Jornalismo "sério"
Antes mesmo de me formar em jornalismo, fui obrigada a conviver com as teorias conspiratórias contra a editoria de cultura. Na época da faculdade, na maioria das vezes, cumpria a lição sem questionar demais. Meu único objetivo era quitar logo o consórcio do diploma para me ver livre do discurso vazio e preconceituoso dos meus "mestres" que tinham muita bagagem num só veículo. Sim, eu tinha aula de Rádio Itatiaia, TV Alterosa e Jornal Estado de Minas. Os professores, que por esses veículos passavam ou ainda se mantinham, defendiam com unhas e dentes que o mártir da profissão era aquele que enfrentava sol, chuva, frio e fome em busca de um furo. A futura profissão não poderia nunca ter um pingo de requinte. Do contrário era desperdício de tempo, dinheiro e massa encefálica. Trocando em miúdos: só se poderia fazer uma reportagem digna de nota na favela, na delegacia ou numa sala de imprensa tensa, com o intuito de desafiar uma autoridade política. Depois do expediente, um boteco copo sujo para teorizar e, principalmente reclamar da vida (coisa que TODO jornalista de QUALQUER EDITORIA ama fazer).
Aboli boa parte dos clichês do jornalismo desde que eu era uma caloura, aos 17 anos de idade. Nunca fumei, não acho graça em máquina de escrever (vendi a que meu pai me deu sem nunca ter usado) e os 25 copinhos de café por dia me acompanharam por alguns meses no meu último emprego. Apenas porque foi ficando insuportável a cada dia e eu precisava de uma dose de ânimo (atualmente, eu prefiro chá verde). De modo que a predileção por fazer reportagens de música, cinema, literatura, teatro, artes plásticas, dança e moda nunca se abalou por eu ser acusada de não querer fazer "o verdadeiro jornalismo", "o jornalismo sério", "a escola de jornalismo" e tantos outros sinônimos para editorias de cidades/ polícia e política/ economia.
Não tenho "ídolos" entre colegas. Posso no máximo admirar gente como Zuenir Ventura ou Marília Gabriela. Nunca quis ser um deles. Nem por um dia. Não quero ganhar prêmio de reportagem. Não quero trabalhar em "Olimpos" da Comunicação. Se a proposta vier, eu penso com carinho. Como outra qualquer.
Voltando à balela, imaginei que ainda a escutaria por muito tempo depois de me formar. Elas sempre saem certeiras da boca de quem está no mesmo lugar há décadas. Dos focas que passam por uma espécie de lobotomia e acreditam piamente que cobrir buraco na rua dignifica o profissional. Não é uma mentira completa. Engolir sapo, em qualquer que seja a pauta é fundamental para se preparar melhor da próxima vez. Eu já passei por milhares saias justas com entrevistado. Fiquei horas num morro dominado pelo tráfico de drogas. Também perguntei coisas que o entrevistado não queria ouvir e que, pressionado, não teve saída. Tudo isso fazendo o que sempre gostei de fazer: cultura, comportamento e moda.
Para ter bagagem, malícia, jogo de cintura e conteúdo eu não preciso, nem nunca precisei de uma pauta de três linhas que olha para mim e diz: "se vira". Me viro sem pauta alguma porque quero ir além dela. Se eu faço o jornalismo que eu queria fazer? Não. Isso é utópico. Não tenho mais idade para editar fanzine e não posso me dar ao luxo de viver de luz. O anunciante paga meu salário. O governo já pagou meu salário. Minhas idéias menos convencionais pagam alguns supérfluos por meio de frilas, que tem a faca do editor no processo final. Tudo precisa ser embalado para o gosto do leitor, ouvinte e telespectador: um debate político, uma rua que ganhou tratamento de esgoto e o show do Elton John no Brasil.
Quando alguém acha que meus plantões com pautas que nem sempre têm a ver comigo vão engrossar meu caldo, eu concordo para evitar polêmica. Nessas horas eu lembro das aulas de química e física do Colégio Piedade. Aquilo era importante, mas eu não conseguia me concentrar o tempo todo porque não usaria na prática e nem no meu futuro as fórmulas e as leis. Eu ia invariavelmente para a última página do caderno e escrevia nos momentos em que poderia conversar, dormir ou enrolar. Tenho certeza de que eu não estava deixando de aprender.
