Post-its
Vou te contar como entrei nesse lugar.
Um belo dia, todo movimento resolveu acontecer e foi rolando rapidamente como uma bola de neve. Depois disso, tudo o que eu queria era ficar quieta. Mas aquela voz interna, impertinente, então, gritou: reaja.
Vou te contar como tento sair desse lugar.
Todos os dias, que nem sempre são belos, eu travo uma pequena batalha. Contra papeizinhos que se acumulam. Sabe os papeizinhos do visa electron? Eles se multiplicam na minha bolsa, no meu armário. Eles escondem as contas do mês. E minha memória esconde as datas de vencimento. Eu poderia colocar em débito automático. Mas antes, unificar contas de um mesmo banco. Coisa boba de se por em prática entende? Eu não consigo.
Vou te contar que todo dia acordo procurando coisas chatas. Um documento, um arquivo, um lenço. Não faço a vaga noção de onde estejam. Podem estar na casa da minha mãe, na minha casa, na caixa intocada desde a separação. Eu posso até ter jogado fora.
Para mim arrumar é jogar fora. Simplifica tudo.
Vou te contar que comprei uma revista cuja capa sugere que eu devo administrar melhor meu tempo. Eu até tenho uma planilha de orçamento doméstico no desktop e mantenho escritos na agenda quase em dia. O problema é que acabo fazendo cálculos mentais e guardando datas na cabeça: tenho determinado valor em conta, falta pagar isso e aquilo, não vai sobrar quase nada (de novo). Amanhã é consulta com nutricionista, semana que vem, terapeuta. Uma festa na terça e, no meio do caminho, programar de fazer unhas e sobrancelhas.
O dia passa.
Eu me dou a luxo de tomar um vinho, sem me lembrar da conta corrente. Eu vou resolvendo meu dia no trabalho e, quando percebo, adiei para o dia seguinte a tarefa chata de ser encaixada num horário digno com a manicure que não é a açogueira. Lá vou eu mesma pinçar a sobrancelha com medo de deixar o desenho torto.
O fogo anda comigo. A disciplina não.
O fogo anda apagado. Estou sem vontade de sair à noite, sem querer "conhecer gente nova" (e também achando que já conheci todo mundo que deveria conhecer), sem muita perspectiva de possíveis encontros com tilintar de sininhos e tudo mais (digo isso porque há uma pressão mundial para que eu me dedique minimamente aos "paraísos artificiais". E sim, tenho saído à francesa).
A disciplina vai mesmo até a página 9. Sigo o programa alimentar sem arroz, feijão, chocolate há meses. Não da maneira rígida, como deveria, porque o drink para relaxar é calórico e...bom!
Amanhã eu fico triste subindo naquela balança. Amanhã fico mais pobre com as tantas vitaminas caras que vão cutucar meu metabolismo. E quer saber? Ainda que na corda bamba, tirar oito quilos de mim foi a melhor coisa que já me aconteceu neste ano. Leveza, como na minha tatuagem do pulso esquerdo.
O problema é esse querer mais.
E o que eu quero é mais de mim.
Porque quero contar como finalmente saí desse lugar.
Um belo dia, todo movimento resolveu acontecer e foi rolando rapidamente como uma bola de neve. Depois disso, tudo o que eu queria era ficar quieta. Mas aquela voz interna, impertinente, então, gritou: reaja.
Vou te contar como tento sair desse lugar.
Todos os dias, que nem sempre são belos, eu travo uma pequena batalha. Contra papeizinhos que se acumulam. Sabe os papeizinhos do visa electron? Eles se multiplicam na minha bolsa, no meu armário. Eles escondem as contas do mês. E minha memória esconde as datas de vencimento. Eu poderia colocar em débito automático. Mas antes, unificar contas de um mesmo banco. Coisa boba de se por em prática entende? Eu não consigo.
Vou te contar que todo dia acordo procurando coisas chatas. Um documento, um arquivo, um lenço. Não faço a vaga noção de onde estejam. Podem estar na casa da minha mãe, na minha casa, na caixa intocada desde a separação. Eu posso até ter jogado fora.
Para mim arrumar é jogar fora. Simplifica tudo.
Vou te contar que comprei uma revista cuja capa sugere que eu devo administrar melhor meu tempo. Eu até tenho uma planilha de orçamento doméstico no desktop e mantenho escritos na agenda quase em dia. O problema é que acabo fazendo cálculos mentais e guardando datas na cabeça: tenho determinado valor em conta, falta pagar isso e aquilo, não vai sobrar quase nada (de novo). Amanhã é consulta com nutricionista, semana que vem, terapeuta. Uma festa na terça e, no meio do caminho, programar de fazer unhas e sobrancelhas.
