Supermercado

Tenho uma relação de amor e ódio com supermercados. Gosto de conhecer novos produtos e de saber que minha despensa estará cheia, mas não gosto do tempo que perco ali e do ritual de mirar um produto cinco vezes (pega na prateleira, coloca no carrinho, devolve para a esteira do caixa, enfia na sacola e, enfim, guarda).

No supermercado invento receitas, canto musiquinhas (no caso do Carrefour que tem uma rádio com hits dos anos 80) sem perceber que estou sendo vigiada, me irrito com gente que fecha o caminho (lugar nenhum supera o Verdemar do São Pedro nesse quesito), tento alcançar produtos que não sei porque cargas d'água colocam lá no alto (mostarda dijon, alcachofra em conserva).

Se existe uma coisa que nunca deixo de fazer é bisbilhotar o carrinho alheio, como naquela crônica do Luis Fernando Verissimo sobre vizinhos que comentam o lixo um do outro. O sujeito bonachão que compra carne gordurosa, caixas de cerveja, mas tem o cuidado de ligar para a mulher para saber se precisa levar algo; a moça com milhares de produtos saudáveis que não resiste a um danette; o econômico que só compra produtos genéricos; os pais que deixam a molecada encher a gondola de gulodice; os vários tipos de chatos que analisam rótulos de cerveja, vinho e café como se fossem grandes entendedores do riscado.

Na minha frente na fila havia uma família que aparentemente ia abastecer um bunker. A famosa "compra do mês". Isso era muito comum nos anos 80, quando o preço de um achocolatado quintuplicava de uma semana para outra. Não vejo muito sentido com a estabilidade econômica atual, a não ser o fato de que eles possam odiar ficar horas vagando com carrinhos num domingo de manhã. Foram dois cheios: mil reais em produtos, entre biscoitos recheados, queijos amarelos, refrigerantes. Havia naquele meio uma revista dessas de dieta.

Ao lado, a típica mulher light comia um saquinho de Ferrero Rocher, esses vilões que fazem a barreira até o caixa que, por sua vez, para, registra coisa errada, acende a luz à procura do gerente. Trabalhar domingo é mesmo a coisa mais chata do planeta. A cara da funcionária não deixa dúvida. Sigo bicando o carrinho da vizinha e flagro mais duas porcarias: um pote margarina e aquela famigerada revista semanal.

Repreendo com o olhar o tiozinho que larga nos biscoitos diversos frios. Com a fila parada, não custava nada deixar no lugar de origem. Mas as pessoas acham que funcionário de supermercado e de praça de alimentação estão lá para recolherem mesmo ou "ganham para isso". Sempre penso que não custa nada devolver o produto, colocar a bandeja no local indicado...

Sou interrompida por um "próximo, por favor". Momento de olhar para o que comprei e fazer a minha própria (auto) crítica.







Comentários

  1. Tive amigos em Brasília que curtiam os super-hiper-ultra-mercados... Longe da família (todos são exilados por lá?) e sem empregadas (no meu tempo estavam extintas no planalto) deixavam o filho na "brinquedoteca" e tinham assim algumas horas de paz e cumplicidade de casal. Curtiam as etiquetas dos vinhos, e saboreavam o aroma da gôndola dos queijos... até que o serviço de som anunciava que seu rebento já se encontrava entediado. A sociologia dos supermercados vai além dos carrinhos...

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  2. sempre, querido :)

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  3. Adorei o texto! Mirar um produto cinco vezes? Eu miro muito mais: Olho, pego, viro, procuro data de validade, calculo quantidade pra ver se vale a pena levar, por exemplo, este ou aquele papel higiênico. Aqui em Porto Alegre não tem Verde Mar. Acho que o que se assemelha aqui é o Zaffari. Já foi mais seletivo com seus funcionários, os que mais vejo trabalhar, fora os caixas, são os fiscais, sempre com seus rádios, trocando informações codificadas entre eles. Mas continua sendo o mais qualificado e prazeroso Super de Porto.

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