Palavras apenas
Este blog transformou-se numa tentativa constante - e às vezes inútil - de promover meu exercício da escrita. Às vezes tenho assunto, mas falta tempo. Quando posso escrever (finais de semana ociosos, intervalos na rotina de trabalho), a inspiração vai para o buraco. E assim, nessa embromação segue essa página, por vezes, a própria vida.
Estou me movimentando para ser alguém melhor. Agora recebo espetadas semanais da acupuntura para aliviar a ansiedade e a irritabilidade. Penso em criar outro espaço virtual para me expressar ou me expor de maneira distinta. Quem sabe "pseudônima". Sigo lendo crônicas e blogs amigos. O livro na cabeceira está empoeirado e eu deveria ter vergonha de admitir isso...
Posto então, um texto que achei no fundo do baú. Ele seria publicado numa revista, porém acabou sendo outro. Vou para São Paulo no final de semana e revelá-lo foi uma forma de trazer as boas e más lembranças daqueles tempos.
SOBRE ESSA TAL DE "ALGUMA COISA ACONTECE NO MEU CORAÇÃO" - por Ludmila Azevedo
Quando me mudei de mala e cuia para São Paulo, pouco mais de um ano atrás, decidi encarar o lado pitoresco da coisa. Só assim, eu conseguiria não me preocupar com referências como "a feia fumaça que sobe apagando as estrelas" e voltar correndo para o colo da mamãe.
A leveza talvez foi decisiva para curtir o momento mais rico do fabuloso destino dessa que vos escreve: a convivência com uma cultura distinta. Afinal, os paulistanos da gema têm suas peculiariadades, embora acreditem que sotaques e hábitos esquisitos são coisa de forasteiros.
Como naquela canção que adoro, "Let's Call The Whole Thing Off", interpretada por Louis Armstrong, as diferenças começam pelo léxico. O refrão ("You like potato and I like potahto, You like tomato and I like tomahto") cai na minha análise como luva para dividir aqueles que comem "tômate" dos que comem "tumati", os que vão ao "têatro" e dos que vão ao "tiatru".
Paulistanos adoram o acento circunflexo e belorizontinos (como os cariocas, dos quais muitos paulistanos não gostam) são mais agudos. Aqui diz-se letra "ê", porém sabemos que a letra pronuncia-se "é". E nada de ponto final, por favor.
Para que seja "sempre lindo andar na cidade de São Paulo", como nas palavras do Premeditando o Breque, é preciso estar atento aos faróis (sinais para nós mineiros) que ficam dispostos do outro lado da rua, e em caso de chuva, às póças (pôças, definitivamente). Quem não tem carta (carteira de motorista), que vá de metrô. Ah, e os paulistanos sempre fazem piadinha achando que belorizontinos só andam de trem. Mal sabem eles que trem serve para absolutamente tudo. Inclusive para comer.
Para os paulistanos que tomam média no lugar de café com leite, chamam sanduíche de lanche e não sabem o que é batata baroa, por mais que você belorizontino se considere um típico urbanóide, eles sempre conseguirão trazer à luz aquele seu lado que transita entre o Chico Bento e o Zeca Taylor, personagem do seriado dos anos 80, "Primo Cruzado", que vive uma mistura de encanto e perplexidade em sua nova casa. Experimente soltar um "uai" para ver.
Claro, o território explorado é o da brincadeira (ou quase). Até porque sempre haverá uma revanche por parte belorizontinos e demais ovelhas desgarradas de seus estados que não falam: "meu, vai ter uma puta balada legal hoje" e quando ouvem "truta", imaginam o delicioso peixe com molho de amêndoas.
Mas cá entre nós, paulistanos não são necessariamente terno e gravata, um chopes e dois pastel, Shopping Iguatemi versus zona leste ou nariz empinado (em todo caso, é melhor não espalhar a notícia. Do contrário, eles ficarão sim, convencidos). E não é que esses danados conseguiram me impregnar com o hábito de iniciar as frases com "então". Um prato cheio para os meus amigos de Belo Horizonte tirarem um sarro e falar que daqui a pouco eu também estou puxando a letra erre.
Enfim, entre tomates e tumatis sempre tem um paulistano que acha uma gracinha falar mineiramente. Outro dia, um amigo disse que nós ("que viemos de outras terras, de outro mar")não dialogamos, contamos histórias. Tomei como elogio e agradeci. Ele sorriu e como todo paulistano não retrucou com "de nada", e sim com o também bonitinho "magina".
