A verdadeira Vida Simples

Eu já fui leitora assídua de muitas revistas. Na pré-adolescência devorava Capricho, depois veio a fase Bizz. Antes mesmo da morte da publicação, ela já não me interessava por uma série de motivos que não convém enumerar. Fui assinante da Elle por um ano e, em seguida, da TPM. Cheguei a ensaiar a compra de edições seguidas da Bravo e os primeiros números da Rolling Stone. Gosto de revista, eventualmente até colaboro para algumas (menos do que eu gostaria, entretanto é outro ponto que não vem ao caso).

Atualmente, tenho lido - e cogitado assinar - a Vida Simples. Porque descomplicar é o verbo da vez para mim. Não preciso fazer um teste para saber se "ele gosta mesmo de mim"; a crítica ferrenha de qualquer jornalista musical sobre alguma banda que eu goste, não me atinge nenhum pouco; tenho meu próprio estilo; não vejo necessidade de apoiar campanhas do tipo "boicote a chapinha"; faço meu próprio roteiro cultural e baixo minhas músicas com indicação de amigos.

Em tempos de pressão extrema no ambiente de trabalho, correria no dia a dia, frustração com certas escolhas profissionais, dá um certo alívio saber que isso não é "pessoal" e a Vida Simples acompanha, digamos, essas mazelas sem dramatizar como muitas outras revistas costumam fazer...

Mas o que eu queria dizer com esse post é que mesmo tendo uma bagagem meio hippie, por conta dos vários acampamentos que fiz com meus pais, ir para lugares mais tranquilos em feriado nunca foi uma opção (e acredito que eu não seja influenciável nem mesmo por uma revista bacana). Dessa vez foi diferente: eu quis ir para um lugar mais distante e calmo. Escolhemos Diamantina porque é charmosa, sem a pretensão de Tiradentes, preservada ao contrário de Ouro Preto. Ideal para curtir o frio (que eu amo), passeios diferentes, exageros à mesa e, principalmente, observar.

Em Diamantina as pessoas são genuinamente mais simpáticas. Não é só uma "carcaça Senac" que Tiradentes possui com os indinheirados e Ouro Preto nem isso. Conversamos com muitas pessoas que nos atendiam com presteza e cordialidade. Contamos casos, rimos. Na volta, quisemos comprar uma carne de sol e o comerciante falou que teve um problema no freezer no dia anterior, que não seria prudente viajar 3-4 com a carne. Uma honestidade que não se vê facilmente.

Em Diamantina, não recusei sobremesa porque, quando tentei, fui surpreendida por um doce de casquinha de limão recheado com doce-de-leite delicioso. Também comi o que tinha restrição (pequi). Não posso dizer que mudei de ideia, mas ao menos não bati o pé. Também comi paçoca de carne seca, pão de queijo com linguiça, torresmo, carne serenada...Tudo sem pensar nas calorias. Subi e desci ladeiras para compensar, ainda que essa não fosse uma preocupação.

Fiquei como criança na quermesse, quis dançar quadrilha. Aqui já não temos a legítima festa junina, na rua, com as crianças correndo, os velhinhos dançando, os namorados se abraçando, a fogueira, o quentão, a canjica. Para aproveitar este tipo de festejo em BH, eu teria que ir num condomínio fechado ou no super clichê "Arraial de Belô", promovido pela Prefeitura.

Então eu vi a lua enorme no céu e estrelas, muitas estrelas. Eu vi gatos no telhado, cães passeando simpáticos pelas ruas e gente na janela vendo o tempo passar, esperando o amor chegar, pois sexta foi dia dos namorados. Eu vi gente de fé entrando nas igrejas, gente encantada com a Casa de Chica da Silva e os adolescentes paquerando na praça. Vi um tiozinho bêbado discutir com a caixa de som. Uma tiazinha catadora de latinha dançando com o vento. Ninguém ali parecia perturbar a loucura, a sanidade, a crença, a alegria, a melancolia, a festa ou o sono do outro.

Pela primeira vez, senti uma ponta de inveja da verdadeira vida simples. Li todos os dias, não liguei a TV e, mesmo sem despertador, acordei cedo porque queria aproveitar o dia. Não atendi o celular, exceto para saber de notícias do Tétinho. Podia ser sempre assim...

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