"As formigas nunca morrem de fome"
Não adianta sair da redação, festejar o fato de que não se tem (pelo menos com data marcada) plantão. Não adianta mudar de cidade com a ilusão de que se terá mais tranquilidade. As pessoas não mudam. Não mudam sua forma de encarar o trabalho e a responsabilidade, pois têm que pagar a conta, limpar o nome e sonhar com as férias sempre adiadas.
Sim, eu tenho inveja de quem não é formiga na vida. Gente que faz o próprio horário, que não se preocupa com míseros reais no banco, que viaja para onde e quando quer, que não perde o sono, muito menos a festa de um grande amigo por conta do ofício porque ele é um meio e não o fim. Ao contrário da fábula, a cigarra da vida real não fica sem as provisões porque preferiu tocar violão. O conto da carochinha, como tantos outros, legitima conceitos tortos de bem e mal, príncipe encantado e finais felizes.
Conheço pessoas de carne e osso que não são ricas, trabalham bem menos que eu e divertem-se infinitamente mais. Podem ganhar super bem, a mesma coisa e até pouco. A grande diferença que sabem se planejar. Não entram na fila como idiotas que carregam fardos que o corpo não suporta sem questionar se isso a levaria a algum lugar. "As formigas nunca morrem de fome", como na música do Virna Lisi, contudo não aproveitam a vida intensamente porque estão sempre tensas, querendo fazer melhor.
Quando acham que estão trabalhando demais, as formigas não dão tempo. As formigas não se permitem jamais a isso! O melhor (e normalmente no estágio agudo) é arrumar um terapeuta, fazer uma acupuntura, tomar uma tarja preta enquanto acorda cedo, entra na fila, carrega o peso, volta para casa, dorme, acorda e o cliclo recomeça.
Ser formiga na vida é constatar que, aos poucos, perdem-se os prazeres bobos. Como aquele antigo de enrolar a tarde inteira, assistir a sessão da tarde e fazer o dever de casa correndo no dia seguinte cedinho, antes da aula começar. Perde-se o prazer de fofocar por fofocar durante horas com bons amigos em plena semana cheia porque beber para "relaxar" ou a tentar um sono de verdade podem virar prioridades no período fora do expediente. Então vem a culpa de não ter tempo para os amigos, a cobrança de não ter tempo para os amigos e tudo vira obrigação. Obrigação como se ler um livro para não sentir-se alienado, ir a um show concorrido para não ter a sensação de estar pouco antenado. E pensar que isso tudo era tão fácil, tão delicioso...
E a vida da formiga segue se não mesmíssima, com poucas variações (e a ilusão de mais conforto), da vida que foi de seu avô que levantava cedo, fazia café, acordava as netas para a escola, passava o dia todo no trabalho e voltava tarde. Dormia vendo o Jornal Nacional quando podia estar curtindo a aposentadoria como tantos outros velhinhos que viajavam de excursão, faziam aula de dança ou curso de jardinagem.
Sim, eu tenho inveja de quem não é formiga na vida. Gente que faz o próprio horário, que não se preocupa com míseros reais no banco, que viaja para onde e quando quer, que não perde o sono, muito menos a festa de um grande amigo por conta do ofício porque ele é um meio e não o fim. Ao contrário da fábula, a cigarra da vida real não fica sem as provisões porque preferiu tocar violão. O conto da carochinha, como tantos outros, legitima conceitos tortos de bem e mal, príncipe encantado e finais felizes.
Conheço pessoas de carne e osso que não são ricas, trabalham bem menos que eu e divertem-se infinitamente mais. Podem ganhar super bem, a mesma coisa e até pouco. A grande diferença que sabem se planejar. Não entram na fila como idiotas que carregam fardos que o corpo não suporta sem questionar se isso a levaria a algum lugar. "As formigas nunca morrem de fome", como na música do Virna Lisi, contudo não aproveitam a vida intensamente porque estão sempre tensas, querendo fazer melhor.
Quando acham que estão trabalhando demais, as formigas não dão tempo. As formigas não se permitem jamais a isso! O melhor (e normalmente no estágio agudo) é arrumar um terapeuta, fazer uma acupuntura, tomar uma tarja preta enquanto acorda cedo, entra na fila, carrega o peso, volta para casa, dorme, acorda e o cliclo recomeça.
Ser formiga na vida é constatar que, aos poucos, perdem-se os prazeres bobos. Como aquele antigo de enrolar a tarde inteira, assistir a sessão da tarde e fazer o dever de casa correndo no dia seguinte cedinho, antes da aula começar. Perde-se o prazer de fofocar por fofocar durante horas com bons amigos em plena semana cheia porque beber para "relaxar" ou a tentar um sono de verdade podem virar prioridades no período fora do expediente. Então vem a culpa de não ter tempo para os amigos, a cobrança de não ter tempo para os amigos e tudo vira obrigação. Obrigação como se ler um livro para não sentir-se alienado, ir a um show concorrido para não ter a sensação de estar pouco antenado. E pensar que isso tudo era tão fácil, tão delicioso...
E a vida da formiga segue se não mesmíssima, com poucas variações (e a ilusão de mais conforto), da vida que foi de seu avô que levantava cedo, fazia café, acordava as netas para a escola, passava o dia todo no trabalho e voltava tarde. Dormia vendo o Jornal Nacional quando podia estar curtindo a aposentadoria como tantos outros velhinhos que viajavam de excursão, faziam aula de dança ou curso de jardinagem.
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