Momento "The Office"
Competências essenciais não são mais suficientes, afirma Eugenio Mussak
por Viviane Macedo
Correria, acúmulo de funções, competências indispensáveis para o mercado. Esses e muitos outros assuntos foram abordados durante entrevista com Eugenio Mussak, conferencista, consultor e professor nos campos de liderança, mudanças, aprendizagem e desenvolvimento profissional. Mussak conversou com o EMPREGO CERTO e falou sobre a importância de fazer uma coisa de cada vez, tema de um de seus livros; sobre a busca pela excelência e a tão almejada metacompetência.
Segundo ele, o organização é uma competência que ainda precisa ser muito trabalhada pelos profissionais, e o mercado hoje tem uma nova exigência, além das habilidades básicas, busca valores. "Profissionais competentes há centenas, milhares, e na hora de decidir quem contratar, a empresa vai ver quem é capaz de agregar valor, além de conhecimento técnico", afirma o professor.
Acompanhe a entrevista exclusiva e saiba como tornar-se mais atrativo ao mercado de trabalho.
EMPREGO CERTO: Vivemos numa correria e, muitas vezes, qualidade se confunde com quantidade. Você escreveu um livro exatamente sobre o assunto: Uma coisa de cada vez. Acredita que os profissionais estão passando da conta nas funções?
EUGENIO MUSSAK: Estamos numa era em que somos demandados a fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Temos de ser uma espécie de super-homem ou super-mulher para conseguir atender todas as demandas que recebemos no dia-a-dia. Eu até acho que podemos fazer várias atividades, assumir diferentes papéis, mas não na mesma hora, porque assim perdemos o foco. A maioria das pessoas tem essa capacidade multitarefa, mas ela é questionável, porque é limitada. Mesmo assim, eu noto que há quem se orgulhe de fazer várias coisas ao mesmo tempo, sem perceber que nenhuma dessas atividades é realizada com a devida atenção e energia. Nós temos plena capacidade de dar conta de nossos compromissos diários, mas atendendo uma coisa de cada vez, e para isso existe algo extremamente importante e que pode ajudar, uma agenda. Algumas pessoas ainda acreditam que ela aprisiona, mas muito pelo contrário, a agenda liberta, desde que seja seguida à risca. Um compromisso de cada vez, assim o resultado final se torna muito melhor.
EMPREGO CERTO: Além desse ponto levantado sobre concentração, o que você acha que pode ser melhor trabalhado na carreira?
MUSSAK: Eu tenho impressão de que a capacidade de organização é uma delas. Eu insisto que as pessoas precisam ter uma agenda de qualidade. Outro ponto muito importante e que vem a partir da organização é a disciplina, porque você não consegue se organizar se não for disciplinado. E algo também esquecido por profissionais é a questão de definir horários para estudar, e estudar sempre. Ler livros, fazer cursos, ler revistas, acessar sites de interesses pessoais e profissionais, tudo que possa agregar conhecimento e aumentar a cultura geral. Uma pessoa mais culta tem maior percepção sobre as coisas e mais facilidade para se adaptar a situações, mudanças e novas realidades.
EMPREGO CERTO: O mercado costuma ser exigente com relação a essas lacunas dos profissionais?
MUSSAK: Na realidade, o mercado de trabalho é um pouco paradoxal, porque ele exige das pessoas algumas características que vão contra as necessidades das organizações. Por exemplo, a empresa exige que o profissional seja criativo, mas ao mesmo tempo, exige que ele seja focado - a pessoa excessivamente focada, não consegue ser criativa, porque criatividade depende de uma visão mais sistêmica. A organização exige resultados com qualidade, com excelência, mas ao mesmo tempo, exige que a pessoa atenda muitas demandas ao mesmo tempo - o que contraria a exigência de qualidade. Por isso, é necessário que o profissional seja muito disciplinado com a carreira e aprenda conviver com essas armadilhas do mercado.
EMPREGO CERTO: Estamos falando sobre competências e características importantes para o mercado. A questão da metacompetência, assunto abordado em um de seus livros, tem ligação com isso?
