Lou Reed

Lou Reed se foi.
Eu não tomei um porre como a ocasião pedia. Queria ter enxugado uma garrafa de Jack Daniel's e colocado "Satellite of Love" no último volume, no meu apartamento, até a polícia aparecer. Se a polícia aparecesse, diria desaforos...tudo isso, claro, no meu imaginário wild side.
Ele se foi e eu não quis acreditar na informação. Estava de plantão, lapidando contra o tempo o texto seco que chegou pela agência de notícias.
Mal dormi.
Pensei na vida besta, no despertador, nas frutinhas matinais, nos glóbulos que seguram a frustração, no hábito de sair correndo todo dia - inutilmente - para não me atrasar,  no ato de passar o cartão de ponto, na preocupação com as contas.
Pensei na banalidade dessa escrita, que só tenho o disco clássico com a capa do Andy Warhol em CD e um punhado de MP3 da carreira solo do Lou Reed. O resto era K7, minhas fitinhas antes tão rodadas, viraram poeira. "Disco é cultura", mas disco era tão caro!
O fato é que não estou aqui para resenhar porra nenhuma, para dar uma de enciclopédia musical, para fazer ranking de canções importantes que ele compôs. Enquanto qualquer tipo de arte me comover de alguma maneira, não preciso de teorias.
Lou Reed se foi.
O mundo está mais careta, eu já não sou tão jovem. Ele escrevia, fotografava, compunha, atuava, transgredia. Eu sigo nesse toada de um dia de cada vez, para não pirar. Quando me pego resignada, tento me lembrar das noites dançando no escuro, das pouquíssimas porra-louquices que fiz até hoje. Devia ter feito mais.
Há quem tenha inveja de quem viaja para lugares maravilhosos todos os anos, de quem ganhe super salários, até de quem não tenha celulite...
Eu tenho inveja de quem é livre, como o Lou Reed.






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