Relações de trabalho.
De Rosana Hermann.
O primeiro problema do trabalho é o salário. Salário você sabe, é a compensação em dinheiro que você recebe pelos serviços prestados no final do mês. Deveria ser tratado como o reto, cada um cuidando do seu. Mas os funcionários devem se sentir mais como os cachorros e por isso, um fica metendo o focinho no do outro. Já ganhei muito, pouco, nada e sempre fui a mesma pessoa. No momento estacionei no pouco e de vez em quando tenho saudades do muito. Mas nunca me incomodei com o salário de ninguém. Salário não mede quanto a pessoa vale como ser humano. É só um valor de mercado em um determinado local e momento. E ponto. Ficar revoltado com o quanto o outro ganha é perda de tempo e um caminho seguro para a insanidade.
O segundo problema do trabalho é o mundo que extrapola o trabalho em si, ou seja, todas as relações com os outros, superiores, inferiores e parceiros. Demora para aprender que muitas vezes não é nada pessoal, embora pareça. Pode ser que alguém tente puxar seu tapete, derrubar seu castelinho de cartas, molhar o seu pãozinho quente. Mas não é porque você é você, é porque é você que está ali ocupando aquele lugar. Ou porque você, além de ser você, tornou-se uma pedra no caminho de algum ambicioso que precisa atropelar você no caminho para sua escalada a lugar nenhum.
E tem o terceiro problema, o mais sério, o que extrapola o mundo material, que vai além do dinheiro e da ambição pelo poder. É o mundo dos afetos e dos sentimentos. As pessoas querem ser importantes. Querem ser amadas. Disputam não só um cargo mais alto na hierarquia do organograma, elas querem um lugar dentro do coração do chefe, do líder. Querem que suas idéias prevaleçam. Ela, não, nós porque certamente você também quer ou já quis isso, assim como eu. E é aí, nesta disputa subliminar que a coisa degringola. Porque nos jogos oficiais, as regras são claras e nesses joguinhos interpessoais as regras não apenas são obscuras como flutuantes.
Diante das panelinhas que se formam, das traições, dos conluios, todos nós ficamos ao mesmo tempo frágeis e paranóicos. Levamos as desconfianças para a mesa, os medos para casa e dormimos com os planos de contra-ataque.
E, pra ajudar, ainda tem as festinhas, os encontros, as viagens e... ah! Toda a comunicação paralela do mundo online. Funcionários e ex-funcionários em comunidades do Orkut, as perigosas conversas paralelas no msn que ficam nos históricos que esquecemos de apagar ou desabilitar.
Que bom seria se tudo fosse às claras. Se o ser humano gostasse da luz. Se aceitasse dizer e ouvir a verdade. Se pudesse revelar suas intenções. Que bom seria se ninguém tivesse vergonha de sentir o que sente e desejar o que deseja. Se houvesse espaço para que assumíssemos tudo sem sermos massacrados. Que bom seria se assim fosse. Se fosse. Que bom. Seria.
De Rosana Hermann.
O primeiro problema do trabalho é o salário. Salário você sabe, é a compensação em dinheiro que você recebe pelos serviços prestados no final do mês. Deveria ser tratado como o reto, cada um cuidando do seu. Mas os funcionários devem se sentir mais como os cachorros e por isso, um fica metendo o focinho no do outro. Já ganhei muito, pouco, nada e sempre fui a mesma pessoa. No momento estacionei no pouco e de vez em quando tenho saudades do muito. Mas nunca me incomodei com o salário de ninguém. Salário não mede quanto a pessoa vale como ser humano. É só um valor de mercado em um determinado local e momento. E ponto. Ficar revoltado com o quanto o outro ganha é perda de tempo e um caminho seguro para a insanidade.
O segundo problema do trabalho é o mundo que extrapola o trabalho em si, ou seja, todas as relações com os outros, superiores, inferiores e parceiros. Demora para aprender que muitas vezes não é nada pessoal, embora pareça. Pode ser que alguém tente puxar seu tapete, derrubar seu castelinho de cartas, molhar o seu pãozinho quente. Mas não é porque você é você, é porque é você que está ali ocupando aquele lugar. Ou porque você, além de ser você, tornou-se uma pedra no caminho de algum ambicioso que precisa atropelar você no caminho para sua escalada a lugar nenhum.
E tem o terceiro problema, o mais sério, o que extrapola o mundo material, que vai além do dinheiro e da ambição pelo poder. É o mundo dos afetos e dos sentimentos. As pessoas querem ser importantes. Querem ser amadas. Disputam não só um cargo mais alto na hierarquia do organograma, elas querem um lugar dentro do coração do chefe, do líder. Querem que suas idéias prevaleçam. Ela, não, nós porque certamente você também quer ou já quis isso, assim como eu. E é aí, nesta disputa subliminar que a coisa degringola. Porque nos jogos oficiais, as regras são claras e nesses joguinhos interpessoais as regras não apenas são obscuras como flutuantes.
Diante das panelinhas que se formam, das traições, dos conluios, todos nós ficamos ao mesmo tempo frágeis e paranóicos. Levamos as desconfianças para a mesa, os medos para casa e dormimos com os planos de contra-ataque.
E, pra ajudar, ainda tem as festinhas, os encontros, as viagens e... ah! Toda a comunicação paralela do mundo online. Funcionários e ex-funcionários em comunidades do Orkut, as perigosas conversas paralelas no msn que ficam nos históricos que esquecemos de apagar ou desabilitar.
Que bom seria se tudo fosse às claras. Se o ser humano gostasse da luz. Se aceitasse dizer e ouvir a verdade. Se pudesse revelar suas intenções. Que bom seria se ninguém tivesse vergonha de sentir o que sente e desejar o que deseja. Se houvesse espaço para que assumíssemos tudo sem sermos massacrados. Que bom seria se assim fosse. Se fosse. Que bom. Seria.
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