25 anos depois daquela carta
Quando eu tinha 12 anos escrevi uma carta para o Brizola. Eu não tinha idade para votar para presidente, mas eu tinha a convicção de que se ele ganhasse, talvez, pudesse fazer algumas mudanças que eu sugeria. Meu pai, que trabalhava com marketing político, fez a carta chegar até Brizola. Fomos ao comício dele, perto da rodoviária, e o envelope com a minha letrinha cursiva foi entregue para um cara que nunca mais vi na vida. Fiquei um pouco frustrada por não tê-lo conhecido. Eu estava de lencinho vermelho, em meio a uma multidão esperançosa que por anos perdeu mais do que o direito ao voto para presidente. Estavam ali pessoas como meus pais, que arriscaram as próprias vidas por liberdade. Todas elas, imagino, queriam apertar a mão do Brizola.
Fiquei sabendo que o Brizola leu a minha carta, que gostou muito das minhas propostas. Ele não se elegeu em 1989. Ganhou o Collor, que era pelos debates (que eu não perdia), o pior. Meu palpite não estava errado e em meados de seu governo, perdi aulas para ir a uma das várias passeatas dos cara-pintadas. Como meu colégio católico e careta não permitiu a minha liberação, fugi no recreio. Liguei para minha mãe de um telefone público para tranquilizá-la: "estou mudando o meu país", pensava. Na avenida Afonso Pena, me lembro da chuva de papel picado e a gente lá gritando: "de camarote não, a luta é aqui no chão". Tirei meu título antes dos 18 anos, não via a hora de votar para presidente. Tive que ter paciência para que o meu candidato ganhasse.
Não escrevi carta para o Lula, no entanto me recordo de uma explosão de otimismo num showmício - quando ainda podia - do Gilberto Gil. Fui com minha querida amiga Marianinha e nós ficávamos nos perguntando até quando o medo das pessoas da sala de jantar colocaria canditados como FHC na presidência. Lula ganhou. Quebrei minha promessa com Brizola e até liguei na Globo. Vi todos os noticiários e chorei porque boa parte do meu país, enfim, havia entendido que ser bem apessoado ou ter estudado na Sorbonne não eram garantias suficientes. Acho que nunca teremos essa garantia e me agradam exercícios de ter uma mulher na presidência e, quem sabe um dia, uma liderança negra, uma indígena, um militante LGBT... No país dos meus sonhos, eu sempre quis essa possibilidade para todos, especialmente os que nem sonham em alcançá-la. Estava na cartinha que escrevi para o Brizola. A única memória que eu tenho dela era o pedido para se cuidasse bem das crianças. Por isso, quando penso que há quem proponha redução da maioridade penal, me bate uma profunda tristeza.
Mas não quero falar sobre propostas do outro. Esse texto é apenas uma colcha de retalhos sobre meu envolvimento com a política, que na verdade tem bem mais de 25 anos, pois criança de colo eu ia para reuniões e comícios com meus pais. Senti a necessidade de escrevê-lo porque as eleições de 2014 amplamente debatidas em redes sociais abriram margem para questionamentos que não cabem em 140 caracteres. Não tenho problema em ser questionada sobre as bases da minha informação. Como jornalista e crítica ao jornalismo, ela vem cada vez menos daquele monte de papel estampado na banca. O por quê não será ampliado neste texto. Eu tenho muito problema é com gente desrespeitosa e arrogante que desejou, virtualmente, neste período enfiar o dedo na minha cara. Não sou e nem serei a dona da verdade. Defendo a minha verdade que vem do meu legado, da minha ética e da minha vivência.
O debate eleitoral nas redes sociais fez sim com que eu reduzisse a possibilidade de ser amiga de conhecidos naqueles espaços, não porque eles votam no outro candidato ou em branco/ nulo. Manifestações agressivas e preconceituosas não entram em meus afetos. Não se trata de apenas um número, vi muita gente banalizando a questão. Para mim, política é algo que se estende para vida. Não chamo de amigo gente que acha o cúmulo a empregada estudar ou dois homens andarem de mãos dadas porque se amam. Não chamo de amigo quem sugere que uma mulher num cargo de chefia precise de um pau e não chamo de amigo quem passa tudo isso para seus filhos repetirem, para serem seus espelhos. Crianças e adolescentes andam repetindo isso por aí, sabiam?
