E para encerrar bem o final de semana, mais dois filmes:





E eu ontem escrevi esta crônica:

36 meses - Ludmila Azevedo

Foi Martha Medeiros em sua certeira crônica “A impontualidade do amor” quem escreveu as palavras mais sábias: “jamais espere ouvir ‘eu te amo’ num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após o primeiro encontro. O amor odeia clichês. Você vai ouvir ‘eu te amo’ numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, ou quando você menos esperar”.

Depois de quase três anos, chorei de soluçar não ao ouvir, mas ao ler o melhor – se que é possível qualificar - “eu te amo” de um namorado. Foi num bate-papo de messenger, o que entre nós sempre foi uma ferramenta para exercitar a capacidade de ser monossilábico ou objetivo. E com todas as abreviações possíveis da frase quanto à agilidade do meio, nunca uma mensagem me atingiu tão em cheio.

Vivemos uma história nada linear. Com o primeiro beijo, veio a primeira noite. A urgência deu lugar a um período de teste. Ficamos juntos definitivamente, na minha opinião, após uma sintonia de pensamento na madrugada de 15 para 16 de março de 2003. Porém, a data é até hoje contestada pela outra parte. Ainda bem. De lá para cá foram muitas sessões de cinema, shows, festas, beijos, pisadas na bola, viagens, brigas, planos, ciúmes, implicâncias, fotos, risos, tristezas, sobremesas divididas, compromissos, bolos, cócegas, desenhos animados, camisinhas, portas batidas com força, abraços mais apertados ainda, tempo, reconciliação, noites, madrugadas, manhãs inspiradas, cochilos em tardes de domingo, apelidos típicos e atípicos.

Um belo dia, ao olhar para trás, invariavelmente todo mundo decide se vai pedir para “parar o carro” ou “seguir viagem”. Escolhi uma estrada, mas não aquela com atalho. Mais uma vez, a impontualidade se mostra implacável: decido me mudar de cidade e arriscar, mesmo com o coração retalhado e o medo absurdo de perder aquela pintinha do queixo feita para ser beijada por mim, a sobrancelha grossa feita para emoldurar olhares tão expressivos capazes de derreter ou censurar e as mãos, que parecem ter sido feitas sobe medida para acariciar meus cabelos.

Por mais estranho ou contraditório que pareça, sempre penso em trilhas para pontuar momentos cruciais da minha efêmera existência. Tenho ouvido muito “Ruby Tuesday”, dos Rolling Stones. Uma estrofe em especial diz: “Não há nenhum tempo para perder... Pegue seus sonhos antes deles escapulirem... Perca seus sonhos. E você perderá sua cabeça. A vida não é indelicada?”. No entanto, a armadura que vesti para desbravar o novo parece bonita e forte aos olhos do mundo. Só não era tão perfeita aos nossos olhos.

Ao perceber isso, ele escreveu não em um cartão que acompanhasse tulipas em datas comemorativas, o “eu te amo” da forma mais direta, delicada, inesperada, desapegada e, ao mesmo tempo, mais segura do que dormir abraçado numa noite fria. Eu enxerguei meu amor como nunca havia antes e toda fragilidade circunstancial ficou pequena para a imensidão do que somos e seremos um para o outro.

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