Para Mariana

Primavera, essa estação exaltável.
Que venham os ipês abarrotados, que as flores se abram.
Adeus, inverno, mesmo que ele não exista de fato.
Não há frio nessa (minha) irônica Belo Horizonte.
As pessoas cantam Tim Maia e Los Hermanos.
Acreditam que agora vai.
Vai?
Um estranho te oferecer flores é propaganda dos anos 80, com violinos de Vivaldi.

Quando vem a primavera, penso nela, com seus cabelos da cor de girassol.
Lembro-me com exatidão do sonho que tive na véspera de sua partida.
Estávamos de branco, num jardim.
Não sou de usar branco, mas era ocasião de despedida.
A única possível.
Na vida real, eu torcia por sinais naquele quarto de hospital. 

Mas ela se foi no outono, pouco antes do meu aniversário.
E quando chega a primavera, a saudade dá aquela espetadinha no meu coração.
Lá se vão três anos.
Saudade sem chance, por hora, de acabar.
Honestamente, nem sei se um dia irei para o mesmo lugar.
Pois o dela é, por demais, especial.

Não esperei o dia 23 dessa vez. 
Queria essa hora estar planejando uma festa de arromba, como fazíamos.
Éramos jovens, seríamos para sempre.
Dançaríamos Bowie.
Olharíamos nos olhos da outra na hora do brinde para não cair na maldição dos sete anos sem...
Trocaríamos livros, confidências, e-mails e mensagens.
Combinaríamos, enfim, aquela viagem para Paris que eu não pude - até hoje - fazer.

Toda primavera, penso nela.
Penso em mim.
Penso em seguir.
Penso em florir.






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