Antes mesmo de me formar em jornalismo, fui obrigada a conviver com as teorias conspiratórias contra a editoria de cultura. Na época da faculdade, na maioria das vezes, cumpria a lição sem questionar demais. Meu único objetivo era quitar logo o consórcio do diploma para me ver livre do discurso vazio e preconceituoso dos meus "mestres" que tinham muita bagagem num só veículo. Sim, eu tinha aula de Rádio Itatiaia, TV Alterosa e Jornal Estado de Minas. Os professores, que por esses veículos passavam ou ainda se mantinham, defendiam com unhas e dentes que o mártir da profissão era aquele que enfrentava sol, chuva, frio e fome em busca de um furo. A futura profissão não poderia nunca ter um pingo de requinte. Do contrário era desperdício de tempo, dinheiro e massa encefálica. Trocando em miúdos: só se poderia fazer uma reportagem digna de nota na favela, na delegacia ou numa sala de imprensa tensa, com o intuito de desafiar uma autoridade política. Depois do expediente, um boteco copo sujo para teorizar e, principalmente reclamar da vida (coisa que TODO jornalista de QUALQUER EDITORIA ama fazer).
Aboli boa parte dos clichês do jornalismo desde que eu era uma caloura, aos 17 anos de idade. Nunca fumei, não acho graça em máquina de escrever (vendi a que meu pai me deu sem nunca ter usado) e os 25 copinhos de café por dia me acompanharam por alguns meses no meu último emprego. Apenas porque foi ficando insuportável a cada dia e eu precisava de uma dose de ânimo (atualmente, eu prefiro chá verde). De modo que a predileção por fazer reportagens de música, cinema, literatura, teatro, artes plásticas, dança e moda nunca se abalou por eu ser acusada de não querer fazer "o verdadeiro jornalismo", "o jornalismo sério", "a escola de jornalismo" e tantos outros sinônimos para editorias de cidades/ polícia e política/ economia.
Não tenho "ídolos" entre colegas. Posso no máximo admirar gente como Zuenir Ventura ou Marília Gabriela. Nunca quis ser um deles. Nem por um dia. Não quero ganhar prêmio de reportagem. Não quero trabalhar em "Olimpos" da Comunicação. Se a proposta vier, eu penso com carinho. Como outra qualquer.
Voltando à balela, imaginei que ainda a escutaria por muito tempo depois de me formar. Elas sempre saem certeiras da boca de quem está no mesmo lugar há décadas. Dos focas que passam por uma espécie de lobotomia e acreditam piamente que cobrir buraco na rua dignifica o profissional. Não é uma mentira completa. Engolir sapo, em qualquer que seja a pauta é fundamental para se preparar melhor da próxima vez. Eu já passei por milhares saias justas com entrevistado. Fiquei horas num morro dominado pelo tráfico de drogas. Também perguntei coisas que o entrevistado não queria ouvir e que, pressionado, não teve saída. Tudo isso fazendo o que sempre gostei de fazer: cultura, comportamento e moda.
Para ter bagagem, malícia, jogo de cintura e conteúdo eu não preciso, nem nunca precisei de uma pauta de três linhas que olha para mim e diz: "se vira". Me viro sem pauta alguma porque quero ir além dela. Se eu faço o jornalismo que eu queria fazer? Não. Isso é utópico. Não tenho mais idade para editar fanzine e não posso me dar ao luxo de viver de luz. O anunciante paga meu salário. O governo já pagou meu salário. Minhas idéias menos convencionais pagam alguns supérfluos por meio de frilas, que tem a faca do editor no processo final. Tudo precisa ser embalado para o gosto do leitor, ouvinte e telespectador: um debate político, uma rua que ganhou tratamento de esgoto e o show do Elton John no Brasil.
Quando alguém acha que meus plantões com pautas que nem sempre têm a ver comigo vão engrossar meu caldo, eu concordo para evitar polêmica. Nessas horas eu lembro das aulas de química e física do Colégio Piedade. Aquilo era importante, mas eu não conseguia me concentrar o tempo todo porque não usaria na prática e nem no meu futuro as fórmulas e as leis. Eu ia invariavelmente para a última página do caderno e escrevia nos momentos em que poderia conversar, dormir ou enrolar. Tenho certeza de que eu não estava deixando de aprender.
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