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I

Eu estou cada vez mais 99% de transpiração e 1% de inspiração. Será que ontem fez mesmo 37 graus ou foi um delírio que vi de relance no termômetro da Avenida Afonso Pena? Sinais de panela de pressão apitando: fui parar no local da segunda matéria achando que era a primeira. Esperei meia hora e liguei para a TV para saber aonde estava o entrevistado. Não era um, eram três? Cheguei a Praça do Papa e eles há quase uma hora torrando no sol quente! Não, isso nunca me aconteceu antes. No entanto, meus lapsos de memória são freqüentes. Depois de ler a pauta é muito comum olhar para a cara do entrevistado e perguntar para mim mesma: Quem é esta pessoa? Ela gravou um CD ou fez um filme? O que é que eu tenho que perguntar mesmo?

II

Outro dia assisti a um documentário no National Geographic sobre pragas estrangeiras. Formigas, algas, aranhas, etc de outros países que pegam carona em navios e aviões e passam a dominar o território desconhecido. Acho que pernilongos assassinos vieram parar em BH. Estou precisando de um cortinado para cobrir minha cama durante o sono. Repelentes não funcionam mais! Pior é que o verão nem chegou, apesar do seu horário infeliz já vigorar e me tirar do sério!

III

Finalmente fui tomar uma no Balaio de Gato com Marianinha. O lugar é um dos mais fofos e agradáveis de BH. Vi uma camiseta de gatinho que tem que ser minha. Podia até ser neste mês ou no próximo como presente, já que não tenho um único centavo extra para gastar comigo pelo menos até abril. Eu que nunca fui muquirana, estou tendo que aprender a duríssimas penas a economizar.

IV

O momento mais bacana desta minha semaninha trivial foi encontrar o Antônio na Rua Carangola. Além de ter sido um dos maiores amigos dos meus pais, suas filhas eram minhas melhores amigas da infância até a adolescência. Infelizmente, perdemos o contato e cada qual seguiu seu rumo. O Antônio também foi meu pediatra. Mais do que isso, sempre cuidou de mim com carinho. Nunca vou me esquecer dele na minha Casinha da Mônica (que devia ter um metro e vinte de altura contra quase um metro e noventa dele) tentando me convencer a tomar xarope. Enquanto minha mãe e a Augusta já haviam usado toda a psicologia e até bronca comigo, eu ficava lá só esperando a chegada do Antônio, que sempre me dava uma seringa sem agulha para eu medicar minhas bonecas. Afinal, se eu estava doente elas tinham pegado minha a gripe. Ao contrário dos outros pais, o Antônio sempre assistia ao teatrinho que eu e as meninas montávamos...

Com o jeito amável de sempre, ele ainda era o mesmo. Me abraçou forte e perguntou sobre minha mãe, minha irmã e até sobre meu pai, que eu não vejo há muito tempo. Falou que sempre que podia me via na TV e que tinha mostrado aos colegas do hospital quem eu era. Disse que a cada conquista minha, ele se sentia orgulhoso como se fosse meu pai. Fiquei sem palavras. Segui meu caminho engasgada com uma vontade de dizer para ele o quanto era especial e por mais que eu não fosse um dia casar na Igreja, se eu mudasse de idéia, iria chamá-lo para fazer as vezes de "pai da noiva". Percebi então que perdemos sim o contato físico com muitas pessoas que amamos, mas nunca o contato da alma e do coração.

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