No Pandora de domingo
Minha coluna mensal...
Por mais que eu quisesse – e não quero– pensar em outros temas, as manifestações que acontecem em todo o país nas últimas duas semanas me tornaram uma pessoa monotemática nesses dias. Outra razão para eu não me esquivar, é que vejo esse espaço no Pandora como muito oportuno para falar sobre mudanças comportamentais e reivindicações consistentes.
A moda, por exemplo, sempre teve um papel fundamental em transformações porque é, em sua essência, agregadora e democrática. Criadores, muitos deles enquadrados nas minorias, como as mulheres e os homossexuais, fazem mais do que eleger o amarelo a cor da estação. É verdade que os negros precisam de maior representatividade nas passarelas do Brasil, mas as lutas que valem a pena são assim, constantes.
Só para ficar em estilistas, pense na visionária Coco Chanel, no pioneiro Christian Dior, no ousado Mark Jacobs, na guerreira Zuzu Angel, no questionador Ronaldo Fraga. Todos eles desde sempre reuniram ingredientes essenciais à legitimidade de um discurso com motivações bem embasadas. Ontem e hoje eles se depararam com uma série de adversidades: convenções sociais a serem quebradas, conservadorismo e aquela turma que tem “a velha opinião formada sobre tudo”, como cantou Raulzito.
Eu passei dias tentando entender a amplitude do grito nas ruas, nas redes sociais e li diversas análises sobre o momento – duas delas bastante pertinentes, a dos meus colegas Silvana Mascagna e Murilo Rocha. Se ainda não leu, acesse O Tempo Online. Mas, fundamentalmente, estive em várias discussões. Algumas quentíssimas, pois ainda me assustam ideias reacionárias, apologia à violência e qualquer coisa que não seja o diálogo.
Sou filha de pais que participaram de diversos movimentos libertários e, eventualmente, me frustrava por ser menos engajada do que poderia. É verdade que pintei a cara de verde e amarelo quando era adolescente pedindo o impeachment do Collor, também marchei contra a devastação da floresta amazônica, além de outras causas políticas e ambientais.
No entanto, como muitos da minha geração, estava me sentindo inerte nesse hiato: por que não gritava mais? Afinal, o bolo da indignação é feito de diversas cerejas no topo. Exatamente por isso, é preciso que as pautas dos manifestantes sejam mais focadas e, assim, serão passíveis de mudanças, do país que queremos.
“Não é só por vinte centavos”. E foi importante observar as ruas ocupadas por pessoas de diferentes gerações no início. Sim, temos mais a cobrar dos nossos governantes, da Comissão dos Direitos Humanos e de nós mesmos nesse momento tão singular quanto global. Como bem aponta o crítico político Noam Chomsky, “as pessoas estão indo às ruas para defender bens comuns, aqueles que são compartilhados dentro das sociedades”.
Sigamos lutando contra injustiças, especialmente as sociais, mas devemos estar abertos ao debate, precisamos ouvir e nos informar bem. A história sempre tem algo a nos ensinar.
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