365 dias
Há 365 dias eu só sabia meu endereço. Não adiantava ninguém me perguntar qual o melhor caminho para se chegar até aqui. L2, Eixão, W4 eram algo bem subjetivo. Passei a maior parte da minha vida entre ruas e avenidas. Achei que demoraria um bom tempo para desbravar sozinha as quadras pares e voltar para casa sem me perder. Foi rápido, como este tempo que passou.
Todo dia escolho caminhos diferentes, que antes me confundiam. Gosto particularmente das 300, mais arborizadas. Fotografo flores, sinto cheiro de dama da noite, manjericão e goiaba na vizinhança. Queria uma parede do cobogós para chamar de minha. Ainda dou um mini-chilique quando um calango passa por mim. Parei de achar a coruja um animal simpático quando vi um pobre gatinho fugindo dela.
Não reaprendi a andar de camelo, pulo na frente dos ônibus e zebrinhas que ignoram os pedestres. Como todos que se aventuram em improvisos de calçadas em péssimo estado, tomei alguns banhos de água suja promovidos por motoristas em seus carrões de vidros fumê. Fico irritada porque numa cidade onde existem tantos parquinhos, a circulação de cadeirantes me parece tão restrita. Me recuso a fazer parte do exército que acha que todo lugar é estacionamento.
Quando vou comer, pergunto antes se aquele verdinho é coentro. Já achei a folha até no tabule, uma heresia. Passo a milhas de distância do pequi - mais identificável porque impregna o ambiente -, enquanto mastigo outros sabores do cerrado. Incorporei a tapioca no café da manhã e não fico muito tempo longe da patisserie do Daniel Briand. A vida é melhor com pain au chocolat.
De todos os clichês, concordo com o Lúcio Costa: o céu é mesmo o mar de Brasília. A vida aqui fica menos revolta do que já foi um dia. Talvez (e principalmente) porque tenha meu amor e meu porto-seguro nos dias de chuva e seca, nos nossos pequenos rituais, decorando nossa casinha e pensando em soluções para caber mais um quadro ou um móvel pé palito. São Paulo me deu o melhor de Brasília, ainda que eu chegue zen da aula de yoga e ele esteja vibrando com o jogo do Corinthians.
Hoje faz um ano. Não sei se o primeiro de muitos. Algumas siglas permanecem um mistério. Eu via as placas apontando para SIG e me lembrava do ratinho do Pasquim. Alguns mistérios faço questão de manter. Cidades são como pessoas e sempre estarão dispostas a nos surpreender. As pessoas aqui falam como o Brasil. Uai, ôxente e tchê são meio híbridos. Ao mesmo tempo, ouvem-se línguas do mundo, especialmente no setor hoteleiro. Algumas interrompem nosso andar para perguntar onde fica a Torre de TV. Nem todas, num primeiro momento, acham aquela edificação propriamente turística. Um dia eu também fui assim. Mas aconselho em português pausado, inglês ruim e mímica que cheguem ao topo.
Todo dia escolho caminhos diferentes, que antes me confundiam. Gosto particularmente das 300, mais arborizadas. Fotografo flores, sinto cheiro de dama da noite, manjericão e goiaba na vizinhança. Queria uma parede do cobogós para chamar de minha. Ainda dou um mini-chilique quando um calango passa por mim. Parei de achar a coruja um animal simpático quando vi um pobre gatinho fugindo dela.
Não reaprendi a andar de camelo, pulo na frente dos ônibus e zebrinhas que ignoram os pedestres. Como todos que se aventuram em improvisos de calçadas em péssimo estado, tomei alguns banhos de água suja promovidos por motoristas em seus carrões de vidros fumê. Fico irritada porque numa cidade onde existem tantos parquinhos, a circulação de cadeirantes me parece tão restrita. Me recuso a fazer parte do exército que acha que todo lugar é estacionamento.
Quando vou comer, pergunto antes se aquele verdinho é coentro. Já achei a folha até no tabule, uma heresia. Passo a milhas de distância do pequi - mais identificável porque impregna o ambiente -, enquanto mastigo outros sabores do cerrado. Incorporei a tapioca no café da manhã e não fico muito tempo longe da patisserie do Daniel Briand. A vida é melhor com pain au chocolat.
De todos os clichês, concordo com o Lúcio Costa: o céu é mesmo o mar de Brasília. A vida aqui fica menos revolta do que já foi um dia. Talvez (e principalmente) porque tenha meu amor e meu porto-seguro nos dias de chuva e seca, nos nossos pequenos rituais, decorando nossa casinha e pensando em soluções para caber mais um quadro ou um móvel pé palito. São Paulo me deu o melhor de Brasília, ainda que eu chegue zen da aula de yoga e ele esteja vibrando com o jogo do Corinthians.
Hoje faz um ano. Não sei se o primeiro de muitos. Algumas siglas permanecem um mistério. Eu via as placas apontando para SIG e me lembrava do ratinho do Pasquim. Alguns mistérios faço questão de manter. Cidades são como pessoas e sempre estarão dispostas a nos surpreender. As pessoas aqui falam como o Brasil. Uai, ôxente e tchê são meio híbridos. Ao mesmo tempo, ouvem-se línguas do mundo, especialmente no setor hoteleiro. Algumas interrompem nosso andar para perguntar onde fica a Torre de TV. Nem todas, num primeiro momento, acham aquela edificação propriamente turística. Um dia eu também fui assim. Mas aconselho em português pausado, inglês ruim e mímica que cheguem ao topo.
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