Da Preguiça
Aproveito o mormaço sufocante dos últimos dias para refletir sobre esse pecado capital, que é cada vez mais praticado por mim. A preguiça faz parte de um top 3 pessoal. No último lugar permanece a avareza, só para esclarecer.
Física e mental, a preguiça está comigo desde o momento em que abro os olhos, pela manhã. Não sou do tipo "bom dia flor do dia" e demoro a esboçar uma expressão simpática antes das nove. Então vem a preguiça de malhar, quase sempre driblada e às vezes adiada para a hora do almoço ou depois do expediente. Ao escolher a roupa, prefiro a que não exija de mim o esforço de ter que passá-la. Deixo de sair com o vestido que não uso há muito e adoro porque tenho preguiça monumental de usar o ferro.
No quesito "situações cotidianas", a lista é grande. Eu tenho preguiça de ir ao salão fazer unha e depilar. Vou arrastada pela minha vontade de não parecer a "Monga- Mulher Gorila" ou mesmo sugerir um aspecto descuidado. De cortar cabelo eu não tenho preguiça. De fazer compras no supermercado eu tenho, com marido mais ainda. Agora se for bolsa, sapato, acessório ou roupa, eu nem sei o que é preguiça. Porém não me apetece a idéia do provador.
Tenho sentido preguiça absurda de rotina, de fazer todo dia a mesma coisa e, para piorar, no final de semana pegar um DVD na Dumond, pedir um japa ou uma pizza e nem ver a luz do sol ou da lua durante os sábados e domingos. Tenho preguiça de trabalhar em dias chuvosos; de sair para almoçar e voltar com a barra da calça molhada. Tenho preguiça de reunião, de discutir relação (essa é nova na série) e de fazer relatório.
A cada dia surge uma nova preguiça e algumas pessoas, jurídicas principalmente, quase me fazem morrer dela. Não tenho nenhuma preguiça de animais, fora os peçonhentos que, óbvio, me causam pânico, algo muito diferente de preguiça. Não sei se a idade está me influenciando a mudar de opinião e passar a nutrir preguiça por pessoas e coisas que não tinha. Pode ser que eu esteja ficando mais ranzinza.
A lista de "personalidades" de que tenho preguiça contém clichês, como o mundo de malboro do jornalismo (não adianta, eu não cito nomes), as celebridades como um todo e nomes talvez menos óbvios. Gente que o mundo adora, acha talentoso e eu até concordo, mas...tenho preguiça.
Tenho preguiça do Rappa há algum tempo e do Selton Mello recentemente. Há, ainda, unanimidades que tomam conta de discussões de mesas de bar e me deixam no vácuo nas conversas como o Lost. Tenho preguiça de churrasco enquanto evento e de comida chinesa. Tenho preguiça de diversos lugares em Belo Horizonte onde estão as mesmas pessoas, acima de tudo, do "BH way of life". Confesso: tenho discos do Rappa, admirava bastante o Selton Mello, tentei acompanhar Lost, não sou vegetariana e já me entupi de rolinhos primavera na infância. Até foi assídua em certos lugares que hoje evito e o jeitinho belo-horizontino saltou de uma irritação subconsciente para a consciente.
A cereja do meu bolo de preguiça vem agora com o famoso "fazer o social". Amanhã tem mais e, para fazer a linha "killing me softly", durante quase todo o mês de dezembro, com seus amigos ocultos e festinhas regadas a cerveja quente e fritura fria. Ai que preguiça!
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