15 anos
Foi numa final de campeonato brasileiro. Cruzeiro X Corinthians. Meu time perdeu. De longe ouvi um "gol, porra!" do meu pai. Ele estava com radinho de pilha em plena colação de grau, mas ninguém se importava. Final era final.
Ali se encerrava um ciclo. Apesar de ter entrado na faculdade com apenas 17 anos, eu sabia o que queria. Aos 21 tinha a mesma certeza. 15 anos depois, sou reticente. Não se trata de arrependimento, mas de buscar a tal alternativa.
Se não fosse jornalismo, seria história, letras e qualquer curso que não entra no ranking da revista Exame como promissor.
Tem dias que eu acho que ser jornalista é como ser ascensorista. Os prédios começam a eliminar elevadores antigos, os novos não precisam de condutores. Eles conversam com a gente, acima deles há monitores com notícias e previsão do tempo.
Tem dias que eu não digo pro motorista de táxi, com um jornal no banco da frente, qual a minha profissão. Por que? Eventualmente, não quero ser pautada, interrogada sobre algum podre que só eu deveria saber ou ver a cara de decepção do sujeito quando ele descobre que não denuncio os buracos da cidade.
Há dias especialmente bons, de entrevistados que fazem tudo valer a pena.
Eu ainda guardo jornais, como fazia quando sonhava em ser jornalista.
Há os dias de correria, de refeições trocadas por sanduíches gordurosos.
Foram duas ou três vezes que me tranquei no banheiro para chorar porque minha reportagem foi arruinada.
A primeira delas, no Grupo Corpo. Gravei uma série de entrevistas, e quando cheguei na TV, a fita estava estragada. Para melhorar, não havia fita liberada. Não era "matéria cair" simplesmente.
Tive chefes que me ensinaram e me ensinam mais que todo o corpo docente da faculdade.
A maioria, se não virou amigo, me respeitou profundamente.
Uma vez eu estava dura que só. Esperava a hora do jantar no bandejão porque a geladeira estava vazia em casa. Ganhei um ingresso para um espetáculo que queria muito ir, porém não havia espaço para crítica no jornal. Entendi que perderia, mas meu chefe pediu um carro para me levar e buscar ao teatro, pois como repórter, mesmo que não desse samba, eu tinha que acompanhar.
Existem ex-colegas com quem não desejo trabalhar novamente. São pouquíssimos, na verdade.
Existem alguns que até ficam distantes, em suas editorias e outros veículos, mas são pessoas com quem gostaria de desenvolver um projeto, tamanha é minha admiração por elas.
O salário do jornalista é desanimador no Brasil inteiro.
Os sindicatos dos jornalistas não são atuantes.
Fico me perguntando se não ser sindicalizada é como votar nulo...
Jogo na loteria para deixar de ser jornalista.
Desde 1998 faço frilas e coloco música em festas (essas brincadeiras deram origem ao Ludj, o meu nome "artístico" que batiza também este blog).
Tentei até me dedicar a pequenos jantares como forma de renda extra.
Tentei fugir para o cinema, mas não tendo grana e/ ou influências, senti que o campo estava minado.
Neste ano, mais que os outros, ouvi um monte de gente dizendo que "jornalistas mortos não mentem".
Também na edição comemorativa do diploma, nunca presenciei tantas demissões nas redações.
Dizem que o jornalismo vai morrer.
Eu mesma tive mais de um recomeço na carreira, mais de cinco funções.
Trabalhei em todas as mídias.
Vivi um ano e meio numa redação fora da minha cidade.
De certa maneira, atualmente, também trabalho em outra cidade.
Gosto muito das pessoas que me cercam, aprendo com elas, com meus entrevistados, com meus erros.
Sempre me senti mais realizada trabalhando com cultura do que com qualquer outro assunto. Acho super importante e valorizo a turma investigativa, no entanto, ainda sinto por parte de alguns um ar de desprezo, como se o que eu fizesse se resumisse a ver show, filme e peça de graça.
Honestamente? Muito do que me chateia no modos vivendi e operandi não vai mudar.
Eu mudei muito, felizmente, nessa jornada.
O jornalismo me tirou e me deu.
Dizem que é cachaça, "marvada".
