Sobre como um bom conteúdo é digerido no texto sofrível do jornalismo contemporâneo

Honestamente, acho um absurdo tratar a moda com tanto desprezo no que tange a escolha do jornalista para assinar colunas e artigos. A sensação que tenho é que uma boa dose de cultura geral importa muito pouco na seleção deste profissional e o estereótipo da criatura vazia e/ou "jabazeira" não muda. Se no Brasil há dois ou três jornalistas de moda que eu respeite de fato da chamada "nova geração" é muito.

Minha indignação parte da incompreensão (não da crítica, porque essa capacidade é rara mesmo) de quem geralmente cobre os desfiles do Ronaldo Fraga. Seu Rio São Francisco fica atravessado na garganta após o desfile e nem os canudinhos da viseira nos ajudam a bêbe-lo com tanta facilidade e rapidez. O que está na passarela é muito mais do que a roupa. Há uma sofisticação absurda, um discurso político, uma pesquisa histórica. Aí eu entro na internet e deparo com um textinho assim:

"As travessas de metal cheias de sal grosso espalhadas pelo chão e cordas penduradas na boca de cena da passarela foram o cenário usado por Ronaldo Fraga para ambientar sua coleção inspirada no Rio São Francisco, apresentada neste sábado (21). Do tema vieram as estampas de peixes, as de madeira (alusão aos barcos e casas à beira do rio), o movimento de algumas peças. De Ronaldo Fraga, vêm as roupas sempre enfeitadas, bordadas, cheias de enfeites, ao seu estilo barroco mineiro fashion de fazer moda."

Primeiro: Eram bacias, não travessas
Segundo: Ninguém mais lê o que escreve antes de publicar? O que quer dizer: "sempre enfeitadas, bordadas e cheias de enfeites"?
Terceiro: Estilo barroco mineiro fashion de fazer moda? Preciso ser deselegante o suficiente para dar meu parecer sobre esse rótulo?

Por essas e por outras, passo mais da metade do meu dia fazendo planos de abandonar o jornalismo para todo o sempre.

Que neste momento, pelo menos uma imagem de um desfile maravilhoso fale por si só.

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