Mães
Não sou mãe, dificilmente serei. Eventualmente, como toda mulher da minha idade, sou questionada sobre o fato de não ter filhos. "Mas você nunca pensou?", "Alguma questão física te impediu?", "Por que não aproveita e congela uns óvulos antes de fazer 40?", "Pensa em adotar?", "Gosta de criança?".
São perguntas invasivas, talvez porque o tópico maternidade não aceite palpite, estando você dentro ou fora. Porém, as pessoas não resistem. Todas as mães que conheço já soltaram um: "quando você estiver no meu lugar, a gente conversa" para algum fulano sem experiência com noites em claro, mamadeiras e depressão pós-parto que tentou ensinar uma tática "infalível" anti-pirraça ou pró-brocólis.
Mas como disse, certa vez Regina Navarro Lins, não existem "as pessoas" ou "sociedade", como se isso fosse numa galáxia distante. As pessoas somos nós. Nesta semana inundada por homenagens, promoções de eletrodomésticos e brindes "ops, a senhora não é mãe, me desculpe", me deparei com três tipos de mãe que eu não seria.
Fiquei pensando a partir dos pequenos esbarrões que deve ser a coisa mais difícil do mundo. O tal equilíbrio é digno de virar atração principal do Cirque du Soleil. Mesmo assim, que fosse para render a reflexão, quis apresentar as três mães. Eu acho que elas podem encontrar um jeito afetuoso, sem perder a firmeza, de criar suas crianças. Eu honestamente espero que consigam.
Supermercado - A mãe preconceituosa
Eu estava diante da prateleira de biscoitos, lugar propício para a criançada pedir umas 15 marcas de uma só vez. Fui criança na época da inflação: numa semana dava para comprar o Nescau, na outra ele triplicava e era Xuc mesmo. Minha mãe sugeria bater as bolotas de achocolatado genérico no liquidificador (sem drama e com criatividade, a gente engole o Xuc).
Havia uma garotinha linda, de uns quatro anos, em pé no carrinho. A mãe super bem-cuidada e bem-vestida ria das gracinhas da filha. O semblante dela mudou quando a pequena soltou:
- Oxe, mãe, vamos levar este biscoito?
- Eu já te disse mil vezes para parar de falar "oxe"!
A menina ficou de cabeça baixa e a mulher saiu resmungando que não queria a filha falando como a empregada.
Isso me lembrou da Augusta, que trabalhou na minha casa de quando eu era um bebê até 11 anos de idade. Baiana arretada, me influenciou a falar "culé" e "mulé" que, naturalmente, foram pronunciadas como "colher"e "mulher" anos depois. Graças a ela, eu comia feijão com farinha em cima. E só não amassava pimenta na comida porque ardia. Minha baianidade, jamais repreendida, é lembrada sempre com um enorme carinho.
Shopping - A mãe sem noção
O garoto já havia colocado meia loja abaixo. Os vendedores se entreolhavam e alguns clientes também. Sabonetes espalhados, embalagens prestes a perderem o lacre só para ele cheirar um a um.
- Filhinho, por favor, pare. Mamãe fica desapontada com você desse jeito.
Ele balançou os ombros e continuou tocando o terror, até que virou um hidratante (caro) no chão. A criatura continuou no discurso de súdita e o reizinho causando estragos pelos quais ela, evidentemente, não pagou.
- Vamos para casa, filhinho. Lá, a gente vai pro cantinho do pensamento.
Me desculpem adeptas da Super Nanny, mas isso não funciona. Aliás, como eu li numa coluna da Rosely Sayão, até uma certa idade. Depois dos sete, ele já deve ter uma noção mais clara do que pode ou não pode. Corte radicalmente um benefício e o garoto não repete a vandalização. Nem é preciso gritar. Eu me lembro de ter sido impedida durante uma semana de ouvir meu LP do Balão Mágico porque sentava a mão na minha irmã caçula. Quando a punição terminou, demorou bem mais para eu puxar o cabelo dela de novo.
Banheiro - A mãe tirana
Algumas mães têm problema em convencer os filhos a tomar banho. Outras a tirá-los do chuveiro. Eu, que não fui uma criança fácil, adorava ir para a casa da minha avó tomar banho na banheira: "Vó deixa eu sair quando a minha pele ficar toda enrugada?". Ela deixava, mas com mãe não tem isso. Cheguei a ouvir argumentos lógicos do tipo: não se pode desperdiçar água. No fim, o que funcionou mesmo foi estabelecer um tempo limite. E quando eu crescesse e tivesse minha casa e pagasse minhas contas, poderia me demorar.
Avizinha já chegou gritando.
- Vai atrasar na escola! Você não tem jeito mesmo!
- Deixa mais um pouquinho?
- Sai desse chuveiro agora, senão apanha!
Gritos, berros e ameaças insuportáveis por uma questão trivial.
Sim, crianças tiram os pais do sério. Quando são birrentas então...haja meditação e sangue frio para conter. Mas o menino ao lado nem teve a chance de ameaçar o choro. Deve morrer de medo da mãe. A mãe é do tempo que bom mesmo era a "chinelada". Toda essa geração, ao que me conta, se lamenta por não ter tido mais diálogo e troca de abraços com os pais.
