Desaniversário
O ritual de todos os anos foi interrompido naquele chuvoso 4 de abril de 2010. Talvez antes. Não fazia o menor sentido comemorar, uma vez que mal fazia sentido levantar da cama, trabalhar, ler, correr, insistir em sentimentos que iriam dar lugar a outros menos nobres.
Teve gosto amargo, tarja vermelha, dor na alma, coração partido, e "parabéns para você nesta data querida", seria, no mínimo, uma piada de péssimo gosto. Foi a primeira vez que desaniversariei.
Anos atrás havia uma euforia. Existiu festa surpresa, festa interestadual, banquete no Aurora e uma esperança ingênua que desejou habitar próximos aniversários.
A vida cuidou, naquele 2010, de não deixar o sabor do brigadeiro nem para a manhã seguinte.
Mas eu não quis me desapegar de açúcares e afetos. Insisti. Teimosia ariana, coisa de filha de um outono cada vez mais incomum. Superdosei nos prepartivos no ano seguinte. Afinal, eu sobrevivi (ou achava que sim). Joguei fora os comprimidos que me ajudavam a cumprir compromissos, rotinas e que, ao mesmo tempo, cortavam meu sono e meu tesão. Foi quando veio outra perda, logo quando eu cheguei feliz do almoço com amigos.
Imagine a desconfiança de celebrar o dia 5 de abril em 2012, o ano do fim do mundo que não aconteceu? No entanto, o que haveria mais a se perder? Foi sem estardalhaço e sem bolo porque os rituais foram ficando em algum lugar do passado que, sinto, não consigo recuperar.
Então, eu me olho no espelho e vejo essas marcas na minha testa. Elas me incomodam. Não há creme caro que as remova, não há porquê acreditar na propaganda, na matéria da revista, em algumas pessoas com as quais tive que conviver, em outras nas quais jamais votaria e que andam por aí arruinando minhas convicções em territórios como ética ou justiça.
O gosto ruim saiu da boca. Apesar de tão pouco sentir traços de doçura. Aquela vida que ficou sacundindo meus sonhos até que quase se espatifassem, não se tornou generosa da noite para o dia. Não ter grandes prejuízos virou meu maior lucro.
Sigo numa linha reta, sem atalhos ou jardins, com uma paciência inimaginável. Quero que os dias passem, inclusive o 5 de abril.
Será outro desaniversário, longe de ser o pior de todos. No lugar de caixas de presentes, vou carregando um aprendizado que eu ainda não sei para o quê vai servir. Quando as marcas forem escorrendo pelo resto do rosto, quem sabe? Quem sabe será época, novamente, de aniversário?
Teve gosto amargo, tarja vermelha, dor na alma, coração partido, e "parabéns para você nesta data querida", seria, no mínimo, uma piada de péssimo gosto. Foi a primeira vez que desaniversariei.
Anos atrás havia uma euforia. Existiu festa surpresa, festa interestadual, banquete no Aurora e uma esperança ingênua que desejou habitar próximos aniversários.
A vida cuidou, naquele 2010, de não deixar o sabor do brigadeiro nem para a manhã seguinte.
Mas eu não quis me desapegar de açúcares e afetos. Insisti. Teimosia ariana, coisa de filha de um outono cada vez mais incomum. Superdosei nos prepartivos no ano seguinte. Afinal, eu sobrevivi (ou achava que sim). Joguei fora os comprimidos que me ajudavam a cumprir compromissos, rotinas e que, ao mesmo tempo, cortavam meu sono e meu tesão. Foi quando veio outra perda, logo quando eu cheguei feliz do almoço com amigos.
Imagine a desconfiança de celebrar o dia 5 de abril em 2012, o ano do fim do mundo que não aconteceu? No entanto, o que haveria mais a se perder? Foi sem estardalhaço e sem bolo porque os rituais foram ficando em algum lugar do passado que, sinto, não consigo recuperar.
Então, eu me olho no espelho e vejo essas marcas na minha testa. Elas me incomodam. Não há creme caro que as remova, não há porquê acreditar na propaganda, na matéria da revista, em algumas pessoas com as quais tive que conviver, em outras nas quais jamais votaria e que andam por aí arruinando minhas convicções em territórios como ética ou justiça.
O gosto ruim saiu da boca. Apesar de tão pouco sentir traços de doçura. Aquela vida que ficou sacundindo meus sonhos até que quase se espatifassem, não se tornou generosa da noite para o dia. Não ter grandes prejuízos virou meu maior lucro.
Sigo numa linha reta, sem atalhos ou jardins, com uma paciência inimaginável. Quero que os dias passem, inclusive o 5 de abril.
Será outro desaniversário, longe de ser o pior de todos. No lugar de caixas de presentes, vou carregando um aprendizado que eu ainda não sei para o quê vai servir. Quando as marcas forem escorrendo pelo resto do rosto, quem sabe? Quem sabe será época, novamente, de aniversário?
Querida parceira de signo. Este ano eu fiz quarenta, e não quis festejar. Mas depois percebi a bobagem que fiz. Sempre há o que comemorar. Percebo hoje que ser sensível torna a vida mais viva, real e emocionante. É viver mais. Cada disparada das emoções é única. Só não se pode cair. Aproveita para sentir o vento no rosto, e contar tudo depois para a gente. Beijo, e feliz aniversário.
ResponderExcluirEsse vento que você envia daí já me fez mudar um pouco de ideia. Obrigada, querido! Beijo e parabéns pelo seu!
ResponderExcluir