Sobre a vontade de voltar a ser estrangeira

Caminhava na larga avenida onde ninguém me conhecia. Quadras e mais quadras. Nenhum "ei, você por aqui?". Entrava num cinema de galeria, sem me preocupar com o que estava em cartaz. Um café, CPF na nota, metrô e casa. Observava janelas com luzes acesas e quem as conservava assim alta noite.

Parece que foi ontem.

Vagar pela Liberdade e me sentir no Japão, na China, na Coreia...lost in translation. "Qual o preço dessa echarpe?"(sem resposta imediata). A vendedora conversava com o gerente que devia ser seu pai. Poderiam estar me xingando. Jamais saberia.

E as ruas arborizadas para se perder, os endereços que eram verdadeiros achados, o sorriso do outro quando eu soltava inadvertidamente um "uai". O brinde com amigos, a vida sem ninguém, as horas insanas de trabalho, o noitão da sala do HSBC...e assistir ao New Order em plena terça, ter um cara lindo oferendo um drink no balcão de um bar descolado, sentir-se numa canção do Ira!

Posso voltar? Aquela cidade ainda existe?

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