De que servem os diários, em forma de cadernos de capa dura ou virtuais, senão para fazer um desabafo? Eles são também a possibilidade de olhar para trás: constatar que os dias tristes passaram ou que os mais felizes não cabem na atual realidade. Pois no ano passado, me abstive de contar o que foi o "13 de setembro". Em 2004, fui bastante detalhista. Eu trabalhava, sem deixar de me divertir, e esperava com ansiedade para ver o Lecuona do Grupo Corpo. Nos arquivos encontrei Eugénio de Andrade, poeta português e escolhi versos diferentes dessa vez.

Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.

Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.


No dia 13 de setembro de 2006, acordei tarde porque não dormi direito à noite. Consegui, pela primeira vez, cortar as unhas do meu gatinho. Vim para o trabalho, sem trilha sonora, porque não peguei nenhum CD e a pilha do MP3 Player acabou na perua que interliga o metrô Vila Madalena ao Barra Funda. Como não tivesse um livro salvador nas mãos, fui obrigada a ouvir a entrevista do Ovelha numa rádio popular, escolhida a dedo pelo motorista barrigudo. Corri para colocar minhas matérias na página, tive uma reunião desmarcada e decidi, em vão, concentrar-me na resolução de algumas pendências. Tentei aproveitar o fato de estar em frente à tela do computador, já que não tenho um. Pouco adiantou. Minha mente cansada briga comigo diariamente. Não extraio nada de útil dela há um bom tempo. Uma hora a inspiração tem que aparecer. Eu queria, sinceramente, tomar os remedinhos que outrora me deixaram tão disposta, levantar cedo e fazer ginástica. Não depende muito do meu querer, evidentemente. É mais uma vez o tal "poder". Ganhar dinheiro honestamente podia ser tão mais fácil!

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