Apaixone-se

Muitas pessoas maldizem a paixão. Como se fosse ela um fogo de palha, uma bobagenzinha, uma mera preparação para o tal amor. E quando essa última palavra surge em tom solene, meu amigo, minha amiga, parece não existir argumento. Vem um ar de superioridade que chega a ser irritante.

O amor, aquele tão legítimo quanto as havaianas, é uma coisa linda e sublime. Eu acredito no amor que sinto em escalas que vão do incondicional (da família) ao desprendido e sem cobranças (dos amigos caros), passando por aquele dos poucos, por assim dizer, "eleitos" que a gente vai ter vida afora.

Mas para mim paixão é fundamental como água. Sou uma pessoa que precisa dela pura e simplesmente. Quando comecei a escrever esse post, foi extamente por conta de uma canção pela qual, num delírio insone, acabei de me apaixonar. Perdidamente. Sou capaz de colocar no repeat incontáveis vezes.

Música foi minha primeira paixão, ao menos na minha memória. Então, veio o cinema e, finalmente, quando aprendi a ler e escrever, ler e escrever viraram paixões. Cozinhar é paixão. Até o jornalismo é paixão.

Sou apaixonada por passar horas a fio dançando, ainda que eu seja um fiasco tecnicamente falando. Tenho paixão pelo outono, pelas cores do céu ao amanhecer, por viajar sem destino, pelas tardes de sábado, por me reinventar. Tenho até uma paixãozinha por mim mesma...

Eu sei que ela, a paixão, não é joio. Ela é combustível. Ela me faz levantar todos os dias e fazer coisas no automático (essas sim o contrário, mesmo que necessário) para que eu possa, em algum momento, bebê-la. E confesso: adoro me embriagar das minhas paixões.

E que mal há nisso? Domingo, consegui poucas horas de folga e corri para a Livraria Cultura. Fiquei como Joãozinho e Maria na Casa da Bruxa. Levei o novo livro da Inês Pedrosa, cuja escrita me nocauteou quando li, marquei e transformei o "Fazes-me Falta" em publicação para ilha deserta.

Desci a Brigadeiro cantarolando, como se tivesse ganhado um beijo muito esperado (e eu também sou apaixonada por beijos bem dados). O que para os passantes poderia soar como a moça com a sacola de livros se comportando estranhamente é, para mim, paixão. Como quando, ao invés de ficar estressada porque meu voo São Paulo-BH iria atrasar muito (e eu nem tomei café = paixão), saquei o i-pod, fechei os olhos na sala de embarque e, quando os abri, notei que tinha gente rindo de mim e para mim...

Apaixonados são meio desparafusados, fazem coisas assim sem motivo aparente. Eu mesma não ganhei na loteria, não comprei a casa própria, não fui promovida e nem iniciei um romance. Mas se eu ficar sentada à beira do caminho só na espera do que for grandioso nessa minha passagem, vou perder de vista tatus-bolinha, por exemplo. Não os vejo faz tempo. O que me lembra que tenho que passear mais por jardins.

Ah, e a música pela qual me apaixonei na madrugada de segunda para terça foi essa aqui.

Comentários

  1. ganhou mais um seguidor, embriagando-se na paixão alheia
    ;)

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  2. Lindo e verdadeiro! :)

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  3. Leo e Viviane, muito obrigada pelo carinho. Beijos!

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  4. Ludmila, vc tem que colocar estes textos/crônicas/posts num livro. Você é d++ ! Parabéns, parabéns !! bjs

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  5. Você é muito gentil Fernanda...vontade não falta! Obrigada! Beijos

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  6. Ganhou outra seguidora. Adoro vc, assim deste seu jeito apaixonado pelas coisas grandes e pequenas. Como por Tatús-bolinhas, que te confesso, fazia coleçao, dentro de uma xícara, no jardim de casa. De tatu-bola e Joaninha. Ai, Lud. Delicioso o texto e a música.
    Obrigada, beijos de boa noite.

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  7. Me identifiquei demaisss! Parece que você desvendou meus sentimentos e resumiu em palavras. Lindo!!!

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  8. Que lindezas Cintia e Dora! Fico emocionada com tanto carinho sabia? Beijos!

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