Dos Fragmentos
Quando eu juntava frases, poemas, sonetos para te enviar.
Quando eu mesma brincava de escrever para você.
Quando bastava um sorriso seu para eu ganhar o dia.
Quando inventávamos nossos próprios rituais e roteiros.
Quando a gente tentava esticar os braços para tirar uma foto.
Quando tirávamos no par ou ímpar para decidir entre a pizza e o sushi.
Quando era domingo e você ia embora.
Quando a gente transformava a terça em sexta.
Quando meu coração disparava.
Quando a gente fazia as pazes.
Quando nos beijávamos pela manhã.
Quando eu encostava minha cabeça em seu ombro.
Quando você achava "bonitinhas" minhas estranhas manias.
Quando eu não ligava para seu moleton velho.
Quando eu dançava e você observava sério.
Quando morríamos de rir de uma bobagem.
Quando você me abraçava enquanto eu chorava, achando o mundo injusto.
Quando o nosso mundo nos bastava.
Quando a gente tirava uns dias de férias do outro. Forçadas ou voluntárias.
Quando você dizia que era eu.
Quando até doía essa coisa que eu sentia.
Quando eu achava que haveria o jardim, o crochê, a torta de maçã, eu contando histórias, você dormindo em frente a TV, os filhos, os netos, a morte...
Quando eu traçava planos para o final de semana, para o próximo ano, isso tudo deixou de ser.
Fragmentou-se o amor.
Despedaçaram-se essas lembranças do que fomos e do que não chegaremos a ser.
Tentei juntar caquinhos.
Achei inútil.
De menos valia foi ignorá-los, pois ando pisando neles.
E esses restinhos de amor também eram de sonhos.
Mas eles estão em algum lugar insuspeito, entre o atalho e uma longa viagem.
“Como serás tu que imagino mais do que recordo – a memória traz consigo também o esquecimento, continuando embora memória de gestos repetidos – com quem te encontras, como pensas, que brisas novas suavizarão teu sangue inquieto. Na distância imprecisa que o tempo traz recordo vagamente teu rosto rude e já marcado, a ternura inconsistente e macia da areia deslizando em nossas mãos.” Roland Barthes em "Fragmentos de Um Discurso Amoroso"
Quando eu mesma brincava de escrever para você.
Quando bastava um sorriso seu para eu ganhar o dia.
Quando inventávamos nossos próprios rituais e roteiros.
Quando a gente tentava esticar os braços para tirar uma foto.
Quando tirávamos no par ou ímpar para decidir entre a pizza e o sushi.
Quando era domingo e você ia embora.
Quando a gente transformava a terça em sexta.
Quando meu coração disparava.
Quando a gente fazia as pazes.
Quando nos beijávamos pela manhã.
Quando eu encostava minha cabeça em seu ombro.
Quando você achava "bonitinhas" minhas estranhas manias.
Quando eu não ligava para seu moleton velho.
Quando eu dançava e você observava sério.
Quando morríamos de rir de uma bobagem.
Quando você me abraçava enquanto eu chorava, achando o mundo injusto.
Quando o nosso mundo nos bastava.
Quando a gente tirava uns dias de férias do outro. Forçadas ou voluntárias.
Quando você dizia que era eu.
Quando até doía essa coisa que eu sentia.
Quando eu achava que haveria o jardim, o crochê, a torta de maçã, eu contando histórias, você dormindo em frente a TV, os filhos, os netos, a morte...
Quando eu traçava planos para o final de semana, para o próximo ano, isso tudo deixou de ser.
Fragmentou-se o amor.
Despedaçaram-se essas lembranças do que fomos e do que não chegaremos a ser.
Tentei juntar caquinhos.
Achei inútil.
De menos valia foi ignorá-los, pois ando pisando neles.
E esses restinhos de amor também eram de sonhos.
Mas eles estão em algum lugar insuspeito, entre o atalho e uma longa viagem.
“Como serás tu que imagino mais do que recordo – a memória traz consigo também o esquecimento, continuando embora memória de gestos repetidos – com quem te encontras, como pensas, que brisas novas suavizarão teu sangue inquieto. Na distância imprecisa que o tempo traz recordo vagamente teu rosto rude e já marcado, a ternura inconsistente e macia da areia deslizando em nossas mãos.” Roland Barthes em "Fragmentos de Um Discurso Amoroso"
Bela poesia... Parece a tentativa de voltar a tudo que era. Se voltar não fará mais sentido. Só nos resta a lembrança..
ResponderExcluirComo poderia ser diferente, e vai ser, sempre assim, igual e incompleto. A importância só é dada quando se perde, e somos mesmos perdidos. Uma ótima semana!
ResponderExcluirO “quando-conjunção” é dependente e tímido. O “quando-advérbio” é seguro e elegante. Os “quandos” do futuro revelam esperança na alma. Os “quandos” do passado são nossos para sempre.
ResponderExcluirParabéns Ludj, por tantos lindos “quandos-advérbios” do passado, os mais valiosos.
Obrigado Deus por dá-los a uma alma tão sensível, que ao escrevê-los em confissão, sem querer ora Contigo, e aquece o coração de quem passa.
Meu Deus, afasta-me dos atalhos, pois neles não há “quandos”...
Obrigada por entender o este quando-advérbio, Andarilho. Vivi poucos e bom amores, únicos que aqui neste post são um caleidoscópio afetivo. Eles eram único à suas maneiras. O que não muda e querermos para nós mesmos e os outros viver novamente e não reviver o amor.
ResponderExcluirVideomeiquer, não quero tirar alguém do passado e trazer de volta. Acho que vivi as histórias até o fim mesmo. É trazer para o presente um pouco daquela sensação que eu acreditava de outra maneira, mais colorida e menos sépia.
Ótima semana para vocês!
estranho, fazia tempo que não entrava aqui. você também anda sumida de lá, não é? lendo-te, novamente, lembro imediatamente de uma pessoa deveras parecida: euzinho. acho que ninguém entende a gente como a gente mesmo é capaz de nos entender. não, não é o passado que a gente quer de volta, e talvez ele nem tenha sido tão bonito e poético quanto as suas palavras revelam ou como tento revelar vez em quando nas minhas, mas é tão bom lembrar, é tão bom trazer "um pouco daquela sensação" que acreditávamos de nossa maneira, à nossa maneira lúdica de ver o mundo e encará-lo poeticamente, como continuamos a fazer. é tão bom, não é? e tem gente que diz que faz sofrer... ô gente, vamos entender mais a gente mesmo!
ResponderExcluirSó você mesmo para matar a charada Leo! Disse tudo, entendeu tudo, como só eu entendi. Precisamos nos visitar, revisitar e marcar aquela cerveja que ficou lá em abril. Beijos e saudades!
Excluirpois como você e o drummond disseram um dia lá no blog...
ResponderExcluir"O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua". E há de continuar...
beijos!