O dia passa.
Eu me dou a luxo de tomar um vinho, sem me lembrar da conta corrente. Eu vou resolvendo meu dia no trabalho e, quando percebo, adiei para o dia seguinte a tarefa chata de ser encaixada num horário digno com a manicure que não é a açogueira. Lá vou eu mesma pinçar a sobrancelha com medo de deixar o desenho torto.
O fogo anda comigo. A disciplina não.
O fogo anda apagado. Estou sem vontade de sair à noite, sem querer "conhecer gente nova" (e também achando que já conheci todo mundo que deveria conhecer), sem muita perspectiva de possíveis encontros com tilintar de sininhos e tudo mais (digo isso porque há uma pressão mundial para que eu me dedique minimamente aos "paraísos artificiais". E sim, tenho saído à francesa).
A disciplina vai mesmo até a página 9. Sigo o programa alimentar sem arroz, feijão, chocolate há meses. Não da maneira rígida, como deveria, porque o drink para relaxar é calórico e...bom!
Amanhã eu fico triste subindo naquela balança. Amanhã fico mais pobre com as tantas vitaminas caras que vão cutucar meu metabolismo. E quer saber? Ainda que na corda bamba, tirar oito quilos de mim foi a melhor coisa que já me aconteceu neste ano. Leveza, como na minha tatuagem do pulso esquerdo.
O problema é esse querer mais.
E o que eu quero é mais de mim.
Porque quero contar como finalmente saí desse lugar.
fazia tempo que não te lia. adorei de novo. estou em são paulo, desfrutando das suas dicas e das de outros queridos também. mas agora dei uma pequena pausa nos programas divertidos, estou aqui, sorrindo momentaneamente, no meio do encontro que me trouxe até a paulicéia. a parte que me trouxe é a parte ruim. mas passa. jajá volto pra livraria cultura ou vou comer uma coxinha no veloso. pois é. fiquei encantado com a livraria cultura também, gastei todas as minhas economias por lá, mesmo tendo certeza que é só para retroalimentar a minha inspiração e continuar escrevendo. esquisito.
ResponderExcluirbom, mas na verdade eu queria mesmo era comentar o seu texto, lhe dizer algo. não sei bem o quê. engraçado ouvir tudo isso aí, ou ler né. afinal, estou dez quilos mais magro que outrora e sei lá se é coincidência. eu, ao contrário, continuo comendo carne, doces, arroz, feijão. estou comendo tudo isso em dobro, mas continuo perdendo meio quilo por semana. de relógio. até os amigos paulistas me estranharam. aliás, estranheza é o que não falta, mesmo que torneada por uma estranha leveza. essa sua aí, já tive também, daqui a pouco volta. eu sei, no fundo a gente não se engana. às vezes mais leve, às vezes não, faça novas tatuagens e espere. é bom querer mais de você, eu sei que a gente sempre pode se dar um pouquinho mais da gente mesmo. é bom gostar da gente mesmo, né? pois eu estou assim: esperando também, tentando dar mais de mim também, bebendo drinks gostosos também, sofrendo pressões disciplinares também, trocando de isqueiro de hora em hora, para que o fogo nunca apague, querendo apaixonar-me de novo, assim assim, só que agora só por mim. é difícil, eu sei, tu sabe, todos sabem. que continuemos tentando, pois assim também é bonito, e que os teus dias sejam bem melhores e maiores que a tatuagem no pulso esquerdo. um beijo.
Leo querido, sua leitura me alegra muito. Não falo da leitura do post, do post-it. As entrelinhas. As entrelinhas dizem muito e você parece que as lê de um jeito melhor e mais delicado do que eu possa querer sugerir nos meus escritos. Essa briguinha nossa de cada dia com o tempo, a disciplina, o fogo, o amor, o amor próprio não cessa. Ela ameniza e volta. Sinal que estamos, de alguma forma, em movimento. Ainda que achemos que não. Feliz em saber sobre a Cultura, as coxinhas e os drinks. Amo muito São Paulo porque tive a sorte de encontrar na cidade amigos muito especiais que levo para vida. Aqueles do tipo de amor que não morre. O amor que tenho agora e tenho sempre, mesmo querendo o outro também e até o terceiro, próprio e dificinho. Obrigada, mais uma vez, pelo abraço fraterno que eu sinto quando leio o que você escreve sobre o que eu escrevo. Beijos :)
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