A vida vai na velocidade do trem

A vida vai na velocidade do trem.
Existem as temporadas de mal dormir, de sair de casa sem tomar um café.
Vagão lotado que sequer permite, fora as derrubadas do 4G, a leitura de notícias no feed do Twitter.
Repara na moça que se maquia com destreza e decide se passará um batom.
Quase perde a estação de destino.

Existem as temporadas do despertador desligado, do dia inteiro de camisola
O eterno F5 na caixa de e-mail para ver se respondem o currículo enviado no dia anterior.
Vai ver uma exposição no centro, e não se dá conta de que escolheu a hora do pico para voltar.
Embora essa hora seja subjetiva, os trens emperraram e operam com lentidão.
Lá fora faz 35 graus e aqui dentro não está diferente.
Quase desce uma estação antes para achar o vento caminhando.

A velocidade do trem está entre o que se arrasta e voa.
A vida vai entre empurrões, entre garotos com a cara prateada pedindo um trocado.
A vida vai entre a moça que se oferece para segurar a bolsa pesada e o músico que se disse satisfeito apenas com os (poucos) aplausos no vagão.
Esqueço a proximidade de algumas estações quando passo o bilhete na catraca por instantes.
Lembro-me de todos os acessos às linhas de outras cores para ajudar o turista que parece perdido.

Por que te vas?
Hoje resolvi ouvir playlists em espanhol.
Fiquei com vontade de comer uma medialuna caprichada.
Quis ir ao show do Soda Stereo, que não existe mais.
A vida vai na velocidade do trem.




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