Economizando palavras

No blog, nas redes sociais. Talvez por conta do período que antecede a comemoração de mais um outono... Estou lendo mais. Fato.

Mas para não deixar tantas lacunas, minha resenha sobre o novo Radiohead, publicada no Magazine de segunda-feira.

Radiohead equilibra climas em novo disco

A expectativa em torno do oitavo álbum de estúdio do Radiohead existia desde 2010, quando a banda anunciou, em seu site oficial, que havia concluído a gravação. "The King of Limbs" não havia sido sequer batizado. Na ocasião, o guitarrista Ed O’ Brien disse à BBC que o disco era o melhor que a banda produzira até então em sua opinião. Mas meses depois, o baixista Colin Greenwood viria a afirmar, em outra entrevista, que o projeto seria arquivado. Um balde de água gelada para os fãs que desde o genial "In Rainbowns", de 2007, se contentavam com os singles "Harry Patch (In Memory Of)" e "These Are My Twisted Words".


O quinteto quebrou o silêncio na segunda-feira da semana passada, dia 14. Mais uma vez, em sua página na internet, informou como seria disponibilizado "The King of Limbs". Diferentemente do esquema anterior, no qual podia-se pagar pelo disco um valor indeterminado, dessa vez as opções iam de US$ 9 a US$ 53, compreendendo desde formatos digitais ao vinil, em edição luxuosa, que sairá em 9 de maio. Quem optou pela pré-venda, surpreendeu-se com a antecipação da entrega das músicas em um dia. Afinal, era sexta-feira, a lua estava linda e o Radiohead queria que todos aproveitassem o fim de semana. E foi assim, em tom poético e generoso que Ed O’ Brien deu o recado.


"Lotus Flower" foi o primeiro presente que o Radiohead colocou na rede. O videoclipe, dirigido por Garth Jennings, é minimalista. Thom Yorke canta e dança (coreografado por Wayne McGregor) com sua intensidade habitual. Um artista que se expressa como poucos. Quem teve a oportunidade de assistir aos shows no Brasil, em 2009, sabe que há momentos lindos e desconcertantes quando as câmeras se aproximam dele. "Lotus Flower" entrou para os tópicos mais comentados do Twitter e do Facebook dividindo opiniões: houve quem captasse a intenção do vocalista e quem fizesse piada.


Talvez fosse essa a intenção do Radiohead, pois é impossível ser indiferente à obra que o grupo vem construindo desde "Pablo Honey". A zona de conforto nunca foi o lugar preferido dos britânicos que adoram mergulhar em experimentos musicais. Nesse sentido, são necessárias diversas audições ao novo trabalho. Mais do que gostar ou não gostar, é preciso exercitar, entender que por trás de cada acorde, textura ou nuance houve um processo de criação em continuidade.


"The King of Limbs" traz belezas, como a melodiosa "Codex" e a bem delineada "Separator". Thom Yorke canta de forma cristalina, por vezes visceral, combinando de maneira perfeita com a criatividade e a competência dos irmãos Jonny, na guitarra, e Colin Greenwood, Ed O’ Brien e Phil Selway, na bateria. O mais interessante é quando parecem existir notas dissonantes, barulhinhos e estranhezas permeando os caminhos. Nesses momentos residem a grandeza da banda que, por mais que possua um "frontman" emblemático, não é, como no título do livro de Moacyr Scliar, "exército de um homem só".


Por fim, é sempre intrigante tentar imaginar como o Radiohead faz suas escolhas e consegue, com maestria, seqüências como "Little by Little" e "Feral". É arte para ficar impregnada nos membros, sentidos e ideias. Valeu esperar por "The King of Limbs" por meses ou dias, depende do ponto de vista, para dançar conforme a música ou conforme o Thom.

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