Outonando

No outono estão os dias mais lindos que existem. Dias de sair de casa, sem medo de derreter. Dias de ficar em casa, debaixo das cobertas, vendo um filme bem bobo na TV. São finais de tarde avermelhados, ventos da mudança. Folhas e sementes secos espalhadas pelo chão são, para mim, uma delicadeza celestial: estão ali para que eu volte à infância e dispute com minha mãe quem faz mais crec crec crec...

Outono tem cheiro de bolo de maçã com canela e roupa de cama bem passada. Outono tem um pé na realidade e outro no sonho porque o verão já se foi com suas noites Shakespeareanas e ainda há o inverno para embalar e a primavera para florescer. No outono eu nasci e nele minha vida recomeça. São micro-ciclos em que posso ficar exultante ou no casulo assim, sem legenda.

"Estação Liberdade", como na voz metálica gravada no metrô de São Paulo. Me perco, me acho como fiz em tantos domingos errantes de cinco anos atrás. É que devo permitir que aquilo que jaz em minha árvore balance, desapareça. Um processo às vezes de desapego, às vezes de desassossego. Estou "outonando" na teoria faz quatro dias. Hoje tomei a poção para acompanhar a dança das folhagens.

Comentários

  1. Anônimo8:21 PM

    Adorei o texto, e concorando, outono é maravilhoso. As folhas, a paz, a signifcação da renovação, é tudo muito bom.

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  2. Muito obrigada pela visita. E que bom saber que há mais gente "outonando"... Abraço

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