Cotidiano

Pensa nesse lugar que é o melhor lugar para perder-se de alguém.
Para não ter contato por dias, meses, anos sem se dar conta.
Até não reconhecer mais a importância do outro.
Teria sido um dia?
Foram apenas rodadas de cervejas, risos sobre banalidades e uma afinidade passageira?

O metrô passa lotado, o próximo também.
Não há sinal de celular, nem chance de escutar os próprios pensamentos no intervalo entre as sirenes.
A multidão conduz até o vagão, não há lugares para se segurar.
Ar frio demais ou sufocante demais.

Aqui não há meio-termo.
Aquela mensagem para tomar um café terá data ou sequer será entregue.
O trem estaciona e aguarda uma desobstrução qualquer da via.
Um dia a viagem leva 15 minutos.
No outro, em mesmo trajeto, uma hora.

Há o sorriso e a nota de dois reais depositada no chapéu do músico que adentra pela porta.
Há a irritação profunda com o vendedor estridente de fones de ouvido que passa pela mesma.
E o contrário.

Os dias se alternam entre as manhãs sempre atrasadas de segunda-feira com bilhete de transporte vazio e apenas um terminal de recarga funcionando e inesperada gentileza daquele que se oferece para carregar a bolsa pesada.
Senta, levanta, sacoleja, desiste de ouvir música, abre o livro, checa as mensagens.
Lembra-se dos amigos que moram longe ao ver uma foto, suspira.
Consegue um ingresso para um show disputado, suspira.

Já não pensa naquele que se perdeu.
O impasse é bem mais simples: baldeação por trem, o fim do trajeto por ônibus, caminhada ou táxi?
E se o trem enguiçar?
E se o motorista de ônibus estiver conversando animadamente com um passageiro e não acelerar?
E se chover no caminho sem marquises?
E se o taxista pegar aquela rua errada que nos obriga a uma volta interminável?

Está quente.
Vai Chover.
Esfriou...

Espirra.
Respira.
Amanhã é tudo igual e diferente.





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