O Diagnóstico

Ela me perguntou: "por que você demorou tanto?"
É o tipo da pergunta que se quer ouvir do amor da sua vida, que ainda não veio, e que te espera ansioso em algum lugar do sistema solar.
Mas você está ali, com um uma camisola ridícula, aqueles toques incômodos, totalmente vulnerável.
"Eu tive um ano muito cheio", respondi.
Verdade, mas naquele contexto era pura mentira. Quando peguei o resultado do exame, tive medo. Não voltei.
Comentei com uma amiga que, à época disse, "ah, eu tratei um mioma com medicamentos. Super tranquilo".
Confiei nela porque não confio em médicos de modo geral.
Bom, não é só questão de acreditar nos prognósticos, é um pavor idiota mesmo.
Medo, medo, medo o que se vê não se via, o que se crê não se cria, como cantaram os Titãs.
"É uma cirurgia simples né? Em poucos dias estou no trabalho?".
Preenchendo guias para solicitar novas radiografias, a doutora respondeu: "não existe cirurgia simples. Sua licença será de pelo menos um mês".
E se der errado? E se eu sentir muita dor? E se eu não puder ter filhos?
Quis que essas dúvidas saíssem pela minha boca.
Saí do hospital confusa, na chuva.
Falei com minha irmã, outra amiga e minha mãe.
"Tudo vai dar certo", dizem.
"Whatever works", eu sei.
Eu que sou meio personagem de Woody Allen, com pavor de agulhas, xaropes e supositórios (isso ainda existe? Era meu pesadelo infantil) devia acreditar mais na ciência.
Nos seriados médicos então, a ação se passa em minutos. Acontece que minha vida não é episódio de Grey's Anatomy.
Se tivesse muita fé, procuraria um médium para fazer uma cirurgia espiritual.
Nunca levei ponto ou quebrei um único dedo.
E agora um corte, uma invasão no meu útero.
Tudo programado para breve.
"Você não pode mais protelar", ela avisou.
Saí culpada, me culpei.
Antes um comprimidinho teria resolvido?
Enxuguei a lágrima.
Pedi desculpas para mim mesma, no trajeto engarrafado.
Ontem o trânsito fluía.
Mais um solavanco para ensinar que devo cuidar de mim. Não apenas buscando ser gentil, lendo livros, fazendo dietas ou exercícios.
O medo estará lá até o último instante.
E eu terei que enfrentá-lo.

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