Hoje eu esqueci de tomar o remedinho. Também deixei meu celular em casa. Fiquei o dobro do tempo no trajeto para o trabalho e apaguei na van. Fui acordada na Barra Funda pelo motorista, com cara de pena. Mal sabia ele que eu também ficaria um bom tempo esperando o transporte do jornal.
Pior é que com medo de me atrasar demais em dia de pescoção, acabei colocando a primeira roupa que vi pela frente: uma calça jeans, que como quase todas as outras, está apertadíssima. Levantei cedo para ir à academia e fiquei pensando naquela frase do Woddy Allen: "se a decadência física é inevitável, para quê tanto execício?". Eu até gostava de malhar até bem pouco tempo atrás. Agora, devo admitir, que só tenho paciência para yoga, a qual sou super irregular em freqüência.
Uma vez no jornal, tudo que eu estava fazendo caiu. Ou foi substituído. Normal, pensei. Se o gravador digital não fosse um lixo e a expectativa de plantão das menos animadoras. Por um pedido lá de cima, serei obrigada a cobrir um maldito festival de karaokê no ABC, fora as matérias de cidades que eu detesto fazer.
Parece TPM, mas é só um péssimo humor mesmo. Minha tolerância é zero, meu saldo de três dígitos não cobre o montante de contas de quatro dígitos. Por razões óbvias, não pegarei nenhum cineminha para não morder a pessoa que sentar ao meu lado na sala porque ela resolveu respirar. O único número satisfatório em minhas contas essenciais é o das férias: faltam 38 dias para eu sair desse mal humor que até pode me pertencer em parte, no entanto, está agudo demais para suportar.
Escrito para mim...
Desabafo de um blogueiro.
De Rosana Hermann.
Quando você compra um filhote de cachorro você sabe que além de fazer gracinhas e alegrar a casa ele também vai fazer xixi e cocô no tapete, roer os móveis, puxar a cortina e mastigar seus sapatos. Só um ser humano totalmente inconsciente adquire um animal de estimação acreditando que ele é um bicho de pelúcia que se mexe.
Algo semelhante acontece quando você decide ter um blog. A diferença é que neste caso não é o blog que faz xixi e cocô pela rede mas um ou outro internauta anônimo que eventualmente entra nos comentários para deixar seus dejetos.
Ao longo desses anos todos de contato direto com o público através de sites e blogs aprendi algumas coisas básicas. A primeira delas e, talvez a mais importante, é que todo ofensor, além de ser um solene filho da puta, é uma pessoa carente. Carente, infeliz e, em última instância, doente. Digo isto com a experiência de quem involuntariamente coleciona alguns desses poucos pervertidos, entre milhares de pessoas bacanas e gentis.
Uma dessas criaturas, que gosto de pensar como sendo mulher, é uma chata de galochas que praticamente mora na porta do meu blog. Ela entra todos os dias, várias vezes, o que em tese, seria motivo de gratidão e orgulho. Pelo menos eu me sentiria assim se a freguesa viesse três vezes ao dia na minha padaria para comprar pãozinho quente. No entanto, o que a leva ao blog não é a convivência com outros leitores ou a busca de informação mas o garimpo por acentos em sílabas terminadas em ú. Não é piada, juro. E não adiantaria mandá-la para nenhum lugar adequado ao tema. Ela tem orgasmos, múltiplos, quando encontra um acento errado num ‘u’ ou num ‘i’. E quando não cometo este erro, ela tece comentários de posts anteriores onde a falha ocorreu. E, se não encontra nenhum problema com os acentos, ela sai alucinadamente buscando por vírgulas mal colocadas. Agora, sério, me diz se isso não é uma espécie de transtorno ortográfico compulsivo?
Uma outra pessoa, muito mais comprometida e nefasta, está arquivada na minha memória como um homem de pinto pequeno. Extremamente indeciso sobre sua sexualidade, ele assina ora com nomes femininos ora com masculinos, sempre com aquele ódio venenoso de quem desistiu de ser feliz. O tema recorrente para me ofender são assuntos antigos, sempre ligados a trabalhos em tv, que não têm o menor fundamento. Ao que tudo indica, deve ser algum funcionário ou funcionária que demiti ou nem contratei quando tive um cargo que permitia esse tipo de decisão. Os anos passam, a fila anda, gente nasce, gente morre e ele, sempre lá, batendo na mesma tecla. Imagino que o sofrimento dele deva ser imenso. Não consigo pensar em nenhum sofredor maior do que o vingativo amargo. Conheço uma outra pessoa assim, que não consegue ser feliz um único dia na vida, porque arrasta esqueletos produzidos durante décadas, todos amarrados em seu próprio corpo. É muito karma pra uma pessoa só.
