Balanço mas não caio (uma quase retrospectiva)
Se há algo unânime entre religiões é a crença de que o sofrimento nos torna mais fortes. Minha querida avó Celinha dizia que Deus dá os maiores obstáculos para os mais fortes e nos vários textos budistas que passei a ler esse ano ficou claro que segurar barras pesadas tornas as pessoas mais humildes. “Então é natal” e parece que ninguém sabe a que veio Jesus. Trânsito caótico, grosseria, filas intermináveis, estresse, compras frenéticas, luzes, caixinhas de natal nos sinais e nenhum vestígio do tal amor ao próximo. Ele surgirá amanhã. Na ceia e troca de presentes para boa parte das pessoas.
Sempre amei o natal. Como toda criança, contava os dias para que chegasse a noite feliz. Ela não era feliz apenas pelos presentes ou pela comida deliciosa e farta. Era especial porque eu tinha meus avós e participava dos preparativos com entusiasmo. Montávamos a árvore não no pinheiro, mas na desgraça pelada (uma planta da minha avó cujo nome científico desconheço). Havia o presépio onde o menino Jesus aparecia como mágica à meia-noite do dia 24. Meu avô Azevedo por vezes contemplava sozinho as luzinhas, tão criança como todos nós. Meus pais e tios nunca resolviam o impasse da ceia e vovó ponderava que um franguinho com maionese estaria de ótimo tamanho.
Na minha memória não havia o caos, o motorista que quase me atropelou quando o sinal estava aberto para mim, a indiferença da vendedora quando perguntei o preço de uma echarpe ou a impaciência com o grupo de adolescentes que ocupava a mesa do café sem consumir – esbanjando suas espinhas, sonhos e despreocupações.
Eu vivi 31 anos amando e planejando o natal. De maneiras diferentes, claro: alguns tons reluzentes ficaram opacos depois que meus avós se foram. No entanto, prometi inconscientemente a eles que estaria mais para ajudante de Papai Noel do que para Grinch.
Em 2009 quebrei minha promessa. Não me entusiasmei nenhum pouco, sequer montei árvore ou pendurei guirlanda. Quase me alistei no exército dos que detestam a data e acham-na hipócrita. Digo quase porque não cheguei a detestar. Pior: fui/ estou indiferente. Foram tantas porradas que, embora tenha levantado, sinto-me zonza.
Difícil imaginar festa quando minha melhor amiga segue em coma há mais de um mês no hospital. Desde que nos reconhecemos (“a gente não faz amigos, reconhece-os”) dividimos a data. Sendo a primeira vez que não brindamos, só me resta ir ao hospital e dizer coisas que eu gostaria que ela ouvisse.
Fora isso, o resto foi igualmente cinza. Caminho de pedras na vida profissional e outros obstáculos na vida pessoal. Ainda bem que conheci pessoas adoráveis, entretanto me decepcionei com outras de modo inimaginável. “That´s life”, cantou Sinatra. Uma hora a gente está por baixo e outra no topo. Bem, eu achei que "o ano passado passou tão apertado" e foi só reclamar que o destino me provou por A mais B que “não há nada que seja ruim que não possa piorar”.
Sigo tentando me equilibrar. Voltei à terapia, às pílulas da felicidade. Troquei a academia pelo pilates e decidi parar de fazer planos que não irei executar. Estou me forçando a colocar em prática certas ideias. Porque cultivei por muito tempo boas ideias que não foram adiante. Organizei minha casa e estou exercitando a serenidade que não tive até o momento. Quero fazer mil coisas que não fiz porque soube reconhecer na tristeza um exemplo de vida que não é Jesus, Buda ou Gandhi. Minha amiga Mariana sempre quis viver. Por viver entenda-se viajar, dançar, paquerar, beber, curtir e sobretudo ter generosidade. Tudo que atravanca meu caminho é muito pouco para eu deixar de aproveitar esses prazeres. Mais ainda: de lutar.
2009 não deixará a menor saudade quando chegar ao fim. Ironicamente, irei me lembrar bastante dele. Mesmo que possa parecer que não haja evidência de otimismo nesse texto, sugiro aos que tiveram paciência de chegar até aqui que leiam nas entrelinhas, no título escolhido a dedo.
