Homenagens

Linda homenagem da Sil a BH e aos amigos que ela fez aqui. De tabela, ela homenageou meus queridos amigos de São Paulo que me receberam tão bem e foram citados. Essa eu dedico para a senhora fofa da Feirinha do Bixiga.

Meu amor por Belo Horizonte - por Silvana Mascagna

Faz 14 anos que cheguei em Belo Horizonte, completados na segunda-feira. Fiquei pensando que, se tivesse engravidado, assim que botei os pés por aqui, teria já um adolescente em casa, cheio de espinhas e questões.

Mas não. Não engravidei, e, como não tenho filho, me sobra tempo de olhar para mim mesma e minha trajetória. São anos que passaram rápido, indolores. Não tive fase de adaptação. Não me senti, em nenhum momento, sem amigos, nem desamparada, nem numa terra estranha. A impressão é que sempre vivi aqui.

Tive sorte. Não me canso de dizer. Porque sei que gostar ou não de algum lugar depende dos encontros e das experiências que se tem. E, disso, eu não posso reclamar.

Tenho conversado muito sobre isso com uma amiga, recente, mas nem por isso menos querida. Ela é louca por São Paulo, onde passou uma temporada rápida - dois anos, se não me engano -, mas que foram suficientes para descobrir que aquela é a sua cidade.

Fico realmente feliz em ouvi-la falar toda cheia de carinho da minha cidade, que a maioria das pessoas despreza, odeia, tem medo, enfim... Sei que é muito mais fácil não gostar de São Paulo do que gostar.

E ela ama. Ama porque prefere frio ao calor, por ser uma apreciadora de bons restaurantes, de vida cultural intensa, noite animada... Enfim, tudo o que São Paulo tem de sobra. Mas ama, principalmente, porque teve uma rica experiência profissional, porque encontrou pessoas com as quais se identificou, amigos de verdade, que fizeram sua vida mais fácil. Isso, sim, faz toda a diferença. E, quando existe essa zona de conforto, parece que tudo conspira a favor.

Essa minha amiga conta uma história linda sobre uma vez em que foi a uma dessas feirinhas de antiguidades que existem em São Paulo. Numa das bancas, se encantou com um anel, de ouro, antigo. Experimentou e começou a elogiar a peça. A senhora que vendia o anel deu detalhes dele e ela ficou cada vez mais encantada. Quando foi devolver o anel, a mulher pediu que ficasse com ele, com apenas um argumento: ninguém, nem ao menos as filhas dela, tinha entendido o valor daquela peça. Boquiaberta, minha amiga resistiu em aceitar, mas a senhora insistiu. "Me diz, se não tenho que amar aquela cidade?". Foi a frase dita por ela no dia em que mostrou o anel.

São histórias assim, surpreendentes - igual àquela em que um taxista carioca resgatou uma outra amiga de um feriado infeliz no Rio de Janeiro, que contei aqui há algumas semanas -, que contribuem para fazer uma cidade ser especial para nós. Mais do que isso, são capazes de derrubar conceitos - ou preconceitos - sobre determinados lugares.

Quando cheguei por aqui, vim com o coração aberto. Era uma época difícil, em que trabalhava 12 horas por dia - às vezes, 18 horas -, morava numa rua barulhenta e estava absolutamente de saco cheio de São Paulo. A cidade me sufocava.

Ainda assim, podia ter dado tudo errado, já que não conhecia Belo Horizonte - tinha passado apenas uma noite aqui, muitos anos antes, quando fiz uma viagem pelo rio São Francisco, que saía de Pirapora -, nem ninguém na cidade. O jornal O TEMPO, em que ia trabalhar, ainda não existia de fato - só sairia às bancas uma semana depois - e não tinha informação sobre como ele seria.

E as surpresas foram todas agradáveis. Lembro do meu encanto imediato pelo projeto do Magazine e da simpatia de toda a equipe do caderno ao me receber.

A impressão é que fugia de uma cidade hostil para outra que me abria os braços para me recepcionar. Com o tempo, essa cidade foi fechando os braços em torno de mim. E é assim, acarinhada, que tenho me sentido nesses 14 anos.

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