Dali, de Salvador




Hoje trabalhei na Bahia. O bate-volta para uma reunião é sempre um processo demorado, mas como as férias de 2008 foram engavetadas, viro uma espécie de "turista acidental" nessas poucas oportunidades de sair de Belo Horizonte.

Confesso que fico melhor quando deixo para trás as montanhas que agora me sufocam. Uma hora e vinte de percursso: já avisto o mar pela janela do avião. Recepcionada por baianas que entregam a batida fitinha do Senhor do Bonfim, quase esqueço que não estou a passeio.

O céu cinza, ironicamente, ameniza o peso da viagem a negócios. Como o táxi é mais caro, não dá para esquecer o recibo da prestação de contas de jeito nenhum, mesmo com o motorista todo prosa.

Gosto bastante dos baianos. São pessoas simples, cordiais, extremamente informadas e, mais ainda, desencanadas. Ir a um encontro corporativo sem se preocupar com as unhas vermelhas e a calça jeans é algo que só mesmo para quem pode "passar uma tarde em Itapoã".

Parei no shopping ao lado do local da reunião para o almoço. Ainda que fosse fast food, não me contive: escolhi um prato com camarão e uma jarra de água côco. Nessas horas eu sempre sou mineira jacu ou perpetuo o ditado/ clichê, "em Roma como os romanos". Claro que queria, no fundo, ter pedido acarajé ou moqueca, entretanto a desconfiança/ estupidez/ dúvida me importunaram: "e se eu passar mal com o azeite de dendê no meio da apresentação"?

Cheguei antes da hora ao encontro profissional. Correu tudo de maneira muito tranqüila, contudo a reunião se prolongou mais do que o previsto. Saí na hora que deveria estar na sala de embarque e, a 30 minutos do aeroporto. Pouco poderia ser feito.

Peguei um motorista mais gente fina até que o primeiro, que falou de tudo: como a cidade cresceu desordenadamente, como o clima mudou rapidamente, como não havia boa vontade política no Brasil. Supreendentemente, eu não estava esbaforida ou nervosa. Alguma coisa me dizia que o vôo atrasaria (em BH foi super pontual). Fiz apenas uma ligação para minha mãe para que ela tentasse um plano b com a agência de turismo, uma vez que tinha um engarrafamento no meio do caminho.

Minutos depois, estaria voando. Antes de sair do táxi, o simpático motorista afirmou que eu voltaria para casa com certeza. No balcão da cia aérea me alertaram que era bom eu correr. E foi o que fiz com um escarpin maldito. Ao chegar no portão sete, senti um líquido incômodo no calcanhar. Minha pele estava em carne viva.

Acho que foi meio simbólica a escolha do sapato errado. Quando o tirei no avião, senti uma certa tristeza de estar indo justamente para Belo Horizonte, como a Gata Borralheira deve ter sentido quando saiu do baile incrível. E se eu parasse em São Paulo? E se eu fosse para o destino final, Porto Alegre?

"Tripulação preparada para o pouso", informou o comandante. Peguei meus pertences e segui meio mancando, meio na ponta dos pés até o ponto do ônibus que faz conexão Confins - Centro. Nem parecia que tudo correu bem. Ao ouvir "notícias do trabalho" pelo telefone quando liguei para avisar da minha chegada, o humor mudou na hora e eu já azedei de tabela quem estava do outro lado. Meus pés doiam, eu estava com fome e o cansaço bateu impiedoso.

Se algumas conclusões podem ser tiradas disso tudo, vamos lá: estou evidentemente estressada e insatisfeita. Mas sei que isso é só a superfície. No fundo, eu preciso arquitetar meu plano de fuga...

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