Semana da mulher - Martha Medeiros

O que é ser mulher? Às vezes me perguntam isso em entrevistas e fico inclinada a responder que é nascer com cromossomos XX, mas não é esta a resposta que o entrevistador espera, é preciso entrar no espírito do debate, e responder que ser mulher é... ah, não consigo.

Bem que tento entrar no clima do Dia Internacional da Mulher, mas esta data me emociona tanto quanto o Dia da Árvore. Um dia especial para refletir sobre nossa condição? Ora, não faço outra coisa o ano inteiro!

Gosto muito de ser mulher mas não acho que sejamos mais especiais do que os homens. Ou mais maltratadas do que eles. Há gente feliz e infeliz dos dois lados do ringue. E se temos que lutar por melhores salários, mais segurança, uma vida mais digna, isso tem que valer para todos – que seja o dia internacional do ser humano, e não o dia internacional da choradeira.

É claro que ainda há discriminação. Foram séculos de hegemonia masculina e isso não se muda do dia pra noite – e olha que em 50 anos mudou coisa demais. Voto, pílula, faculdade, independência financeira, liberdade sexual. Há mais ainda para ser conquistado, e será. Mas quem vai ajudar as mulheres são elas próprias, principalmente porque somos mães: mães dos futuros políticos, mães dos futuros genros de nossas filhas, mães dos futuros patrões delas, e mães delas mesmas, as futuras mulheres que queremos ver mais realizadas e respeitadas. A responsabilidade é toda nossa. Se acertamos ou erramos, se ganhamos mais ou ganhamos menos do que os homens, se somos tratadas com carinho ou com violência, tudo é decorrência das nossas escolhas e atitudes – e das nossas omissões.

Num mundo com tamanha desigualdade social, claro que nem todas as mulheres têm esclarecimento e poder para assumir sozinhas seu destino. Então briguemos por elas, como fizemos quando a argeliana Amina foi ameaçada de ser apedrejada por ser mãe solteira. O governo africano recebeu uma avalanche de cartas pedindo sua “absolvição”, e deu certo. Aquilo foi quando? Julho, setembro, novembro? Foi feito o que tinha que ser feito na hora em que se fez necessário. É assim que funciona. Fazemos nossa parte todos os dias de março, abril, agosto, dezembro, atendendo as demandas da vida, como árvores que somos, forças da natureza que não precisam de uma data única para lembrar aos outros nossa importância.

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