MUSSAK: Sim, porque metacompetência é o que está além da competência. "Meta", nesse caso, tem sentido de transcendência não de objetivo, é alguma coisa que está além. Acontece que hoje, o mercado está tão competitivo que parece que não é suficiente que sejamos somente competentes, precisamos ter alguma coisa a mais. Profissionais competentes há centenas, milhares, e na hora de decidir quem contratar, a empresa vai ver quem é capaz de agregar valor, além de conhecimento técnico. Quando você vai selecionar um motorista, por exemplo, ele precisa ter duas competências que chamamos de competências essenciais - saber dirigir e conhecer a cidade. Mas, essas duas competências eu acredito que quase todos os candidatos à vaga tenham, aí a empresa vai verificar aqueles que têm outras competências. De repente, tem um que entende de mecânica, tem um que fala inglês, tem um que se comunica bem, então a pessoa acaba sendo selecionada não pelas competências objetivas, e sim pelas competências transversais. A metacompetência insiste que você deve desenvolver competências transversais, as essenciais já não são mais suficientes. Os metacompetentes têm um grande diferencial no mercado, eles criam um novo cenário de competitividade.
EMPREGO CERTO: E o mercado tem muitos profissionais metacompetentes?
MUSSAK: Claro que sim, muitos e em todas as áreas. Você encontra restaurantes competentes e restaurantes metacompetentes. Dentro do restaurante, você vai encontrar garçom competente, aquele que te serve, somente. E aquele outro que você percebe que está fazendo o trabalho com prazer e orgulho. Ele pode ser garçom para o resto da vida, se quiser, mas tem chances de ser gerente e até dono do restaurante algum dia. O competente é aquele que faz o que se espera dele, o incompetente é aquele que não faz o que se espera dele ou faz menos, e o metacompetente faz mais do que se espera dele. E isso serve para empresas e profissionais de qualquer área.
EMPREGO CERTO: O metacompetente seria algo próximo ao profissional perfeito?
MUSSAK: A perfeição não existe, é uma utopia, mas a busca por ela é o que nós chamamos de excelência. Excelência não é um padrão, é um estado, há pessoas que têm uma espécie de insatisfação com o desempenho, sempre querendo mais, e isso é o que garante a evolução do profissional, da empresa, da sociedade e da humanidade. Nós temos sempre que querer mais, isso é ambição, é querer deixar um legado, querer fazer, ser e ter mais. É uma visão que já faz muita diferença para os profissionais e para as empresas, mas que ainda está em carência, ainda faz falta esse olhar da evolução profissional atrelada à evolução humana. Valores como respeito, confiança, ética, sustentabilidade, alegria, amor. A visão dos valores é o que vai permitir que o profissional tenha uma melhor visão do negócio, da profissão.
EMPREGO CERTO: As organizações têm responsabilidade nesse processo de evolução de seus profissionais?
MUSSAK: A empresa tem a responsabilidade de oferecer os meios, mas a responsabilidade do desenvolvimento é de cada um, porque eu não posso desenvolver um adulto, eu posso dar para esse adulto os meios para que ele se desenvolva. Eu não posso pegar um adulto pela mão e levar para o colégio, ele tem de ir com as próprias pernas e isso é que não fica claro muitas vezes nas organizações. A organização tem a responsabilidade de oferecer os meios, de dar condições, de estimular, mas cada pessoa tem de assumir a responsabilidade por seu desenvolvimento.
EMPREGO CERTO: E você acha que os profissionais confundem isso?
MUSSAK: Sim, os acomodados, aqueles que esperam que os outros façam por eles. Vêm com frases como "ninguém me pediu... ninguém me disse que precisava...". O acomodado é um problema nas organizações, inclusive, porque muitas vezes ele é um sujeito que tem muitos anos de casa e tem bom resultado no trabalho, então quando alguém se queixa ou critica que ele não está evoluindo, ele não gosta, porque está entregando o resultado. Mas ele não percebe que podia estar entregando resultados muito melhores. Precisamos evoluir sempre, as empresas não se interessam por profissionais que querem só um emprego.
EMPREGO CERTO: Que dicas você deixa para que os profissionais aprendam a trabalhar a metacompetência?
MUSSAK: Eu acredito que algumas listas podem ajudar muito nessa questão. A primeira seria uma lista de competências essenciais e de competências transversais. A segunda com qualidades, forças e com fraquezas, deficiências. E uma terceira com sonhos e medos - os medos são os grandes inimigos dos sonhos. Colocar no papel os grandes sonhos da vida e os medos é muito importante, pois sem conhecê-los não há como combatê-los. Então essas três listas, sempre atualizadas, ajudam não só para o melhor autoconhecimento, mas também para a percepção do mundo, do mercado, do que os outros esperam da gente. É importante sempre ter em mente que você não pode só dirimir as suas fraquezas, é preciso potencializar as suas forças também. Lembre-se, você não será reconhecido pelos seus pontos médios, você será reconhecido pelos seus pontos fortes.
por Viviane Macedo
Correria, acúmulo de funções, competências indispensáveis para o mercado. Esses e muitos outros assuntos foram abordados durante entrevista com Eugenio Mussak, conferencista, consultor e professor nos campos de liderança, mudanças, aprendizagem e desenvolvimento profissional. Mussak conversou com o EMPREGO CERTO e falou sobre a importância de fazer uma coisa de cada vez, tema de um de seus livros; sobre a busca pela excelência e a tão almejada metacompetência.
