Preparação


Mãos dadas 

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

Pois eu vejo agora que tudo não passa de preparação. Daquela posição que não se ocupa mais, fica a reflexão do que realmente se quer. Pois é fundamental ser leal aos próprios princípios e, especialmente, à verdadeira vocação. O que parece perda, não é nada mais que um espelho colocado diante de si para entender que o que se travestiu de desafio - e que no fundo tanto pesava ou entristecia, por mais que tentasse encarar, por mais que lutasse com todas as suas forças...era apenas uma preparação. Simbólicos os tais 15 anos que batem à porta. Eles servem entender que aquela jovem cheia de sonhos não era tão delirante em seus projetos. Ela só precisou levar uns tombos aqui e outros acolá para não ser tão impulsiva ou orgulhosa. E nenhum deles - o agir sem pensar ou ficar os pés em convicções que podem  ser mutáveis -ajudaria no crescimento, nessa percepção. Não serei nada no mundo caduco, muito menos cederei à pressão de me antecipar.

Foram preparações também meus amores passados, as possibilidades de romance e até aqueles que me magoaram sendo pouco cuidadosos ou covardes. Nada de um cenário cor-de-rosa se abrindo daqui por diante. Tudo aquilo que foi, me ensinou a ser paciente, a não perder a ternura, a ter um pouco de fé, confiança e, sobretudo, a visão clara do que desejo para mim e este outro que virá: a sorte do amor tranquilo, como cantou meu exagerado preferido. Desconfio do alarde de "mais amor, por favor" nos muros físicos e virtuais (já falei sobre o assunto aqui no blog), simplesmente porque muitos desses pichadores da perfeição a dois somem na primeira oportunidade em que você os olha fixamente e diz: "então, vamos fazer acontecer?".  E não que sejam condenáveis. Apenas têm mais medos e incertezas do que ousadia. E quem não os tem? No entanto, a simples existência deles (ou seria insistência?) ainda  faz parte da preparação e isso pode nem ter fim.

Outro dia, chateada, disse para um amigo que me faltava perspectiva. Ele, que não mora na mesma cidade que eu, afirmou que é para eu deixar que ela me encontrasse. Até lá, um bom plano era tomarmos um drink dia desses. Não há mesmo fugas para ilhas ou raptos por serafins...Ainda assim, eu continuo comprando passagens aéreas só de ida. E volto, inevitavelmente.



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