Estou me movimentando para ser alguém melhor. Agora recebo espetadas semanais da acupuntura para aliviar a ansiedade e a irritabilidade. Penso em criar outro espaço virtual para me expressar ou me expor de maneira distinta. Quem sabe "pseudônima". Sigo lendo crônicas e blogs amigos. O livro na cabeceira está empoeirado e eu deveria ter vergonha de admitir isso...
Posto então, um texto que achei no fundo do baú. Ele seria publicado numa revista, porém acabou sendo outro. Vou para São Paulo no final de semana e revelá-lo foi uma forma de trazer as boas e más lembranças daqueles tempos.
SOBRE ESSA TAL DE "ALGUMA COISA ACONTECE NO MEU CORAÇÃO" - por Ludmila Azevedo
Quando me mudei de mala e cuia para São Paulo, pouco mais de um ano atrás, decidi encarar o lado pitoresco da coisa. Só assim, eu conseguiria não me preocupar com referências como "a feia fumaça que sobe apagando as estrelas" e voltar correndo para o colo da mamãe.
A leveza talvez foi decisiva para curtir o momento mais rico do fabuloso destino dessa que vos escreve: a convivência com uma cultura distinta. Afinal, os paulistanos da gema têm suas peculiariadades, embora acreditem que sotaques e hábitos esquisitos são coisa de forasteiros.
Como naquela canção que adoro, "Let's Call The Whole Thing Off", interpretada por Louis Armstrong, as diferenças começam pelo léxico. O refrão ("You like potato and I like potahto, You like tomato and I like tomahto") cai na minha análise como luva para dividir aqueles que comem "tômate" dos que comem "tumati", os que vão ao "têatro" e dos que vão ao "tiatru".
Paulistanos adoram o acento circunflexo e belorizontinos (como os cariocas, dos quais muitos paulistanos não gostam) são mais agudos. Aqui diz-se letra "ê", porém sabemos que a letra pronuncia-se "é". E nada de ponto final, por favor.
Para que seja "sempre lindo andar na cidade de São Paulo", como nas palavras do Premeditando o Breque, é preciso estar atento aos faróis (sinais para nós mineiros) que ficam dispostos do outro lado da rua, e em caso de chuva, às póças (pôças, definitivamente). Quem não tem carta (carteira de motorista), que vá de metrô. Ah, e os paulistanos sempre fazem piadinha achando que belorizontinos só andam de trem. Mal sabem eles que trem serve para absolutamente tudo. Inclusive para comer.
Para os paulistanos que tomam média no lugar de café com leite, chamam sanduíche de lanche e não sabem o que é batata baroa, por mais que você belorizontino se considere um típico urbanóide, eles sempre conseguirão trazer à luz aquele seu lado que transita entre o Chico Bento e o Zeca Taylor, personagem do seriado dos anos 80, "Primo Cruzado", que vive uma mistura de encanto e perplexidade em sua nova casa. Experimente soltar um "uai" para ver.
Claro, o território explorado é o da brincadeira (ou quase). Até porque sempre haverá uma revanche por parte belorizontinos e demais ovelhas desgarradas de seus estados que não falam: "meu, vai ter uma puta balada legal hoje" e quando ouvem "truta", imaginam o delicioso peixe com molho de amêndoas.
Mas cá entre nós, paulistanos não são necessariamente terno e gravata, um chopes e dois pastel, Shopping Iguatemi versus zona leste ou nariz empinado (em todo caso, é melhor não espalhar a notícia. Do contrário, eles ficarão sim, convencidos). E não é que esses danados conseguiram me impregnar com o hábito de iniciar as frases com "então". Um prato cheio para os meus amigos de Belo Horizonte tirarem um sarro e falar que daqui a pouco eu também estou puxando a letra erre.
Enfim, entre tomates e tumatis sempre tem um paulistano que acha uma gracinha falar mineiramente. Outro dia, um amigo disse que nós ("que viemos de outras terras, de outro mar")não dialogamos, contamos histórias. Tomei como elogio e agradeci. Ele sorriu e como todo paulistano não retrucou com "de nada", e sim com o também bonitinho "magina".
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