A terceira e última criatura que vale ser mencionada, porque talvez represente um avatar que você já conheça, é a invejosa profissional. Aquela que sofre com qualquer alegria alheia. Que anda com um alfinete na bolsa para estourar balões de gás das criancinhas. A invejosa é surpreendemente ardilosa e é capaz de fazer pesquisas e contas só para saber quando você gastou no jantar que você descreveu ou a viagem que você fez. Tudo isto, claro, para tentar calcular quanto você ganha, com o único objetivo de invejar seu estilo de vida. A invejosa vibra com seus fracassos, tem frouxos de riso com suas derrotas e ataca assim que fareja um pequeno sucesso conquistado. Ela nunca escreve de forma direta, falando com o blogueiro: ela fala sobre o blogueiro com os outros leitores que, em geral, tenta cooptar para seu covil. Ela bate o pé e diz ‘bem feito’ quando você se dá mal e torce para que você se exploda. Torce apenas, não, ela está sempre pronta para ser a primeira voluntária a apertar o detonador. E se sobrar um dinheirinho, ela doa para financiar a dinamite.
Diante desses exemplos a pergunta natural seria, por que manter um blog, então? Para sofrer? Para apanhar calado sem poder saber a identidade dos agressores? A resposta é simples: porque compensa. Porque as alegrias prevalecem. Porque é meu jeito. Porque eu preciso escrever. Porque tenho muitos leitores amigos e amigos leitores. E porque assim como as bactérias têm função vital no equilíbrio de todo organismo, também esses ofensores têm um papel na blogosfera. Eles servem para nos lembrar que o mal existe, que a qualquer momento podemos ser apunhalados. Servem de contra-exemplo para que a gente não caia nessa mesma armadilha e não faça o mesmo com outros. Os infelizes mostram que a infelicidade é um fardo insuportável que devemos evitar durante a vida, perdoando, compreendendo e deixando pra lá sempre que possível. No Fashion Week da Vida eles são aqueles modelos que a gente deve ver para jamais copiar.
A única coisa que lamento mesmo é que, também ao contrário dos cães, não seja possível aplacar essas dores, iras e males desses leitores para que eles se libertem das amarras da infelicidade. Acredito que não seja possível ensinar essas pessoas a fazer cocô no lugar certo, como se faz com os bichinhos. Porque enquanto o cachorro, o gato, querem distância dos seus excrementos, essas pessoas fazem questão de deixá-los perto de si mesmas. Fazer o quê. Dizem que cada um dá o que tem de melhor. Vai ver elas só tem isso para oferecer ao universo.
Pior é que com medo de me atrasar demais em dia de pescoção, acabei colocando a primeira roupa que vi pela frente: uma calça jeans, que como quase todas as outras, está apertadíssima. Levantei cedo para ir à academia e fiquei pensando naquela frase do Woddy Allen: "se a decadência física é inevitável, para quê tanto execício?". Eu até gostava de malhar até bem pouco tempo atrás. Agora, devo admitir, que só tenho paciência para yoga, a qual sou super irregular em freqüência.
Uma vez no jornal, tudo que eu estava fazendo caiu. Ou foi substituído. Normal, pensei. Se o gravador digital não fosse um lixo e a expectativa de plantão das menos animadoras. Por um pedido lá de cima, serei obrigada a cobrir um maldito festival de karaokê no ABC, fora as matérias de cidades que eu detesto fazer.
Parece TPM, mas é só um péssimo humor mesmo. Minha tolerância é zero, meu saldo de três dígitos não cobre o montante de contas de quatro dígitos. Por razões óbvias, não pegarei nenhum cineminha para não morder a pessoa que sentar ao meu lado na sala porque ela resolveu respirar. O único número satisfatório em minhas contas essenciais é o das férias: faltam 38 dias para eu sair desse mal humor que até pode me pertencer em parte, no entanto, está agudo demais para suportar.
Escrito para mim...
Desabafo de um blogueiro.
De Rosana Hermann.
Quando você compra um filhote de cachorro você sabe que além de fazer gracinhas e alegrar a casa ele também vai fazer xixi e cocô no tapete, roer os móveis, puxar a cortina e mastigar seus sapatos. Só um ser humano totalmente inconsciente adquire um animal de estimação acreditando que ele é um bicho de pelúcia que se mexe.
Algo semelhante acontece quando você decide ter um blog. A diferença é que neste caso não é o blog que faz xixi e cocô pela rede mas um ou outro internauta anônimo que eventualmente entra nos comentários para deixar seus dejetos.
Ao longo desses anos todos de contato direto com o público através de sites e blogs aprendi algumas coisas básicas. A primeira delas e, talvez a mais importante, é que todo ofensor, além de ser um solene filho da puta, é uma pessoa carente. Carente, infeliz e, em última instância, doente. Digo isto com a experiência de quem involuntariamente coleciona alguns desses poucos pervertidos, entre milhares de pessoas bacanas e gentis.