São perguntas invasivas, talvez porque o tópico maternidade não aceite palpite, estando você dentro ou fora. Porém, as pessoas não resistem. Todas as mães que conheço já soltaram um: "quando você estiver no meu lugar, a gente conversa" para algum fulano sem experiência com noites em claro, mamadeiras e depressão pós-parto que tentou ensinar uma tática "infalível" anti-pirraça ou pró-brocólis.
Mas como disse, certa vez Regina Navarro Lins, não existem "as pessoas" ou "sociedade", como se isso fosse numa galáxia distante. As pessoas somos nós. Nesta semana inundada por homenagens, promoções de eletrodomésticos e brindes "ops, a senhora não é mãe, me desculpe", me deparei com três tipos de mãe que eu não seria.
Fiquei pensando a partir dos pequenos esbarrões que deve ser a coisa mais difícil do mundo. O tal equilíbrio é digno de virar atração principal do Cirque du Soleil. Mesmo assim, que fosse para render a reflexão, quis apresentar as três mães. Eu acho que elas podem encontrar um jeito afetuoso, sem perder a firmeza, de criar suas crianças. Eu honestamente espero que consigam.
Supermercado - A mãe preconceituosa
Eu estava diante da prateleira de biscoitos, lugar propício para a criançada pedir umas 15 marcas de uma só vez. Fui criança na época da inflação: numa semana dava para comprar o Nescau, na outra ele triplicava e era Xuc mesmo. Minha mãe sugeria bater as bolotas de achocolatado genérico no liquidificador (sem drama e com criatividade, a gente engole o Xuc).
Havia uma garotinha linda, de uns quatro anos, em pé no carrinho. A mãe super bem-cuidada e bem-vestida ria das gracinhas da filha. O semblante dela mudou quando a pequena soltou:
- Oxe, mãe, vamos levar este biscoito?
- Eu já te disse mil vezes para parar de falar "oxe"!
A menina ficou de cabeça baixa e a mulher saiu resmungando que não queria a filha falando como a empregada.
Isso me lembrou da Augusta, que trabalhou na minha casa de quando eu era um bebê até 11 anos de idade. Baiana arretada, me influenciou a falar "culé" e "mulé" que, naturalmente, foram pronunciadas como "colher"e "mulher" anos depois. Graças a ela, eu comia feijão com farinha em cima. E só não amassava pimenta na comida porque ardia. Minha baianidade, jamais repreendida, é lembrada sempre com um enorme carinho.
Shopping - A mãe sem noção
O garoto já havia colocado meia loja abaixo. Os vendedores se entreolhavam e alguns clientes também. Sabonetes espalhados, embalagens prestes a perderem o lacre só para ele cheirar um a um.
- Filhinho, por favor, pare. Mamãe fica desapontada com você desse jeito.
Ele balançou os ombros e continuou tocando o terror, até que virou um hidratante (caro) no chão. A criatura continuou no discurso de súdita e o reizinho causando estragos pelos quais ela, evidentemente, não pagou.
- Vamos para casa, filhinho. Lá, a gente vai pro cantinho do pensamento.
Me desculpem adeptas da Super Nanny, mas isso não funciona. Aliás, como eu li numa coluna da Rosely Sayão, até uma certa idade. Depois dos sete, ele já deve ter uma noção mais clara do que pode ou não pode. Corte radicalmente um benefício e o garoto não repete a vandalização. Nem é preciso gritar. Eu me lembro de ter sido impedida durante uma semana de ouvir meu LP do Balão Mágico porque sentava a mão na minha irmã caçula. Quando a punição terminou, demorou bem mais para eu puxar o cabelo dela de novo.
Banheiro - A mãe tirana
Algumas mães têm problema em convencer os filhos a tomar banho. Outras a tirá-los do chuveiro. Eu, que não fui uma criança fácil, adorava ir para a casa da minha avó tomar banho na banheira: "Vó deixa eu sair quando a minha pele ficar toda enrugada?". Ela deixava, mas com mãe não tem isso. Cheguei a ouvir argumentos lógicos do tipo: não se pode desperdiçar água. No fim, o que funcionou mesmo foi estabelecer um tempo limite. E quando eu crescesse e tivesse minha casa e pagasse minhas contas, poderia me demorar.
Avizinha já chegou gritando.
- Vai atrasar na escola! Você não tem jeito mesmo!
- Deixa mais um pouquinho?
- Sai desse chuveiro agora, senão apanha!
Gritos, berros e ameaças insuportáveis por uma questão trivial.
Sim, crianças tiram os pais do sério. Quando são birrentas então...haja meditação e sangue frio para conter. Mas o menino ao lado nem teve a chance de ameaçar o choro. Deve morrer de medo da mãe. A mãe é do tempo que bom mesmo era a "chinelada". Toda essa geração, ao que me conta, se lamenta por não ter tido mais diálogo e troca de abraços com os pais.
Como dizem os analistas, seja qual for o tipo de mãe (pai) que ser for, os seus filhos vão te culpar por tudo, de qualquer jeito.
ResponderExcluirNa minha opinião, a experiência da maternidade (paternidade) serve essencialmente para podermos perdoar nossos pais... Aqueles que já o tiverem feito, estão automaticamente dispensados desse serviço.
Abraço forte...
eu perdoei os meus antes de ser mãe. não deve ser nada, mas nada fácilmesmo ser mãe ou pai...
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