Remember Yesterday

O Guns n' Roses já foi um dia minha banda preferida. Lá pelos idos de 1990, quando eu queria estar no show que deu origem ao clipe de "Paradise City", a vontade de ver ao vivo Axl Rose, Slash, Izzy Stradlin, Duff Mckagan e Steve Adler era completamente incompatível com as reais possibilidades.
Então eu comprava Bizz, Fama (uma revista tosca que vinha com pôster encartado) e todas as publicações que abordassem a banda. Eu me reunia com amigos para ouvir os discos (vinis) e, claro, como toda adolescente achava o Axl lindo, maravilhoso. Houve uma época - durante a separação dos meus pais - que jurava que apenas ele me compreendia.
O Guns n' Roses veio ao Brasil e só vi da televisão porque não era tão simples viajar para São Paulo ou Rio quando se tem menos de 17 anos (meu primeiro show fora de Pequenópolis foi o primeiro dos Rolling Stones no Brasil). Segui ouvindo outras bandas e substituindo gradativamente o Axl Rose pelo Kurt Cobain, o Eddie Vedder e, por fim, o Thom Yorke.
A banda praticamente acabou, as tretas ficaram mais evidentes. Só que Axl não quis enxergar que nada mais seria como antes. Os antigos fãs com certeza nem esperaram com ansiedade o Chinese Democracy. As pessoas tem pressa, elas vivem o tempo presente, miram as tendências ou ficam aprisionadas num lugar confortável se negando a dar bola para a nova sensação da garagem que acabou de soltar o disco na internet.
O Guns n' Roses não está em nenhum outro lugar que não o limbo. Mas evidentemente, quem nunca pode assistir a banda ao vivo, não perderia o revival. Ainda que a crítica tenha malhado (o que convenhamos, no caso do GNR, não é nenhuma novidade. Axl é basicamente a Geni que a turma da Bizz e seus herdeiros adora jogar bosta). É preciso ver com os próprios olhos.
No palco surgem integrantes que parecem ter saído do Good Charlotte ou qualquer banda emo. Fogos e explosões no lugar onde a acústica é de longe a mais pavorosa já presenciada (quem conhece o Mineirinho sabe do que estou falando). Axl surge acima do peso, não tão acima quanto já vi nos tablóides porém sem a mesma potência vocal, sem o mesmo pique.
Para quem já achou que aquele cara que um dia foi lindo, maravilho e o único a entender suas dores adolescentes, a sensação foi de uma estranha melancolia e um pouco de admiração. Nesse mundinho em que sua imagem vale mais que a ideia, que a etiqueta é corporativa e que as bandas de rock usam Karl Lagerfeld ou sem ter coragem para assumir publicamente seus monstros ou se tem muito oportunismo (que é o que eu basicamente penso sobre o Sérgio Dias dos Mutantes). Não saberia analisar qual é a do Axl.
A dancinha caraterística não estava lá, o correr de um lado para o outro e o fôlego ficaram nos 90's, cristalizados na memória. Para cada canção havia um solo interminável e virtuoso dos músicos dos quais nenhum fã saberia o nome. A exceção era o Dizzy Reed, que entrou para a banda durante o "Use Your Illusion".
Valeu ouvir "Wellcome to the jungle", "Sweet Child O' Mine" e "Paradise City" e foi importante saber que aquele ídolo não era nada mais do que um cara normal - um pouco mais perturbado que a média -, que faz cagada, brigou com os amigos, destruiu tudo e depois tentou se reerguer, sem muletas espirituais como muitos artistas que "encontram Jesus" fazem no Brasil (vide Rodolfo dos Raimundos).
Se eu tirasse uma carta de tarot para o Axl seria "A Torre", uma ruptura radical, destrutiva. Diferente da "Morte" que tira o que não presta mais para continuar semeando. Erguer um novo castelo é sempre mais difícil. Reconquistar o reinado, talvez não seja algo possível. Com o tempo será menos desejável, se já não for.
O que lembro de ontem com mais nostalgia e leveza foi o show da abertura. Sebastian Bach da banda que apelidei de Skid Ruim tempos atrás, estava enxuto, desenvolto e interagindo em português com o público. Esbanjou pique, simpatia e bom humor. Vestiu uma camisa amarela que mais parecia um abadá em que estava escrita "Tião". Valeu o ingresso de muita gente, até dos que como eu achavam que aquilo era apenas rock farofa.

Comentários

  1. maaassa! eu adoraria ler, vc escrever sobre o Faith no More
    1990>>>2010.
    Valeu!

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  2. Gislaine5:22 PM

    Uau!!! Ludj, vc conseguiu traduzir em palavras toda a minha expectativa em relação ao show... Não consegui ingresso e por isso não poderei comparecer ao evento em SP! Mas no fim, fiquei pensando que iria me sentir assim mesmo: querendo encontrar a banda de antigamente num remanescente que não tem mais a mesma energia...

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  3. Tô te falando Lud, larga deste corpo que não te pertence e vai ser escritora. Martha Medeiros apoia, Dr Gerson, Thedy, Tio Marco,Uiara, Fraga,Luiz Cesár, Agnes,Sorín...e um bando de gente que eu sei.E eu claro que como mãe e coruja nunca tá valendo eu sei. Pois bem,convenhamos: você ainda não plantou uma arvore, não teve um filho. ESCREVE UM LIVRO!

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  4. Ei Dirceu! Sugestão anotada! Gi, às vezes a lembrança do Axl no auge é o que vale né? Mammys, você vai ganhar o trofeu corujita. Não tem esse povo todo no fã clube não. hahahaha. Beijos a todos.

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  5. ..Eu particularmente acho um absurdo você me desmentir em público, e se você quiser faço um mailing list de pessoas que admiram seus escritos! coruja é a avó paterna. Eu sou uma pessoa de extremo bom gosto e sei o que é bom e ruim. Tomou papuda?

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