Parte 1

Dias atrás comecei a escrever este conto. Os personagens não têm nome, nem sei se terão. Mas eu já sei como termina a história...Preciso de alguns elementos para enriquecer ambos. O título eu ainda não escolhi...

Eles estavam naquele ponto da relação em que nove entre dez mulheres querem saber se é namoro ou amizade e dez entre dez homens nem estão pensando nisso.
Gostavam de bandas norte-americanas mais que inglesas, fumavam Malboro, viajaram para os mesmos lugares. Não torciam para o mesmo time, é fato. Aliás, esse único ponto de desavença era até favorável, pois pareciam um só. Cada vez mais.

Foi numa noite dessas, bebendo cerveja, falando sobre planos, bobagens que ela não resistiu e quis saber.
- E a gente, heim?
- O que tem a gente?
- É isso que eu quero saber.
- Ah, estamos nos curtindo. Você é divertida, inteligente, gostosa e...
- Hum
- Imagino que queira saber se me refiro a você: como namorada, ficante ou qualquer coisa do gênero.
- Olha, eu não quis ser chata, te pressionar...nem devia ter tocado no assunto.
- Tudo bem.

Pediram a conta e ela deixou sua parte. Sempre com uma observação para derreter icebergs, dessa vez emudeceu. Ele sabia que devia fazer algo, no entanto detestava essa mania que as mulheres tinham de discutir a relação. O que esperava? Um pedido solene de namoro num almoço de domingo na casa dos pais dela?  Alguém como ela não poderia ser tão insegura. Resolveu fingir que aquela conversa atravessada não existiu.

- Eu te convidei, não precisamos dividir.
- Faço questão.
- Não faça assim...Beijo? Sorriso?

Ela era ótima atriz ou ele era um crítico sofrível depois daquele esboço nada convincente.

- Tudo bem então...
- Para você está sempre tudo bem.
- Não entendi a ironia...
- Esquece. Aliás, não. Quero saber como você se refere a mim. Interrompi quando você iria falar.
- Pelo seu nome. Ainda é cedo para um compromisso. Você sabe, saí de um namoro longo e complicado.
- Claro. Já falamos sobre isso. O que são três meses né? Prazo de experiência. Desculpa por insistir.
- Boba, você não tem que me pedir desculpa. Vamos deixar levar, ok?

Ela sorriu amarelo novamente e foi caminhando em direção ao carro. Ele ficou na dúvida se ganharia uma carona até a avenida próxima à sua casa. Decidiu apertar o passo, ao menos para dar um beijo de boa noite.

- Te deixo em casa.
- Obrigado, mademoseille.

Mademoseille, que ridículo! Da onde ele tirou isso? Talvez fosse aquele clima tenso. Nunca a chamou assim. Tão pouco a chamava de apelidinhos no diminutivo. Não que fosse cedo para isso. Simplesmente porque achava idiota.

Ela conectou o iPhone ao rádio e selecionou o shuffle. Não queria escolher a playlist.  Porém, começou a cantarolar para disfarçar a decepção. Por que os homens tem que ser tão imaturos? Por que ficam cheios de medos numa nova relação? Deve achar mesmo que estou caidinha por ele, que com quase de trinta anos nas costas, nem sabe o que quer da vida.

- Sexta tem aquele show de que havia falado para irmos, lembra?
- Putz, combinei um churrasco no sítio de uns amigos no sábado. Vou ter que dormir cedo.
- Sem problema.
- Mesmo?
- Mesmo. Vou com as meninas.

Ela sempre apelava para seu clube de luluzinhas de vestidinhos curtos. Sabia que ele ficaria com ciúmes. Sabia que as "meninas" iriam colocar milhões de defeitos nele, sugerir que ela voltasse para o ex bom moço, advogado e engomadinho. Porém, não queria furar com o Pedrão e os caras. Não se lembrava que ela havia mencionado sobre esse show. Por que mania as mulheres têm essa memória de elefante?

- Então, a gente se fala.
- Eu te ligo.
- Ah, claro.

Beijaram-se. Outra ironia estampada no rosto. Dessa vez, ele percebeu. Ela sempre achava que ele não iria ligar, que sumiria sem deixar vestígio, como o babaca com quem ficava antes dele.

Continua

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