Uma busca

Não era o que queria ser quando crescesse.
Não foi o que desejou quando partiu.
E agora dobra quereres e desejos como se fossem origamis.
Nada de apartamento com varanda, amor tranquilo ou viagem a Londres.
Quer simplesmente sofisticar.

Meia hora na festa, poucas palavras, duas taças no máximo, bom dia, boa tarde, boa noite, muito obrigada.
Quer sorrir e agradecer quando surgirem as inúmeras fórmulas dadas pelos outros sobre como conduzir sua própria vida.
Espera de fato respirar - contando até 5.912 - sem que isso pareça um exercício árduo.
Trocará as horas lendo besteiras na internet por livros, e-mails por cartas, redes sociais por encontros com amigos de verdade, o passeio no shopping pelo parque, o seriado pelo cinema, a ansiedade por uma xícara de chá.
Voltará a cozinhar, a plantar os próprios temperos.
Retomará as aulas de inglês e espanhol.
Quem sabe até pinte quadros novamente?

Terá disciplina para alongar-se e correr.
Seguirá a dieta.
Dormirá mais, a ponto de, um dia, fazer a sesta.
Não dará bois ou boiadas por meia briga.
Nem emitirá opiniões que não sejam deliberadamente solicitadas.
Não cairá em conversas fiadas ou promessas furadas.
Passará longe de sujeitos descuidados, indecisos, bobocas e cretinos.
Evitará qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido.

Sofisticar é simples.
O simples é que é extremamente complexo.

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