Eu sou do tempo em que fui expulsa de sala de aula pela professora num desses atos cívicos de dia da bandeira ou algo que o valha na educação da era da ditadura. Tudo porque ao comentar que achava o Brasil lindo, porém que "havia um tal de Figueiredo fodendo o país", fui expulsa. Me orgulho imensamente desse episódio, agradeço todos os dias aos meus pais por ter coragem e posicionamento. Ao contrário de muitos amigos filhos de esquerda que compartilham banners cheios de ódio do DEM - os filhotes e netinhos da ditadura - em seus murais, eu não mudei de lado. Tenho uma visão crítica, realista e bem informada sobre meu voto. E sobre a Dilma, minha candidata, ainda escreverei um post especial.
Fiquei sabendo que o Brizola leu a minha carta, que gostou muito das minhas propostas. Ele não se elegeu em 1989. Ganhou o Collor, que era pelos debates (que eu não perdia), o pior. Meu palpite não estava errado e em meados de seu governo, perdi aulas para ir a uma das várias passeatas dos cara-pintadas. Como meu colégio católico e careta não permitiu a minha liberação, fugi no recreio. Liguei para minha mãe de um telefone público para tranquilizá-la: "estou mudando o meu país", pensava. Na avenida Afonso Pena, me lembro da chuva de papel picado e a gente lá gritando: "de camarote não, a luta é aqui no chão". Tirei meu título antes dos 18 anos, não via a hora de votar para presidente. Tive que ter paciência para que o meu candidato ganhasse.
Não escrevi carta para o Lula, no entanto me recordo de uma explosão de otimismo num showmício - quando ainda podia - do Gilberto Gil. Fui com minha querida amiga Marianinha e nós ficávamos nos perguntando até quando o medo das pessoas da sala de jantar colocaria canditados como FHC na presidência. Lula ganhou. Quebrei minha promessa com Brizola e até liguei na Globo. Vi todos os noticiários e chorei porque boa parte do meu país, enfim, havia entendido que ser bem apessoado ou ter estudado na Sorbonne não eram garantias suficientes. Acho que nunca teremos essa garantia e me agradam exercícios de ter uma mulher na presidência e, quem sabe um dia, uma liderança negra, uma indígena, um militante LGBT... No país dos meus sonhos, eu sempre quis essa possibilidade para todos, especialmente os que nem sonham em alcançá-la. Estava na cartinha que escrevi para o Brizola. A única memória que eu tenho dela era o pedido para se cuidasse bem das crianças. Por isso, quando penso que há quem proponha redução da maioridade penal, me bate uma profunda tristeza.
Mas não quero falar sobre propostas do outro. Esse texto é apenas uma colcha de retalhos sobre meu envolvimento com a política, que na verdade tem bem mais de 25 anos, pois criança de colo eu ia para reuniões e comícios com meus pais. Senti a necessidade de escrevê-lo porque as eleições de 2014 amplamente debatidas em redes sociais abriram margem para questionamentos que não cabem em 140 caracteres. Não tenho problema em ser questionada sobre as bases da minha informação. Como jornalista e crítica ao jornalismo, ela vem cada vez menos daquele monte de papel estampado na banca. O por quê não será ampliado neste texto. Eu tenho muito problema é com gente desrespeitosa e arrogante que desejou, virtualmente, neste período enfiar o dedo na minha cara. Não sou e nem serei a dona da verdade. Defendo a minha verdade que vem do meu legado, da minha ética e da minha vivência.
O debate eleitoral nas redes sociais fez sim com que eu reduzisse a possibilidade de ser amiga de conhecidos naqueles espaços, não porque eles votam no outro candidato ou em branco/ nulo. Manifestações agressivas e preconceituosas não entram em meus afetos. Não se trata de apenas um número, vi muita gente banalizando a questão. Para mim, política é algo que se estende para vida. Não chamo de amigo gente que acha o cúmulo a empregada estudar ou dois homens andarem de mãos dadas porque se amam. Não chamo de amigo quem sugere que uma mulher num cargo de chefia precise de um pau e não chamo de amigo quem passa tudo isso para seus filhos repetirem, para serem seus espelhos. Crianças e adolescentes andam repetindo isso por aí, sabiam?
Eu sou do tempo em que fui expulsa de sala de aula pela professora num desses atos cívicos de dia da bandeira ou algo que o valha na educação da era da ditadura. Tudo porque ao comentar que achava o Brasil lindo, porém que "havia um tal de Figueiredo fodendo o país", fui expulsa. Me orgulho imensamente desse episódio, agradeço todos os dias aos meus pais por ter coragem e posicionamento. Ao contrário de muitos amigos filhos de esquerda que compartilham banners cheios de ódio do DEM - os filhotes e netinhos da ditadura - em seus murais, eu não mudei de lado. Tenho uma visão crítica, realista e bem informada sobre meu voto. E sobre a Dilma, minha candidata, ainda escreverei um post especial.
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