Da Intolerância
Não suportar as diferenças é uma das molas que movem o mundo. Em algum grau ou perspectiva, todos somos intolerantes. No budismo, uma das buscas - feitas através da meditação - é cultivar o oposto desse sentimento. Semana passada estive na Associação Cultural Oriente Ocidente refletindo sobre a questão. Como posso vencer minhas pequenas e grandes incapacidades de aceitação?
A intolerância sempre esteve comigo, mesmo quando não estava dentro de mim. Certa vez, quando era criança, saí no tapa com um garoto que fez um comentário racista sobre uma pessoa muito querida. Quase tomei uma suspensão. Lembro-me da diretora da escola - uma italiana anarquista, que eu adorava - pedindo primeiro para a agressora (no caso, eu) a justificativa. Entre soluços de dor e raiva, dei minha versão. Como sempre houve a tal "psicologia infantil", fomos convidados a refletir. Afinal, meus tabefes não tornariam o mundo melhor.
A técnica nem sempre funcionou muito bem. A partir dali, me tornei intolerante a gente preconceituosa. Mesmo que eu não dirija, odeio quando alguém solta um batido "tinha que ser mulher" no trânsito. Acho um absurdo coexistir com sujeitos machistas em maior ou menor grau e, normalmente, tomo dores, causando mal estar ao interlocutor (e sem o menor peso na consciência, diga-se).
Há menos de um mês, numa conversa trivial com um grupo de conhecidos (médicos, inclusive) falei sobre o rigor da doação de sangue, que impossibilita as pessoas de ajudarem a quem precisa. Óbvio que o alvo da minha indignação era a proibição de doadores homossexuais. Mas para a medicina existe grupo de risco e não comportamento de risco, certo? Evidentemente, ouvi uma justificativa que não me desceu. Entendi que era melhor falar de amenidades.
Aquela menina que resolvia as diferenças "lá fora" fica querendo sair de mim. Na meditação, eu peço para que ela busque a sabedoria. Só que ela é extremamente teimosa, de natureza ariana. Quando eu dou por mim, ela está arregaçando as manguinhas. Ontem foi um desses momentos.
Falando sobre a gripe suína, uma colega da academia - uma senhora de seus 60 anos - expôs que essas pragas deveriam varrer o mal do mundo. Eu me antecipei, como é usual, e falei que elas varrem primeiro os pobres, não necessariamente o mal. Felizmente, não rendi muito. Depois pensei melhor na frase dela. Talvez aquela senhora idealizasse apenas um planeta sem gente escrota e isso não tem a ver com ricos, pobres ou remediados.
Não posso partir direto para o ataque. Estou trabalhando arduamente para conter essa atitude, que acaba virando nada mais nada menos que intolerância. Logo mais, quando encontrá-la, pedirei desculpas pelo meu comentário infeliz.
Atualmente, estou envolvida com um trabalho que está testando diariamente a minha capacidade de aprisionar a justiceira mirim do passado, já que tem a ver com minha intolerância à grosseria. Não chego ao ponto de retrucar com gentileza. Sou seca, objetiva, respiro, conto até dez, olho o calendário e penso que tudo passa.
Agora, sei que sou transparente como água tratada com meus sentimentos. No entanto, eu estava de verdade predisposta aos bons modos, à fluidez e aos bons resultados. Contudo, à medida que a coisa desandou, passei a ser formal porque a tal "etiqueta corporativa" é algo que salva nessas horas. No amplo círculo de relações de meu trabalho aprendi a tratar algumas pessoas de forma polida, impessoal (ainda que minha intolerância berre).
Questão de sobrevivência? Pode ser. Pode ser também a tal tolerância que espero há anos.
Para ler ouvindo:
Optimistic - Radiohead
Flies are buzzing round my head
Vultures circling the dead
Picking up every last crumb
The big fish eat the little ones
The big fish eat the little ones
Not my problem, give me some
You can try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
This one's optimistic
This one went to market
This one just came out of the swamp
This one dropped a payload
Fodder for the animals
Living on animal farm
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
I'd really like to help you, man
I'd really like to help you, man
Nervous messed up marionettes
Floating around on a prison ship
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
If you can try the best you can
If you try the best you can
Dinosaurs roaming the Earth
Dinosaurs roaming the Earth
Dinosaurs roaming the Earth
A intolerância sempre esteve comigo, mesmo quando não estava dentro de mim. Certa vez, quando era criança, saí no tapa com um garoto que fez um comentário racista sobre uma pessoa muito querida. Quase tomei uma suspensão. Lembro-me da diretora da escola - uma italiana anarquista, que eu adorava - pedindo primeiro para a agressora (no caso, eu) a justificativa. Entre soluços de dor e raiva, dei minha versão. Como sempre houve a tal "psicologia infantil", fomos convidados a refletir. Afinal, meus tabefes não tornariam o mundo melhor.