Uma dessas criaturas, que gosto de pensar como sendo mulher, é uma chata de galochas que praticamente mora na porta do meu blog. Ela entra todos os dias, várias vezes, o que em tese, seria motivo de gratidão e orgulho. Pelo menos eu me sentiria assim se a freguesa viesse três vezes ao dia na minha padaria para comprar pãozinho quente. No entanto, o que a leva ao blog não é a convivência com outros leitores ou a busca de informação mas o garimpo por acentos em sílabas terminadas em ú. Não é piada, juro. E não adiantaria mandá-la para nenhum lugar adequado ao tema. Ela tem orgasmos, múltiplos, quando encontra um acento errado num ‘u’ ou num ‘i’. E quando não cometo este erro, ela tece comentários de posts anteriores onde a falha ocorreu. E, se não encontra nenhum problema com os acentos, ela sai alucinadamente buscando por vírgulas mal colocadas. Agora, sério, me diz se isso não é uma espécie de transtorno ortográfico compulsivo?
Uma outra pessoa, muito mais comprometida e nefasta, está arquivada na minha memória como um homem de pinto pequeno. Extremamente indeciso sobre sua sexualidade, ele assina ora com nomes femininos ora com masculinos, sempre com aquele ódio venenoso de quem desistiu de ser feliz. O tema recorrente para me ofender são assuntos antigos, sempre ligados a trabalhos em tv, que não têm o menor fundamento. Ao que tudo indica, deve ser algum funcionário ou funcionária que demiti ou nem contratei quando tive um cargo que permitia esse tipo de decisão. Os anos passam, a fila anda, gente nasce, gente morre e ele, sempre lá, batendo na mesma tecla. Imagino que o sofrimento dele deva ser imenso. Não consigo pensar em nenhum sofredor maior do que o vingativo amargo. Conheço uma outra pessoa assim, que não consegue ser feliz um único dia na vida, porque arrasta esqueletos produzidos durante décadas, todos amarrados em seu próprio corpo. É muito karma pra uma pessoa só.
A terceira e última criatura que vale ser mencionada, porque talvez represente um avatar que você já conheça, é a invejosa profissional. Aquela que sofre com qualquer alegria alheia. Que anda com um alfinete na bolsa para estourar balões de gás das criancinhas. A invejosa é surpreendemente ardilosa e é capaz de fazer pesquisas e contas só para saber quando você gastou no jantar que você descreveu ou a viagem que você fez. Tudo isto, claro, para tentar calcular quanto você ganha, com o único objetivo de invejar seu estilo de vida. A invejosa vibra com seus fracassos, tem frouxos de riso com suas derrotas e ataca assim que fareja um pequeno sucesso conquistado. Ela nunca escreve de forma direta, falando com o blogueiro: ela fala sobre o blogueiro com os outros leitores que, em geral, tenta cooptar para seu covil. Ela bate o pé e diz ‘bem feito’ quando você se dá mal e torce para que você se exploda. Torce apenas, não, ela está sempre pronta para ser a primeira voluntária a apertar o detonador. E se sobrar um dinheirinho, ela doa para financiar a dinamite.
Diante desses exemplos a pergunta natural seria, por que manter um blog, então? Para sofrer? Para apanhar calado sem poder saber a identidade dos agressores? A resposta é simples: porque compensa. Porque as alegrias prevalecem. Porque é meu jeito. Porque eu preciso escrever. Porque tenho muitos leitores amigos e amigos leitores. E porque assim como as bactérias têm função vital no equilíbrio de todo organismo, também esses ofensores têm um papel na blogosfera. Eles servem para nos lembrar que o mal existe, que a qualquer momento podemos ser apunhalados. Servem de contra-exemplo para que a gente não caia nessa mesma armadilha e não faça o mesmo com outros. Os infelizes mostram que a infelicidade é um fardo insuportável que devemos evitar durante a vida, perdoando, compreendendo e deixando pra lá sempre que possível. No Fashion Week da Vida eles são aqueles modelos que a gente deve ver para jamais copiar.
A única coisa que lamento mesmo é que, também ao contrário dos cães, não seja possível aplacar essas dores, iras e males desses leitores para que eles se libertem das amarras da infelicidade. Acredito que não seja possível ensinar essas pessoas a fazer cocô no lugar certo, como se faz com os bichinhos. Porque enquanto o cachorro, o gato, querem distância dos seus excrementos, essas pessoas fazem questão de deixá-los perto de si mesmas. Fazer o quê. Dizem que cada um dá o que tem de melhor. Vai ver elas só tem isso para oferecer ao universo.
Caríssima Ludj,
ResponderExcluirTer um blog compensa mesmo. Pra mim, a liberdade é a principal razão de manter dois butecos virtuais. Na verdade, pratico tal liberdade mais no meu. O outro serve pra divulgar um trabalho.
Quando você citou Woody Allen, pensei em quantas coisas a gente faz em vão. Ou talvez não sejam em vão. Só um capítulo intitulado Carpe Diem.
No mais, Gerais. Adorei o blog. Estarei sempre por aqui.
Um beijo e um fraterno abraço.
Olá, Alex: obrigada pela visita. Darei uma olhadinha no seu blog também. Beijo
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