O homem que amava as mulheres

Existem paixões que são impossíveis de se resistir. O garoto vê a mulher e diz que voltará para ficar com ela. Ao ouvir a inevitável constatação de que estaria, ainda assim, jovem demais, não há desitência. Ele procurará sempre alguém daquele jeito, com as curvas e o sorriso. Esse garoto cresceu e virou um tipo que parece não existir. Talvez porque tenha sido único. Não falo do tal "princípe encantado" no qual fomos ancestralmente ensinadas a acreditar e querer para si. Esse moço, se um dia foi algo além de personagem de contos de fada, é bem monótono.

Narigudo, com orelhas de abano, fumante inveterado, Serge Gainsbourg teve as mulheres que queria. Se estivesse por aqui, essa regra não viraria exceção. Afinal, o que o tornava apaixonável é mais do que meramente o fato de ele desejá-las ou admirá-las. Ele as transformava em musas. Depois de ouvir o pedido da amante sobre escrever uma música especialmente para ela, Serge não dormiu até compor a escandalosa "Je T'Aime...Moi Non Plus" que viria gravar posteriormente com a esposa, não menos linda, não menos diva, não menos dele. Um tanto vaidoso, um tanto louco e totalmente genial. Por que mesmo os rapazes não aprendem certas lições com Serge Gainsbourg? Serão as manhãs vazias, após madrugadas com pares que não tem a intenção de se repetir uma maldição geracional? Não podemos ser como Serge e Brigitte cantando Bonnie and Clyde? Não podemos vagar de mãos dadas pelas ruas Paris como fez a Jane Birkin?

Injusto esse mundo em que não se pode vislumar uma sombra de Gainsbourg. O que conforta é saber que pode ser que não se esteja procurando direito, uma vez que existe uma inscrição na parede da casa no número 5 da Rue de Verneuil com a seguinte pista: “Serge não morreu. Ele está no céu, trepando”.

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