Eu não sei ainda colocar links permanentes no blog por causa desse meu template. Mas vai a dica de um blog que eu ando lendo basatnte, o Blônicas, que traz ótimos textos como o que segue abaixo.

Por Rosana Hermann

Ontem eu não tomei café da manhã. Saí em jejum e fui para uma reunião.
Na hora do almoço, fiquei conversando e praticamente não comi. A comida esfriou e enrijeceu a tal ponto que eu não consegui cortar o alimento com a faca.
(É, é papo de blog, mas blog é o tema. O link já vem.)

Assim, depois de um dia de muito trabalho e poucas calorias, atingi o avançado horário das nove da noite com o estômago liderando um motim em protesto à greve de fome da turma da boca fechada.

A hipoglicemia embaçava a tela do laptop e o cérebro deu um reboot na memória. Abandonei o recinto, guardei metade do meu escritório-móvel na mochila, metade numa pasta de mão e saí do prédio em busca de víveres. A única coisa aberta era uma sub padoca bem nojenta onde uma atendente idem rescaldou um enroladinho queimado e gelado cobrando três reais. Morto por morto, pedi um cadáver mais jovem. Peguei, paguei e saí mastigando o finado pela Avenida Paulista. Um homem alto me parou dizendo que era aidético e estava com fome. Imediatamente ofereci meu lanche e fiquei bastante surpresa quando ele o recusou com cara de asco dizendo que preferia dinheiro. Segui.

Fazia muito frio, ventava e, com a boca cheia de pão, o saquinho numa mão e o laptop na outra, tentei raciocinar com que membro inferior eu faria sinal para parar um táxi. Exatamente neste momento tão frágil da minha existência, um simpático casal me abordou sorrindo. Ele me chamou pelo nome e logo se identificou como leitor do Blônicas e do meu blog e começou a conversar alegremente. Sem conseguir mastigar e falar, cobri a boca com o saquinho de pão enquanto a garota ria do meu ridículo. Finalmente engoli a mordida, pedi um segundo, virei de costas, limpei os fragmentos do pão da cara, deixando os da roupa e novamente, de frente, cumprimentei-os com beijos. Fiquei verdadeiramente feliz. Encontrar leitores de blog é uma experiência enternecedora, estimulante, entusiasmante, edificante e outros termos começados por e.

Encontrar pessoas que conhecem o autor pela televisão é diferente, porque no caso do leitor do blog, o texto precede a imagem, a relação é com a escrita. Escrita online, que também difere do leitor de um livro. O leitor online é freqüente, acompanha, volta sempre, desenvolve uma relação de mão dupla. Já conheci muitos leitores de blog, em encontros marcados, fortuitos, inesperados. Uma vez, encontrei uma leitora do blog em Buenos Aires, um momento marcante, justamente por ter ultrapassado as fronteiras nacionais. Nesta hora a gente sente que a rede é mesmo mundial. Recentemente, em Londres, fui ciceroneada por dois leitores do blog que eu só conhecia no mundo virtual, em passeios inesquecíveis e evidentemente registrados em foto e vídeo.

Na confusão das mãos, malas, migalhas, beijos, pressa e ventania, esqueci de perguntar o nome dele. Pena. Eu queria saber seu nome. Pronunciá-lo em voz alta, repeti-lo, emanar a vibração de seu nome para o universo. Não deu, esqueci mesmo. Foi a pressa. Ou a emoção. Mas fica aqui meu muito obrigada, a você, leitor na calçada. Hoje, escrevi para você.


Eu vi ontem e achei do caralho.

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