Todo sábado

Certa vez perguntei se estariam lá no feriado. Depois, quis saber se durante o mês de janeiro, quando o movimento cai, tirariam umas férias.
 - Não, estamos aqui todo sábado.
A tempestade também chegou naquele dia e os dois se abrigaram debaixo da frágil lona azul.
Era preciso separar o buquê colorido do Seu Osvaldo.
Tinham prometido novas ervas para a horta da Flávia e do Ricardo, que acabaram de se mudar para o bairro.
Esperavam por Dona Sílvia, a colecionadora violetas e flores de tonalidades roxas e lilases.
Explicavam sobre a delicadeza das orquídeas para Cláudia.
Ouviam Dona Margarida falar sobre o filho que mora longe. 
- Na Califórnia tem feiras de rua muito lindas, ele me contou por skype.
Maria Rita interrompeu o papo para saber por que não encontrava samambaia.
 - Chuva demais, sol demais. Tem que ter equilíbrio, né?
Rogério havia rondado a banca duas vezes. Não sabia se astromélias agradariam.
Cristina fotografou as suculentas e postou no Instagram, mas não levou nada.
 - Além da clorofila dos gatinhos, vai levar o quê mais?
No meu trivial sempre existia lugar para variações: buquê para receber uma amiga, salsinha para usar na salada e até mesmo um vaso de kalanchoe porque reguei a minha mais do que devia. 
Olhava para os dois e aqueles semblantes me davam uma paz imensa.
Eu era rápida para escolher cebolas, batatas e bananas.
Quando chegava na esquina à esquerda, onde todo sábado eles estão, a demora era inevitável.
Flores e plantas devem ser admirados, bem escolhidos. Embora naquela banca não houvesse outra opção. 
Cada vaso, cada arranjo era embrulhado com capricho e laços coloridos. Mesmo os que não fossem para presente, ficavam envoltos em jornais cujas dobras pareciam origamis. 
Escolhi mais uma planta para ocupar o cachepô vazio da minha janela com vista para telhados.
Ganhei uma rosa, a clorofila de quatro reais pelo preço de três e o sorriso.
 - Até sábado. 



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