No mais, desejo felicidade maior que o mundo para os que me são queridos. Estou perto de esperar o mesmo aos que não o são.
Sempre amei o natal. Como toda criança, contava os dias para que chegasse a noite feliz. Ela não era feliz apenas pelos presentes ou pela comida deliciosa e farta. Era especial porque eu tinha meus avós e participava dos preparativos com entusiasmo. Montávamos a árvore não no pinheiro, mas na desgraça pelada (uma planta da minha avó cujo nome científico desconheço). Havia o presépio onde o menino Jesus aparecia como mágica à meia-noite do dia 24. Meu avô Azevedo por vezes contemplava sozinho as luzinhas, tão criança como todos nós. Meus pais e tios nunca resolviam o impasse da ceia e vovó ponderava que um franguinho com maionese estaria de ótimo tamanho.
Na minha memória não havia o caos, o motorista que quase me atropelou quando o sinal estava aberto para mim, a indiferença da vendedora quando perguntei o preço de uma echarpe ou a impaciência com o grupo de adolescentes que ocupava a mesa do café sem consumir – esbanjando suas espinhas, sonhos e despreocupações.
Eu vivi 31 anos amando e planejando o natal. De maneiras diferentes, claro: alguns tons reluzentes ficaram opacos depois que meus avós se foram. No entanto, prometi inconscientemente a eles que estaria mais para ajudante de Papai Noel do que para Grinch.
Em 2009 quebrei minha promessa. Não me entusiasmei nenhum pouco, sequer montei árvore ou pendurei guirlanda. Quase me alistei no exército dos que detestam a data e acham-na hipócrita. Digo quase porque não cheguei a detestar. Pior: fui/ estou indiferente. Foram tantas porradas que, embora tenha levantado, sinto-me zonza.
Difícil imaginar festa quando minha melhor amiga segue em coma há mais de um mês no hospital. Desde que nos reconhecemos (“a gente não faz amigos, reconhece-os”) dividimos a data. Sendo a primeira vez que não brindamos, só me resta ir ao hospital e dizer coisas que eu gostaria que ela ouvisse.
Fora isso, o resto foi igualmente cinza. Caminho de pedras na vida profissional e outros obstáculos na vida pessoal. Ainda bem que conheci pessoas adoráveis, entretanto me decepcionei com outras de modo inimaginável. “That´s life”, cantou Sinatra. Uma hora a gente está por baixo e outra no topo. Bem, eu achei que "o ano passado passou tão apertado" e foi só reclamar que o destino me provou por A mais B que “não há nada que seja ruim que não possa piorar”.
Sigo tentando me equilibrar. Voltei à terapia, às pílulas da felicidade. Troquei a academia pelo pilates e decidi parar de fazer planos que não irei executar. Estou me forçando a colocar em prática certas ideias. Porque cultivei por muito tempo boas ideias que não foram adiante. Organizei minha casa e estou exercitando a serenidade que não tive até o momento. Quero fazer mil coisas que não fiz porque soube reconhecer na tristeza um exemplo de vida que não é Jesus, Buda ou Gandhi. Minha amiga Mariana sempre quis viver. Por viver entenda-se viajar, dançar, paquerar, beber, curtir e sobretudo ter generosidade. Tudo que atravanca meu caminho é muito pouco para eu deixar de aproveitar esses prazeres. Mais ainda: de lutar.
2009 não deixará a menor saudade quando chegar ao fim. Ironicamente, irei me lembrar bastante dele. Mesmo que possa parecer que não haja evidência de otimismo nesse texto, sugiro aos que tiveram paciência de chegar até aqui que leiam nas entrelinhas, no título escolhido a dedo.
No mais, desejo felicidade maior que o mundo para os que me são queridos. Estou perto de esperar o mesmo aos que não o são.
acabei de ler, aqui chorando e aprendendo com vc. te amo, bj, manu.
ResponderExcluirOh Gata, seguramos uma barra e tanto! Merecemos coisa boa pela frente! Beijos
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