Segundo ele, o organização é uma competência que ainda precisa ser muito trabalhada pelos profissionais, e o mercado hoje tem uma nova exigência, além das habilidades básicas, busca valores. "Profissionais competentes há centenas, milhares, e na hora de decidir quem contratar, a empresa vai ver quem é capaz de agregar valor, além de conhecimento técnico", afirma o professor.
Acompanhe a entrevista exclusiva e saiba como tornar-se mais atrativo ao mercado de trabalho.
EMPREGO CERTO: Vivemos numa correria e, muitas vezes, qualidade se confunde com quantidade. Você escreveu um livro exatamente sobre o assunto: Uma coisa de cada vez. Acredita que os profissionais estão passando da conta nas funções?
EUGENIO MUSSAK: Estamos numa era em que somos demandados a fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Temos de ser uma espécie de super-homem ou super-mulher para conseguir atender todas as demandas que recebemos no dia-a-dia. Eu até acho que podemos fazer várias atividades, assumir diferentes papéis, mas não na mesma hora, porque assim perdemos o foco. A maioria das pessoas tem essa capacidade multitarefa, mas ela é questionável, porque é limitada. Mesmo assim, eu noto que há quem se orgulhe de fazer várias coisas ao mesmo tempo, sem perceber que nenhuma dessas atividades é realizada com a devida atenção e energia. Nós temos plena capacidade de dar conta de nossos compromissos diários, mas atendendo uma coisa de cada vez, e para isso existe algo extremamente importante e que pode ajudar, uma agenda. Algumas pessoas ainda acreditam que ela aprisiona, mas muito pelo contrário, a agenda liberta, desde que seja seguida à risca. Um compromisso de cada vez, assim o resultado final se torna muito melhor.
EMPREGO CERTO: Além desse ponto levantado sobre concentração, o que você acha que pode ser melhor trabalhado na carreira?
MUSSAK: Eu tenho impressão de que a capacidade de organização é uma delas. Eu insisto que as pessoas precisam ter uma agenda de qualidade. Outro ponto muito importante e que vem a partir da organização é a disciplina, porque você não consegue se organizar se não for disciplinado. E algo também esquecido por profissionais é a questão de definir horários para estudar, e estudar sempre. Ler livros, fazer cursos, ler revistas, acessar sites de interesses pessoais e profissionais, tudo que possa agregar conhecimento e aumentar a cultura geral. Uma pessoa mais culta tem maior percepção sobre as coisas e mais facilidade para se adaptar a situações, mudanças e novas realidades.
EMPREGO CERTO: O mercado costuma ser exigente com relação a essas lacunas dos profissionais?
MUSSAK: Na realidade, o mercado de trabalho é um pouco paradoxal, porque ele exige das pessoas algumas características que vão contra as necessidades das organizações. Por exemplo, a empresa exige que o profissional seja criativo, mas ao mesmo tempo, exige que ele seja focado - a pessoa excessivamente focada, não consegue ser criativa, porque criatividade depende de uma visão mais sistêmica. A organização exige resultados com qualidade, com excelência, mas ao mesmo tempo, exige que a pessoa atenda muitas demandas ao mesmo tempo - o que contraria a exigência de qualidade. Por isso, é necessário que o profissional seja muito disciplinado com a carreira e aprenda conviver com essas armadilhas do mercado.
EMPREGO CERTO: Estamos falando sobre competências e características importantes para o mercado. A questão da metacompetência, assunto abordado em um de seus livros, tem ligação com isso?
MUSSAK: Sim, porque metacompetência é o que está além da competência. "Meta", nesse caso, tem sentido de transcendência não de objetivo, é alguma coisa que está além. Acontece que hoje, o mercado está tão competitivo que parece que não é suficiente que sejamos somente competentes, precisamos ter alguma coisa a mais. Profissionais competentes há centenas, milhares, e na hora de decidir quem contratar, a empresa vai ver quem é capaz de agregar valor, além de conhecimento técnico. Quando você vai selecionar um motorista, por exemplo, ele precisa ter duas competências que chamamos de competências essenciais - saber dirigir e conhecer a cidade. Mas, essas duas competências eu acredito que quase todos os candidatos à vaga tenham, aí a empresa vai verificar aqueles que têm outras competências. De repente, tem um que entende de mecânica, tem um que fala inglês, tem um que se comunica bem, então a pessoa acaba sendo selecionada não pelas competências objetivas, e sim pelas competências transversais. A metacompetência insiste que você deve desenvolver competências transversais, as essenciais já não são mais suficientes. Os metacompetentes têm um grande diferencial no mercado, eles criam um novo cenário de competitividade.
