O Flautista
Algumas manhãs, quando vejo o mercador de canetinhas entrando no ônibus, são como refrões do samba "Saco cheio" de Almir Guineto. Todo material que ele vende é para ajudar jovens dependentes de drogas. O sujeito consegue dizer o nome de Jesus umas 40 vezes para aqueles que supõe cristãos.
Sou do tipo que compra quase tudo de ambulantes: amendoins, incensos e até um CD que nunca escutei. As tais canetinhas sempre são recusadas e já levei uma direta de um desses voluntários cuja a boa intenção lotaria outro lugar. Diante da minha negativa, acusou-me de não ser solidária. Disse que os drogados sofriam o descaso da sociedade, de pessoas que não sabem o que é ter uma dor dessa para carregar.
Só não retribuí com meia dúzia de verdades porque estava a um ponto da descida e sem a menor disposição para expor aquele cidadão a uma situação constrangedora. Ando tolerante ou me forçando a isso, o que não tem nada de religioso.
Dia desses porém, acordei um pouco mais implicante e quis saber detalhes sobre a tal instituição. O cidadão me perguntou se eu era da polícia e eu afirmei que não tinha a menor obrigação de dizer o que eu estava representando, no entanto, caso ele quisesse meu dinheiro, devia prestar alguma conta.
Há tempos não esbarro com os mercadores de canetinhas nos ônibus da W3, deve ser a reza brava deles.
Andava naquele mais do mesmo: sendo ignorada ao dar o sinal na maioria das vezes, sacolejando nas zebrinhas e não facilitando o troco dos cobradores (uma nota de vinte reais é sempre uma afronta).
Então, essa semana aconteceu um novo encontro. O sol havia se posto, eu sentia um vento que prenunciava a chuva e, ao sair do trabalho, decidi beber uma uma taça de vinho. Estava particularmente de bom humor.
Ao passar pela roleta ouvi acordes de Tom Jobim. Era um flautista tipicamente hippie, ignorado pela maioria dos passageiros que olhava para as janelas com tédio e cansaço.
Antes de passar o chapéu, ele informou que precisava juntar dinheiro para voltar para a Colômbia. Eu, sempre com trocos volumosos, tinha poucos centavos para dar. Fiquei triste e decepcionada, algo em mim queria contribuir de maneira mais justa, escutar um pouco mais daquele solo no coletivo.
Foi quando um garotinho pediu para ele, prestes a saltar, para tocar mais uma. O flautista tinha arrecadado tudo o que poderia, mas sorriu para sua principal plateia. Perguntou o nome do menino e se ele gostava de música. Só vi o pequeno balançando positivamente a cabeça.
Foram mais algumas quadras com Luiz Gonzaga e a vontade de esbarrar novamente com o artista num desses trajetos. Neste caso, não checaria a veracidade da volta para seu país.
Sou do tipo que compra quase tudo de ambulantes: amendoins, incensos e até um CD que nunca escutei. As tais canetinhas sempre são recusadas e já levei uma direta de um desses voluntários cuja a boa intenção lotaria outro lugar. Diante da minha negativa, acusou-me de não ser solidária. Disse que os drogados sofriam o descaso da sociedade, de pessoas que não sabem o que é ter uma dor dessa para carregar.
Só não retribuí com meia dúzia de verdades porque estava a um ponto da descida e sem a menor disposição para expor aquele cidadão a uma situação constrangedora. Ando tolerante ou me forçando a isso, o que não tem nada de religioso.
Dia desses porém, acordei um pouco mais implicante e quis saber detalhes sobre a tal instituição. O cidadão me perguntou se eu era da polícia e eu afirmei que não tinha a menor obrigação de dizer o que eu estava representando, no entanto, caso ele quisesse meu dinheiro, devia prestar alguma conta.
Há tempos não esbarro com os mercadores de canetinhas nos ônibus da W3, deve ser a reza brava deles.
Andava naquele mais do mesmo: sendo ignorada ao dar o sinal na maioria das vezes, sacolejando nas zebrinhas e não facilitando o troco dos cobradores (uma nota de vinte reais é sempre uma afronta).
Então, essa semana aconteceu um novo encontro. O sol havia se posto, eu sentia um vento que prenunciava a chuva e, ao sair do trabalho, decidi beber uma uma taça de vinho. Estava particularmente de bom humor.
Ao passar pela roleta ouvi acordes de Tom Jobim. Era um flautista tipicamente hippie, ignorado pela maioria dos passageiros que olhava para as janelas com tédio e cansaço.
Antes de passar o chapéu, ele informou que precisava juntar dinheiro para voltar para a Colômbia. Eu, sempre com trocos volumosos, tinha poucos centavos para dar. Fiquei triste e decepcionada, algo em mim queria contribuir de maneira mais justa, escutar um pouco mais daquele solo no coletivo.
Foi quando um garotinho pediu para ele, prestes a saltar, para tocar mais uma. O flautista tinha arrecadado tudo o que poderia, mas sorriu para sua principal plateia. Perguntou o nome do menino e se ele gostava de música. Só vi o pequeno balançando positivamente a cabeça.
Foram mais algumas quadras com Luiz Gonzaga e a vontade de esbarrar novamente com o artista num desses trajetos. Neste caso, não checaria a veracidade da volta para seu país.
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