Depois da Tempestade
- Eu não sei quanto a você, mas eu quero me casar de novo.
- Não acho que o que eu quero esteja necessariamente num casamento.
- E o que você procura?
- Alguém que esteja comigo para o que der e vier.
Foi assim que conheci Renato. E toda parte decidida da conversa (a do compromisso sacramentado) refere-se a ele. Ficamos na chuva, parados em vários trechos da avenida do Contorno, falando sobre relações passadas e os presentes desencontros amorosos...
Corta para dois dias antes.
- Você viu aquele garoto? Pegou a mão da menina e, sem medo do que os amigos falariam, foi conversar com ela. Não é pouca coisa para quem tem 15 anos.
- Mas ela não está nem aí para ele. A típica menina "mais bonita da sala".
- Pois é. Ele vai tomar um fora, tadinho.
- Viu? Ela foi embora...
- Também, por que ele não abordou uma garota mais normal? Tinha que ir atrás daquela que o rejeitaria?
- Olha os amigos tirando sarro dele! Mas dei moral para o garoto. Ele está dizendo: "pelo menos eu tentei".
Foi assim que eu e uma amiga assistimos de camarote a um dos primeiros foras de um cara. Achamos o menino um fofo e a menina uma chata. Isso porque já estamos na casa dos 30. Aos 15 eu jamais teria dado atenção para alguém da minha sala. E foi o que a garota fez. Foi coerente. E eu devia ter me contido antes de soltar: "daqui 10 anos você vai ver como será diferente".
Corta para um dia depois. Fila do caixa para pagar o frango assado numa delicatessen.
- Por favor, senhor.
- Não, obrigado.
- Eu insisto: o ritmo do caixa está lento.
- De jeito nenhum. Eu sou bem mais velho que você, mas você é uma moça. As moças sempre terão preferência.
No meio da troca de gentilezas surge um gordinho, de uns 37 anos, sem aliança nas mãos. Ele se irrita com a mãe, na minha frente.
- Por que está aí? Nosso pedido quase saiu e você está aí parada.
- A fila é única meu filho. Preciso pagar o que pedimos.
Não me aguentei (de novo).
- A fila está mesmo longa. Você devia deixar sua mãe descansar na cadeira lá fora e assumir o lugar.
Ele me olhou com raiva.
- Isso mesmo meu filho, aproveita e pega uma Coca-Cola.
O gordinho, quase quarentão, abriu a geladeira com fúria. Deixou o refrigerante cair no chão. Ficou vermelho. Bufou.
Minutos depois, eu e o senhor seguimos para outra fila: a da retirada do protagonista da televisão de cachorro.
- Me desculpe pela pergunta moça, mas você já tem filhos?
- Não senhor.
- Se tivesse, seria uma ótima mãe porque saberia como educá-lo.
- Ah, obrigada.
Pensei: havia alguma razão divina mesmo para que eu não tivesse uma criança para criar...Ou não.
Volta para hoje.
Eu estava tentando resolver, na base da terapia, minha implicância com os moços na faixa do 25-40 anos, e, observando ações e reações somente a nova e a velha guarda por me achar no universo em desencanto. Então, veio o Renato e bagunçou tudo na segunda chuvosa.
Ouço "Codex".
Não encontro respostas.
E quando faço as perguntas para mim mesma, para as minhas amigas, no divã, para o Renato, que mal conheço, o efeito é boomerang.
- Não acho que o que eu quero esteja necessariamente num casamento.
- E o que você procura?
- Alguém que esteja comigo para o que der e vier.
Foi assim que conheci Renato. E toda parte decidida da conversa (a do compromisso sacramentado) refere-se a ele. Ficamos na chuva, parados em vários trechos da avenida do Contorno, falando sobre relações passadas e os presentes desencontros amorosos...
Corta para dois dias antes.
- Você viu aquele garoto? Pegou a mão da menina e, sem medo do que os amigos falariam, foi conversar com ela. Não é pouca coisa para quem tem 15 anos.
- Mas ela não está nem aí para ele. A típica menina "mais bonita da sala".
- Pois é. Ele vai tomar um fora, tadinho.
- Viu? Ela foi embora...
- Também, por que ele não abordou uma garota mais normal? Tinha que ir atrás daquela que o rejeitaria?
- Olha os amigos tirando sarro dele! Mas dei moral para o garoto. Ele está dizendo: "pelo menos eu tentei".
Foi assim que eu e uma amiga assistimos de camarote a um dos primeiros foras de um cara. Achamos o menino um fofo e a menina uma chata. Isso porque já estamos na casa dos 30. Aos 15 eu jamais teria dado atenção para alguém da minha sala. E foi o que a garota fez. Foi coerente. E eu devia ter me contido antes de soltar: "daqui 10 anos você vai ver como será diferente".
Corta para um dia depois. Fila do caixa para pagar o frango assado numa delicatessen.
- Por favor, senhor.
- Não, obrigado.
- Eu insisto: o ritmo do caixa está lento.
- De jeito nenhum. Eu sou bem mais velho que você, mas você é uma moça. As moças sempre terão preferência.
No meio da troca de gentilezas surge um gordinho, de uns 37 anos, sem aliança nas mãos. Ele se irrita com a mãe, na minha frente.
- Por que está aí? Nosso pedido quase saiu e você está aí parada.
- A fila é única meu filho. Preciso pagar o que pedimos.
Não me aguentei (de novo).
- A fila está mesmo longa. Você devia deixar sua mãe descansar na cadeira lá fora e assumir o lugar.
Ele me olhou com raiva.
- Isso mesmo meu filho, aproveita e pega uma Coca-Cola.
O gordinho, quase quarentão, abriu a geladeira com fúria. Deixou o refrigerante cair no chão. Ficou vermelho. Bufou.
Minutos depois, eu e o senhor seguimos para outra fila: a da retirada do protagonista da televisão de cachorro.
- Me desculpe pela pergunta moça, mas você já tem filhos?
- Não senhor.
- Se tivesse, seria uma ótima mãe porque saberia como educá-lo.
- Ah, obrigada.
Pensei: havia alguma razão divina mesmo para que eu não tivesse uma criança para criar...Ou não.
Volta para hoje.
Eu estava tentando resolver, na base da terapia, minha implicância com os moços na faixa do 25-40 anos, e, observando ações e reações somente a nova e a velha guarda por me achar no universo em desencanto. Então, veio o Renato e bagunçou tudo na segunda chuvosa.
Ouço "Codex".
Não encontro respostas.
E quando faço as perguntas para mim mesma, para as minhas amigas, no divã, para o Renato, que mal conheço, o efeito é boomerang.
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