Redefinindo as rotas

Um dia a gente acorda e acha que a vida vai seguir o curso planejado. Afinal, está tudo ali rotineiramente, sem bruscos movimentos. O casamento, o trabalho, o encontro casual com os amigos. Então, mais uma vez, a morte vem pregar uma peça. Lembro-me de 2005, quando perdi meu pai, e solicitei ao destino uma folha de papel em branco. São Paulo, jornal, novos amigos, vida cultural intensificada e ausências que muito incomodavam e dividiam.Os ventos sopraram para que eu voltasse. Porém, eu sabia que nunca mais seria a mesma. Ainda bem.

A morte a que me refiro no tempo presente é de uma das pessoas que mais me faz falta. Porque tenho a certeza de que ela é insubstituível. Sim, minhas convicções muito próprias contrariam os clichês. Pois há quem te entenda apenas com o olhar. Não são pessoas insubstituíveis por serem perfeitos. É o caráter essencialmente humano e generoso que as torna assim. E tenho para mim que nem todo mundo tem a mesma sorte que tive.

Eu imaginava que com a partida da Mariana só haveria o eterno vazio. Passados três meses ainda não consegui tirar seu número do meu celular, seu endereço eletrônico da minha rede de contatos. Nos momentos mais agudos, chego a escrever para ela. É como se pudéssemos ter o que a Nação Zumbi cantou, nosso provedor celestial. Fora a tristeza, a ventania se aproximou. Veio o novo trabalho e seus desafios. Foram-se o casamento e um punhado de sonhos.

Mais uma vez no tabuleiro do jogo. Entre cartas de sorte e revés. A roda da fortuna gira. E uma quarta mudança de endereço, ainda que provisória. A velha nova vida, o incerto destino... Redefino rotas, redefino a mim mesma, redefino meus convívios, redefino minhas amizades. Reencontrei uma amiga de muitos anos, fiz poucos novos - como deveria ser - e me distancio de outros. Sei que falo demais. Mas nesse caso, o silêncio diz tudo.

Pela primeira vez em três anos, dormi no meio da cama. E sonhei.

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