Simplesmente Alice

Faz um tempo que eu devia uma poesia, um post ou qualquer homenagem mais explícita a ela. É que a dor de perder o Tétinho ainda não passou. Nós duas ainda sentimos a falta dele, ainda o procuramos pela casa. Ele era nosso lord gato, exuberante e doce. Nós duas somos falantes, meio loucas e estamos nos ajustando. Tanto a nós mesmas quanto às ausências. Por isso dormimos grudadas. Viro e mexo e lá está ela, com a patinha colada no meu braço, fazendo carinho, dando lambidinhas com a língua áspera como uma lixa.

Alice.
O nome foi em homenagem ao Alice in Chains, que eu amava nos anos 90. Já havia o Téti e uma imensa crise conjugal, o prenúncio da separação. Só eu a queria. Era pequena, meu negro amor. Temeu os primeiros dias na casa nova dominada pelo persa mimado. Tétinho, esse por quem ainda nossos corações se apertam.

Alice venceu o "this is a man's world". Impôs seu miado agudo, seu jeito malandro vira-lata como a gata cantada pela Nara em "Os Saltimbancos". Perdeu a casa mais de uma vez, e nunca teve dúvidas sobre quem era, afinal, sua mãe. E ainda dizem que felinos são interesseiros...

Ela pula no meu colo todas as noites, quando chego exausta. Espera que todo o ritual seja cumprido (colocar mais ração, mais água, limpar a brita, tomar banho, passar os mil cremes no rosto e corpo, pegar as revistas e livros que irão para a cama, desligar as luzes, acender o abajur, chamá-la). E faz charme até o último momento, pois não é facinha...não, não mesmo.

De madrugada, em toda minha agitação durante o sono, Alice pode até dar umas voltas pela casa, contudo - e invariavelmente- acordará ao meu lado, odiando a ideia de eu levantar da cama. E vai comigo ao banheiro, à cozinha quando eu vou beber água no modo quase sonâmbulo. Pula novamente na cama e tenta impedir a arrumação, como se fosse uma estratégia bem bolada para eu não trabalhar.

No café, fica louca, pois ama manhãs com peito de peru e iogurte. Fica brava quando o menu é cereal ou café preto, sem complementos compartilháveis.

Entra no armário e se esconde, já num instante inconveniente. "Alice, cadê você?". Não suportaria ficar sem minha pretinha. E, num misto de amor e raiva (sempre estou super atrasada quando ela some), eu a procuro em todos os cantinhos.

Alice ouve as minhas abobrinhas, me vê dançando de calcinha pela casa, põe a cabecinha no meu ombro quando acho que estou chorando sozinha. Alice me observa tomando banho, acompanha o passo-a-passo da maquiagem pré-balada (com direito a dar sumiço em pincéis), lê jornal comigo (deitando em cima da parte que me interessa), reclama quando eu coloco a música no repeat, detesta internet, TV a cabo e qualquer coisa que me distraia, pois ela é a estrela.

Na verdade, ela é minha constelação, meu amorzinho, minha panterinha, meu bebê, minha filhinha. Sei que o mundo torce o nariz para quem acha que cães e gatos são da família, porém desde a chegada de Tétinho em minha vida tudo mudou. Ou, talvez, porque eu seja parte desse artigo e o meu lado maternal foi canalizado para eles, Téti e Alice. Não sei se terei filhos. Gostaria, claro. No entanto, parei de sofrer com isso... Então, brinco com minha filha de quatro patas, que mia como louca, destrói meu sofá, ama meus dias de folga e ainda dorme de conchinha (e olha que eu nem gosto, me sufoca. Mas Alice pode. Alice pode quase tudo). Ao menos para Alice, eu simplesmente sou o máximo.




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