EMPREGO CERTO: E o mercado tem muitos profissionais metacompetentes?
MUSSAK: Claro que sim, muitos e em todas as áreas. Você encontra restaurantes competentes e restaurantes metacompetentes. Dentro do restaurante, você vai encontrar garçom competente, aquele que te serve, somente. E aquele outro que você percebe que está fazendo o trabalho com prazer e orgulho. Ele pode ser garçom para o resto da vida, se quiser, mas tem chances de ser gerente e até dono do restaurante algum dia. O competente é aquele que faz o que se espera dele, o incompetente é aquele que não faz o que se espera dele ou faz menos, e o metacompetente faz mais do que se espera dele. E isso serve para empresas e profissionais de qualquer área.
EMPREGO CERTO: O metacompetente seria algo próximo ao profissional perfeito?
MUSSAK: A perfeição não existe, é uma utopia, mas a busca por ela é o que nós chamamos de excelência. Excelência não é um padrão, é um estado, há pessoas que têm uma espécie de insatisfação com o desempenho, sempre querendo mais, e isso é o que garante a evolução do profissional, da empresa, da sociedade e da humanidade. Nós temos sempre que querer mais, isso é ambição, é querer deixar um legado, querer fazer, ser e ter mais. É uma visão que já faz muita diferença para os profissionais e para as empresas, mas que ainda está em carência, ainda faz falta esse olhar da evolução profissional atrelada à evolução humana. Valores como respeito, confiança, ética, sustentabilidade, alegria, amor. A visão dos valores é o que vai permitir que o profissional tenha uma melhor visão do negócio, da profissão.
EMPREGO CERTO: As organizações têm responsabilidade nesse processo de evolução de seus profissionais?
MUSSAK: A empresa tem a responsabilidade de oferecer os meios, mas a responsabilidade do desenvolvimento é de cada um, porque eu não posso desenvolver um adulto, eu posso dar para esse adulto os meios para que ele se desenvolva. Eu não posso pegar um adulto pela mão e levar para o colégio, ele tem de ir com as próprias pernas e isso é que não fica claro muitas vezes nas organizações. A organização tem a responsabilidade de oferecer os meios, de dar condições, de estimular, mas cada pessoa tem de assumir a responsabilidade por seu desenvolvimento.
EMPREGO CERTO: E você acha que os profissionais confundem isso?
MUSSAK: Sim, os acomodados, aqueles que esperam que os outros façam por eles. Vêm com frases como "ninguém me pediu... ninguém me disse que precisava...". O acomodado é um problema nas organizações, inclusive, porque muitas vezes ele é um sujeito que tem muitos anos de casa e tem bom resultado no trabalho, então quando alguém se queixa ou critica que ele não está evoluindo, ele não gosta, porque está entregando o resultado. Mas ele não percebe que podia estar entregando resultados muito melhores. Precisamos evoluir sempre, as empresas não se interessam por profissionais que querem só um emprego.
EMPREGO CERTO: Que dicas você deixa para que os profissionais aprendam a trabalhar a metacompetência?
MUSSAK: Eu acredito que algumas listas podem ajudar muito nessa questão. A primeira seria uma lista de competências essenciais e de competências transversais. A segunda com qualidades, forças e com fraquezas, deficiências. E uma terceira com sonhos e medos - os medos são os grandes inimigos dos sonhos. Colocar no papel os grandes sonhos da vida e os medos é muito importante, pois sem conhecê-los não há como combatê-los. Então essas três listas, sempre atualizadas, ajudam não só para o melhor autoconhecimento, mas também para a percepção do mundo, do mercado, do que os outros esperam da gente. É importante sempre ter em mente que você não pode só dirimir as suas fraquezas, é preciso potencializar as suas forças também. Lembre-se, você não será reconhecido pelos seus pontos médios, você será reconhecido pelos seus pontos fortes.
Muito bom, gostei de ler sobre as armadilhas do mercado e como ele é paradoxal, realmente. bjim.
ResponderExcluirBeijos querida!
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