Questão de berço?

Há algum tempo, quando eu ainda trabalhava na redação do JT, uma assessora de imprensa elogiou minha educação ao telefone e disse que no meu meio isso era algo difícil de se encontrar. Fiquei sem entender na hora, mas hoje percebo o sufoco que ela passa quando tem que ligar para algum repórter/editor seja para vender uma pauta ou atender a uma solicitação do mesmo.

Tenho o cuidado extremo de ligar em horários que não esbarrem com o fechamento (eu sei que atrapalha mesmo) e, por sorte, alguns grandes amigos que trabalham nos jornais, rádios e tvs que me recebem com cordialidade e senso de parceria. Entretanto - sinto, aliás, que é estatístico - existe parte de uma geração na faixa dos 40-50 que ainda deve enxergar o assessor como o inimigo ou alguém que traiu os "pilares sagrados" do jornalismo.

Por mais que digam por aí em congressos, seminários, no Observatório da Imprensa, na Revista Imprensa, no sindicato e na mesa de bar que essa "desconfiança" (para ser mais amena) tenha caído por terra, fico em dúvida diante do contato sistemático com (felizmente) poucos jornalistas que transparecem no tom de voz (e em alguns suspiros e bufadas) a sensação de que estão fazendo o grande favor da minha vida profissional ao me escutar por menos de dois minutos.

Eu não tenho a ingenuidade (e o sangue frio) de imaginar que talvez aquele cara tenha tido um péssimo dia. Nada, além da falta de educação, justifica a ausência de expressões como "por favor" e "obrigado" nas frases de quem se diz profissional em alguma área. O destino, entretanto, é irônico. No caso do jornalismo, já vi redações inteiras sendo desfeitas e presencio o constante sucateamento dessa estrutura nos últimos anos. É curioso - e até mesmo triste - ver tanto orgulho tendo que ser engolido a seco quando alguns papéis se invertem.

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