Só não sei (talvez nunca saberei) quantas doses me restam.
Ali se encerrava um ciclo. Apesar de ter entrado na faculdade com apenas 17 anos, eu sabia o que queria. Aos 21 tinha a mesma certeza. 15 anos depois, sou reticente. Não se trata de arrependimento, mas de buscar a tal alternativa.
Se não fosse jornalismo, seria história, letras e qualquer curso que não entra no ranking da revista Exame como promissor.
Tem dias que eu acho que ser jornalista é como ser ascensorista. Os prédios começam a eliminar elevadores antigos, os novos não precisam de condutores. Eles conversam com a gente, acima deles há monitores com notícias e previsão do tempo.
Tem dias que eu não digo pro motorista de táxi, com um jornal no banco da frente, qual a minha profissão. Por que? Eventualmente, não quero ser pautada, interrogada sobre algum podre que só eu deveria saber ou ver a cara de decepção do sujeito quando ele descobre que não denuncio os buracos da cidade.
Há dias especialmente bons, de entrevistados que fazem tudo valer a pena.
Eu ainda guardo jornais, como fazia quando sonhava em ser jornalista.
Há os dias de correria, de refeições trocadas por sanduíches gordurosos.
Foram duas ou três vezes que me tranquei no banheiro para chorar porque minha reportagem foi arruinada.
A primeira delas, no Grupo Corpo. Gravei uma série de entrevistas, e quando cheguei na TV, a fita estava estragada. Para melhorar, não havia fita liberada. Não era "matéria cair" simplesmente.
Tive chefes que me ensinaram e me ensinam mais que todo o corpo docente da faculdade.
A maioria, se não virou amigo, me respeitou profundamente.
Uma vez eu estava dura que só. Esperava a hora do jantar no bandejão porque a geladeira estava vazia em casa. Ganhei um ingresso para um espetáculo que queria muito ir, porém não havia espaço para crítica no jornal. Entendi que perderia, mas meu chefe pediu um carro para me levar e buscar ao teatro, pois como repórter, mesmo que não desse samba, eu tinha que acompanhar.
Existem ex-colegas com quem não desejo trabalhar novamente. São pouquíssimos, na verdade.
Existem alguns que até ficam distantes, em suas editorias e outros veículos, mas são pessoas com quem gostaria de desenvolver um projeto, tamanha é minha admiração por elas.
O salário do jornalista é desanimador no Brasil inteiro.
Os sindicatos dos jornalistas não são atuantes.
Fico me perguntando se não ser sindicalizada é como votar nulo...
Jogo na loteria para deixar de ser jornalista.
Desde 1998 faço frilas e coloco música em festas (essas brincadeiras deram origem ao Ludj, o meu nome "artístico" que batiza também este blog).
Tentei até me dedicar a pequenos jantares como forma de renda extra.
Tentei fugir para o cinema, mas não tendo grana e/ ou influências, senti que o campo estava minado.
Neste ano, mais que os outros, ouvi um monte de gente dizendo que "jornalistas mortos não mentem".
Também na edição comemorativa do diploma, nunca presenciei tantas demissões nas redações.
Dizem que o jornalismo vai morrer.
Eu mesma tive mais de um recomeço na carreira, mais de cinco funções.
Trabalhei em todas as mídias.
Vivi um ano e meio numa redação fora da minha cidade.
De certa maneira, atualmente, também trabalho em outra cidade.
Gosto muito das pessoas que me cercam, aprendo com elas, com meus entrevistados, com meus erros.
Sempre me senti mais realizada trabalhando com cultura do que com qualquer outro assunto. Acho super importante e valorizo a turma investigativa, no entanto, ainda sinto por parte de alguns um ar de desprezo, como se o que eu fizesse se resumisse a ver show, filme e peça de graça.
Honestamente? Muito do que me chateia no modos vivendi e operandi não vai mudar.
Eu mudei muito, felizmente, nessa jornada.
O jornalismo me tirou e me deu.
Dizem que é cachaça, "marvada".
Só não sei (talvez nunca saberei) quantas doses me restam.
Que lindo! Sofro do mesmo "mal", que nem é tão mal assim ;) Parabéns pelos 15 anos de profissão!
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