A técnica nem sempre funcionou muito bem. A partir dali, me tornei intolerante a gente preconceituosa. Mesmo que eu não dirija, odeio quando alguém solta um batido "tinha que ser mulher" no trânsito. Acho um absurdo coexistir com sujeitos machistas em maior ou menor grau e, normalmente, tomo dores, causando mal estar ao interlocutor (e sem o menor peso na consciência, diga-se).
Há menos de um mês, numa conversa trivial com um grupo de conhecidos (médicos, inclusive) falei sobre o rigor da doação de sangue, que impossibilita as pessoas de ajudarem a quem precisa. Óbvio que o alvo da minha indignação era a proibição de doadores homossexuais. Mas para a medicina existe grupo de risco e não comportamento de risco, certo? Evidentemente, ouvi uma justificativa que não me desceu. Entendi que era melhor falar de amenidades.
Aquela menina que resolvia as diferenças "lá fora" fica querendo sair de mim. Na meditação, eu peço para que ela busque a sabedoria. Só que ela é extremamente teimosa, de natureza ariana. Quando eu dou por mim, ela está arregaçando as manguinhas. Ontem foi um desses momentos.
Falando sobre a gripe suína, uma colega da academia - uma senhora de seus 60 anos - expôs que essas pragas deveriam varrer o mal do mundo. Eu me antecipei, como é usual, e falei que elas varrem primeiro os pobres, não necessariamente o mal. Felizmente, não rendi muito. Depois pensei melhor na frase dela. Talvez aquela senhora idealizasse apenas um planeta sem gente escrota e isso não tem a ver com ricos, pobres ou remediados.
Não posso partir direto para o ataque. Estou trabalhando arduamente para conter essa atitude, que acaba virando nada mais nada menos que intolerância. Logo mais, quando encontrá-la, pedirei desculpas pelo meu comentário infeliz.
Atualmente, estou envolvida com um trabalho que está testando diariamente a minha capacidade de aprisionar a justiceira mirim do passado, já que tem a ver com minha intolerância à grosseria. Não chego ao ponto de retrucar com gentileza. Sou seca, objetiva, respiro, conto até dez, olho o calendário e penso que tudo passa.
Agora, sei que sou transparente como água tratada com meus sentimentos. No entanto, eu estava de verdade predisposta aos bons modos, à fluidez e aos bons resultados. Contudo, à medida que a coisa desandou, passei a ser formal porque a tal "etiqueta corporativa" é algo que salva nessas horas. No amplo círculo de relações de meu trabalho aprendi a tratar algumas pessoas de forma polida, impessoal (ainda que minha intolerância berre).
Questão de sobrevivência? Pode ser. Pode ser também a tal tolerância que espero há anos.
Para ler ouvindo:
Optimistic - Radiohead
Flies are buzzing round my head
Vultures circling the dead
Picking up every last crumb
The big fish eat the little ones
The big fish eat the little ones
Not my problem, give me some
You can try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
This one's optimistic
This one went to market
This one just came out of the swamp
This one dropped a payload
Fodder for the animals
Living on animal farm
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
I'd really like to help you, man
I'd really like to help you, man
Nervous messed up marionettes
Floating around on a prison ship
If you try the best you can
If you try the best you can
The best you can is good enough
If you can try the best you can
If you try the best you can
Dinosaurs roaming the Earth
Dinosaurs roaming the Earth
Dinosaurs roaming the Earth
Puxa... adorei este post.... à minha maneira, eu também tenho pouca paciência pra esse tipo de pessoa. No meu caso é ainda pior, pois muitas vezes o comentário é sobre mim. E aí, aprendi com o tempo que cada pessoa merece uma resposta diferente. Algumas, a gente pode dizer calmamente a nossa opiniao. Outras mrecem uma patada e uma resposta ríspida. Outras perdem o rebolado quando você responde com bom humor.
ResponderExcluirgeralmente uso a terceira opção e confesso, na maior parte das vezes, a ignorância é uma benção! heheheh Adorei, beijos!!!
Valeu a visita amore! Beijos
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